Um enfermeiro ouvido pela Polícia Civil nesta terça-feira (22) afirmou que orientou dois auxiliares de enfermagem a não atenderem um paciente que passava mal em frente ao Hospital Santo Expedito, em Itaquera, na Zona Leste de São Paulo, na última quarta-feira (16) por questões de segurança. Nelson França morreu após ficar mais de uma hora pedindo auxílio médico, sem ser atendido. O Ministério Público de São Paulo também abriu inquérito para investigar o caso.

 

O enfermeiro Leonardo Brambila no 53º DP, na Zona Leste (Foto: Reprodução/TV Globo)

O enfermeiro Leonardo Brambila no 53º DP, na Zona Leste (Foto: Reprodução/TV Globo)

Leonardo Brambila contou à polícia que impediu que funcionários do hospital prestassem socorro ao vigia porque a região onde fica o hospital é perigosa, e há risco de assaltos. Segundo testemunhas, o enfermeiro impediu que outros dois funcionários prestassem socorro. Imagens foram gravadas pela filha de uma paciente.

Brambila disse que queria que o vigia fosse levado ao pronto-socorro, mas não avisou ninguém para que esse transporte fosse feito. Disse ainda que quando chegou perto de Nelson, acompanhado de um médico, Nelson França já estava morto.

Agora a polícia quer ouvir a equipe de resgate do Corpo de Bombeiros para saber se ele estava mesmo morto.

MP
Na segunda-feira (21) o MP instaurou inquérito civil para apurar a suposta omissão de socorro por parte do hospital. A promotora Paula Villanaci  Alves Camasmie, da Promotoria dos Direitos Humanos Saúde Pública, enviou ofício à diretoria do Hospital Santo Expedito para que forneça informações detalhadas sobre o caso.

Ela pede esclarecimentos sobre quais os protocolos adotados de atendimento na hipótese de um paciente em risco de morte ingressar no estabelecimento sem possuir plano de saúde ou condição financeira para pagamento do serviço e dados de identificação do médico responsável pelo plantão na data do fato, no prazo de 15 dias.

Além disso, a promotora enviou ofícios ao Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), Conselho Regional de Enfermagem (Coren) e Vigilância Sanitária Estadual para vistoria do local, no prazo de 30 dias.

O Cremesp abriu sindicância para investigar a responsabilidade da equipe médica na morte de França. O vice-presidente do Cremesp, Mauro Aranha de Lima, disse que o órgão vai “apurar severamente o acontecido.”

Em nota, a direção do Hospital Santo Expedito disse que não corrobora de forma alguma  qualquer tipo de omissão de seus profissionais e, caso seja apurada a responsabilidade de algum envolvido, não hesitará em punir com rigor. O hospital afirmou ainda que a vítima foi “irresponsavelmente” abandonada por um condutor de uma lotação e que, se tivesse entrado no hospital, isso não teria acontecido.

A família vai entrar na Justiça contra o centro médico e os demais envolvidos. O advogado dos familiares, Ademar Gomes, disse que pedirá indenização de aproximadamente R$ 1,5 milhão e mais uma pensão para os três filhos do vigia, todos menores.

Nelson França tinha 48 anos e morava em Cidade Tiradentes, na Zona Leste. Ainda de acordo com o advogado Ademar Gomes, o vigia ganhava cerca de R$ 2,7 mil mensais em “bicos”. “Um pai de família ser tratado como um verme, um lixo, na porta do hospital, sem eles prestarem os primeiros atendimentos, deixa a gente muito triste mesmo”, afirmou a cabeleireira Roseli Ribeiro Santos de Souza, que é cunhada da vítima.