Uma semana após a agência AP expor os carros brasileiros ao ridículo (releia aqui), é a vez de um instituto privado americano falar de segurança para, desta vez, colocar os SUVs compactos mais vendidos dos Estados Unidos em uma sinuca de bico. O IIHS (Insurance Institute for Highway Safety, entidade autônoma de segurança automotiva e viária criada pelas seguradoras americanas em oposição ao governamental NHTSA) divulgou rodada de testes de colisão com seu novo padrão “small overlap” (choque  de quina contra obstáculo pequeno a 64 km/h) com 13 SUVs compactos e médios-compactos vendidos nos Estados Unidos. O resultado é preocupante: 11 modelos receberam notas ruins, mesmo estando recheados de airbags e estruturas de segurança.

Estes SUVs/Crossovers foram escolhidos por serem a bola da vez do mercado americano, a exemplo dos modelos avaliados em dezembro de 2012 (também com resultados assustadores, com só dois aprovados em 18): consumidores têm trocado sedãs grandes (médios na concepção americana, numa lista que inclui best sellers como Honda Accord, Toyota Camry e Ford Fusion) por utilitários esportivos de menor porte. O objetivo é evitar uma conta maior no posto de combustível e, de quebra, ganhar mais espaço para bagagem e a sensação (às vezes falsa) de que a cabine mais alta protege mais. Não à toa, fabricantes como Toyota, GM e Volkswagen apostam forte neste nicho, enquanto Honda (quem tem o CR-V, mas prepara um modelo menor) e Mercedes-Benz (com seu novo GLA), entre outras, querem entrar.

Assim, o japonês Subaru Forester 2014 foi o único modelo da lista de 13 SUVs a conseguir o índice “good” (ou bom, considerado grau máximo pelo instituto) nos sete quesitos avaliados — geral, estrutura e restrição ao deslocamento dos ocupantes (qualidade de cintos, apoios de cabeça e airbags) para o carro; ferimentos de cabeça e pescoço, peito, quadril e coxas, pernas e pés para ocupantes. Outro resultado aceitável, literalmente (“acceptable” no índice americano), foi o do também japonês Mitsubishi Outlander Sport, que obteve o segundo melhor grau nas medições externas, ao passo em que obteve a nota máxima nos quesitos de proteção a ocupantes.

Em ambos os casos, a receita de sucesso foi mesclar áreas frontais mais resistentes a impactos de quina (que atingem 25% da dianteira, sobretudo na porção mais lateral) e cabines mais bem estruturadas. Tudo isso impede que coluna de direção e painéis frontais e de portas se movam — o que torna os airbags inúteis –, ao mesmo tempo em que evita que peças como rodas, eixos, conjunto de suspensão e componentes presentes do habitáculo do motor penetrem a cabine.

Pelo resultado, os modelos da Subaru e da Mitsubishi receberam o selo “Top Safety Pick Plus”, distinção máxima concedida pela entidade. No Brasil, apenas a geração anterior do Forester é vendida — apresentado no Salão do Automóvel de São Paulo, em outubro passado, o Forester 2014 promete desembarcar por aqui ainda este ano. O Outlander Sport é importado do Japão e emplacado no Brasil com o nome de ASX.

O BOM E O MAUReproduçãoNolan, do IIHS, aponta a estrutura frontal estável do Forester 2014, que impede o movimento de coluna e painel em direção aos ocupantes. No caso do Nissan Rogue, o deslocamento excessivo anula a ação de airbags e aumenta o risco do motorista ter as pernas esmagadas.Reprodução

POLÊMICA NO AR
Embora tenham boas estruturas de segurança e apresentem cabines recheadas por airbags frontais, laterais e até de cortina — o que garantiria a nota máxima em qualquer teste padrão de segurança — os outros 11 SUVs foram avaliados como “poor” (fraco) ou marginal” (regular) em pelo menos um dos quesitos do teste da IIHS.

A lista completa destes “reprovados” tem sete modelos vendidos também no Brasil: BMW X1, Honda CR-V, Volkswagen Tiguan, Hyundai Tucson (ix35 aqui), Kia Sportage, Jeep Wrangler e Jeep Patriot (conhecido como Cherokee por aqui). Outros dois podem chegar em breve: Ford Escape (modelo chamado de Kuga na Argentina e na Europa) e Buick Encore (Opel Mokka na Europa e Chevrolet Trax em mercados atendidos pela marca da gravatinha dourada). Completam a escalação Nissan Rogue (primo distante do europeu Qashqai e do aventureiro X-Trail) e Mazda CX-5, sem qualquer plano de venda por aqui.

Um modelo não foi avaliado a pedido da fabricante: trata-se do novo Toyota RAV4, recém-lançado no Brasil. A marca japonesa, maior montadora do mundo atualmente, pediu mais tempo para adequar a segurança de seu crossover e foi atendida. No teste de dezembro, os carros da marca (Camry e Prius V) passaram vexame (releia aqui).

+ Veja o resultado completo do crash test (em inglês) clicando aqui

Segundo Joe Nolan, vice-presidente da área de pesquisa de veículos do IIHS, o caso do Nissan Rogue (índice regular) pode ser considerado “desastroso”, uma vez que estruturas da coluna de direção e do painel se movimentaram tanto com a força do impacto que quase encostaram no banco do motorista. Nesta situação, o condutor teria sofrido lesões graves e até amputações de pernas e braços.

Pior ainda foi o resultado do americano Jeep Patriot (Cherokee), com índice fraco: a coluna de direção entortou a ponto de transformar o airbag frontal em algo inútil, permitindo que a cabeça do boneco de testes “voe” livremente entre o painel frontal e a porta. Além disso, o airbag de cortina sequer foi disparado.

RÍGIDO DEMAIS
O teste de choque contra obstáculo pequeno consiste em jogar um carro a 64 km/h (40 mph) de frente contra uma mureta de forma que apenas a quina (25% da frente) seja atingida. Esta situação simula a batida contra postes, árvores ou de situações em que o motorista viu a traseira de um carro ou caminhão, mas não conseguiu desviar totalmente. Nestes casos, aponta o IIHS, o impacto é responsável por cerca de 25% das mortes e ferimentos graves das vítimas de acidentes nos Estados Unidos.

Segundo a indústria, porém, o método é excessivamente rígido, destoando dos critérios de segurança adotados por governos e instituições no restante do mundo. O bom resultado de Subaru e Mitsubishi, no entanto, mostra que o teste é plausível.