A capital do Maranhão ganhou as manchetes nas últimas semanas depois de uma onda de violência nos presídios do estado. O assunto foi tema de matéria no Jornal Nacional, edição de quarta-feira, 15. Presos foram mortos por companheiros de cela. De dentro da penitenciária de Pedrinhas, partiram ordens para que ônibus fossem incendiados. Uma garota de seis anos morreu queimada.

Uma semana depois, a governadora Roseana Sarney, do PMDB, se pronunciou sobre os ataques. A primeira entrevista da governadora foi depois uma reunião com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Ela associou o aumento da violência, ao crescimento econômico do estado.

“É um estado que está se desenvolvendo, um estado que está crescendo. E um dos problemas que está piorando a segurança é que o estado está mais rico, mais populoso também”, disse Roseana Sarney, PMDB, governadora do Maranhão.

O crescimento do Maranhão mencionado pela governadora, e a qualidade de vida da população do estado, foram assuntos da reportagem de Tiago Eltz.

De fato, é verdade: o Maranhão ficou mais rico. De acordo com os últimos números do IBGE, o PIB do estado cresceu 15,3% entre 2010 e 2011. Bem acima do crescimento do Brasil no mesmo período, que foi de 2,7%. O problema é que esse crescimento não se traduziu em melhoria de vida para os moradores. O Maranhão é também um dos piores nos índices sociais do país.

São Luís é uma cidade turística, com muitas praias. O palácio do governo, um prédio imponente, fica à beira-mar. De lá se tem uma visão privilegiada das desigualdades da cidade.

Proporcionalmente à população, em nenhum estado do Brasil morrem mais crianças do que no Maranhão. A média é quase o dobro da nacional. E quem vive lá, vive menos. O Maranhão é o único estado onde a expectativa de vida não chega aos 70 anos. A média brasileira é de quase 75 anos.

É só chegar às áreas mais pobres para entender o porquê. “Estou muito tempo sem água aqui. Nós estamos nos aventurando para ver se a gente consegue alguma coisa. Até vir uma limpa. Agora está fedendo”, declara Uéldon dos Santos, desempregado.

Lá, metade da população não tem água tratada em casa. Quase 90% não tem esgoto. “Meu filho até pegou problema de rim porque a água aqui é cheia de infecção”, conta Josenira Pereira, dona de casa.

Os contrastes estão por todo lado. Em um local o progresso chegou com a construção de uma avenida e mudou a vida dos moradores, mas não do jeito que eles queriam.

Em uma área que alagava todos os dias com a maré, a construção da avenida criou uma espécie de represa. Agora a água não chega e limpa a região, que não tem nenhum tipo de saneamento. Com isso, todo esgoto, todo o lixo acabam parados debaixo das casas.

Para o especialista Marco Antônio Carvalho Teixeira, os números dão um recado claro: “O que isso significa? Significa inclusive que se há riqueza no estado. Essa riqueza está concentrada nas mãos de poucos. Indica que um conjunto de questões ligadas a políticas públicas, que deveriam estar sendo oferecidas para os cidadãos – que vai desde atendimento médico, atendimento em hospital, a infraestrutura, saneamento – estão falhando”, afirma Marco Antônio Carvalho Teixeira, cientista político da FGV.

As desigualdades no estado se refletem também nas estatísticas sobre segurança. O Maranhão tem a pior relação de policiais militares por habitantes. Tem um PM para cada 916 moradores. São Paulo tem um PM para cada 462, e o Rio um para cada 371 habitantes.

A governadora Roseana Sarney foi insistentemente procurada pra falar sobre o quadro que essa reportagem apresenta, mas preferiu que o secretário de desenvolvimento social falasse.
O secretário Fernando Fialho diz que as políticas sociais já apresentam resultados, que começam a ser sentidos pela população.

“A melhoria das condições sociais no Brasil tem sido um desafio que tem sido enfrentado de frente por todas as esferas do governo. A redução da extrema pobreza, vale salientar, no Maranhão, nesses últimos anos, nós tivemos um redução captada pela PNAD, agora de 2012, de 22% para 12% na extrema pobreza do Maranhão” Fernando Antônio Brito Fialho, secretário de Desenvolvimento Social do Maranhão.

De acordo com o secretário, por causa da lei de responsabilidade fiscal, o estado teve que sanar as dívidas para depois começar a investir, o que aconteceu a partir de 2012. Ele destacou a construção de estradas ligando o interior do estado, o que facilitará o acesso a produtos e à saúde, além de melhorar a economia, com escoamento mais rápido da produção.

“Com o funcionamento da rede total de hospitais que estão sendo feitos no estado, com a melhoria dos acessos a todas as cidades, interligação através de rodovias, que permitam o melhor fluxo econômico do estado com a conclusão desses investimentos que estão trazendo mais oportunidades de emprego/renda, com a capacitação que está acontecendo, eu não tenho dúvida de que essa realidade, que já está mudando, como demonstram os indicadores de forma mais acelerada, agora nos próximos dois a quatro anos seguintes, será diferente”, declara o secretário de Desenvolvimento Social do Maranhão. (Fonte: Jornal Nacional).