Aline foi agredida por um policial militar durante ato na Tijuca, no domingo (Foto: Reprodução / Facebook)
A poucos metros da final da Copa, neste domingo (13), no Maracanã, manifestantes protestavam contra os gastos com o Mundial e lembravam o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, que ocorreu há 1 ano. Em meio a uma confusão entre policiais e ativistas, na Praça Saens Peña, na Tijuca, Zona Norte do Rio, um vídeo registrou o momento em que a artista plástica Aline Campbell, 25 anos, que participava do ato, levou dois chutes de um policial militar. Em entrevista aoG1, ela contou que não disse nada ao PM antes de ser agredida.
(Veja no vídeo ao lado a reportagem do RJTV desta segunda-feira que mostra a agressão a um jornalista canadense e o chute que o policial deu na artista plástica noúltimo domingo.)
“Quando começou o tumulto, muita gente se desesperou, saiu correndo e eu não corri. Eu estava muito tranquila. Até que eu vi um policial vindo com uma arma de bala de borracha atirando por nada, só na intenção de atacar. As balas atingiram os manifestantes, mas quando eu vi o policial atirando, ao invés de correr, eu pensei: vou ficar perto deles, porque eles não vão atirar em cima dos policiais. Foi quando eles gritaram para que eu saísse dali. Não tinha como eu argumentar, nem dialogar, implicar, porque eu estava com a máscara na cara e ela abafa nossa voz. Quando ele falou “sai daqui” e eu não saí, ele me deu o primeiro chute”, lembra Aline. “Hoje está bem dolorido, mas na hora eu não senti nada. A dor maior não é externa.”
saiba mais
- Vídeo mostra agressão a jornalista durante protesto na Tijuca, no Rio
- Mais de 10 jornalistas ficaram feridos durante protesto na Zona Norte do Rio
- Protestos terminam com feridos e bombas na Tijuca
- Metrô do Rio tem correria com PMs e manifestantes durante protesto
- Agressões de PMs a manifestantes no Rio serão investigadas; veja vídeos
A artista plástica diz que não conseguiu ter reação depois da agressão do policial e que um casaco amarrado à cintura amorteceu o chute. Ela pretende agora prestar queixa sobre o caso na delegacia já que conseguiu identificar o agressor através da farda. Nas redes sociais, dados referentes a um homem identificado como Rogério foram divulgados e atribuídos ao agressor. A PM não informou o nome do policial.
“Pelo simples fato de você estar com cartaz na mão, eles acham que você é vândalo, não é uma boa pessoa e eles vão te repreender. Foram dois chutes e não sei até que ponto isso chegaria se eu estivesse num ponto isolado. A polícia ataca a troco de nada. Claro que alguns implicam, mas eu não acho correto xingar PM até porque não dá em nada e a maioria ali é gente do bem. As pessoas que estavam comigo viram o nome dele na farda”, afirma.
‘Só vi o cassetete’, diz fotógrafo
O fotógrafo do Portal Terra, Mauro Pimentel, 28 anos, também diz ter sido alvo de agressões por parte da PM quando fazia uma reportagem sobre a manifestação. Em entrevista ao G1, ele contou como foi a ação da polícia.
“Eles gritaram: ‘Para trás, para trás’, começaram a bater e jogaram o spray de pimenta. Só que eu estava de máscara e continuei fotografando. Foi quando um cara [PM] me deu um chute na perna esquerda. Outro policial me segurou e me empurrou para trás. Só vi o cassetete no meu rosto. O filtro quebrou e a máscara trincou, mas segurou bem a pancada. Se estivesse sem aquela máscara fechada e o capacete estaria, no mínimo, com o nariz quebrado”, afirmou Mauro, que conseguiu fotografar o rosto do policial que o teria agredido.
O fotógrafo afirmou ainda que estava identificado como jornalista. “Estava de crachá e com capacete preto escrito ‘imprensa’ e com a logo do Terra. Não tinha como fazer confusão”, garantiu o profissional, destacando que a atuação da PM foi diferente neste domingo. “Estou cobrindo as manifestações desde meados do ano passado. Já vi policiais praticando agressões e outros pedindo para agir de forma diferente. Ontem não. Todos estavam hostis desde o início”, contou.
O protesto
Cerca de 150 pessoas se reuniram na Praça Saens Peña exibindo cartazes contra a Fifa. Devido ao ato, a PM reforçou a segurança com um grande efetivo. O protesto começou de forma pacífica e a maioria não usava máscaras. O grupo tentou seguir em passeata pelas ruas da Tijuca em direção ao Maracanã, mas a Polícia Militar montou um cerco no entorno da praça impedindo o deslocamento das pessoas. Neste momento, começou o confronto e os policiais lançaram bombas de efeito moral.
A estação do metrô Saens Peña passou duas horas fechada a pedido das forças de segurança. Manifestantes reclamaram que a polícia agiu com violência. Segundo a PM, seis pessoas foram levadas para a delegacia e cinco ficaram feridas, entre elas, dois PMs. Os manifestantes começaram a deixar a praça no início da noite.
Nota da PM
Em nota, a PM informou que o Comando da Polícia Militar determinou a abertura de Inquérito Policial-Militar para apurar os atos de violência de policiais contra cidadãos durante a manifestação de domingo. O Comando esclareceu que repudia estes atos revelados por imagens de cinegrafistas amadores.
De acordo com a nota, a população teve resguardado seu Direito Constitucional de Manifestação, havendo necessidade de bloqueio no caso específico na Tijuca, já que havia informações de inteligência sobre manifestantes planejando atos na entrada do Maracanã, colocando em risco a segurança de milhares de torcedores.
Seis pessoas foram encaminhadas à delegacia, quatro delas foram autuadas por desacato. Ainda segundo a nota, todas as denúncias e imagens recebidas relativas a excesso na ação de policiais militares serão encaminhadas à Corregedoria para ajudar nas investigações.