O Secretário de Agricultura de Santa Catarina, Airton Spies, disse ontem, 23, que ainda não foi possível identificar quais marcas comerciais vendidas nas regiões Sul e Sudeste usaram como matéria-prima o leite adulterado fornecido por dez empresas catarinenses e uma do Rio Grande do Sul.
Segundo Spies, as empresas investigadas pela operação Leite Adulterado III colocaram no mercado do Paraná e de São Paulo cerca de 300 mil litros por dia de produto contaminado, durante um período ainda não conhecido. O secretário afirmou ainda que “Santa Catarina produz 8 milhões de litros por dia, sendo que as empresas suspeitas são responsáveis por 4% da produção”.
Ele disse que fez contatos com o Ministério da Agricultura para localizar o leite adulterado e determinar seu recall e que “os técnicos ainda estão rastreando os lotes para saber onde foram colocados, tarefa que pode levar 10 dias”. Cerca de 20 fiscais federais trabalham em conjunto com as autoridades estaduais.
Segundo o promotor Fabiano Baldissarelli, as 16 pessoas presas na última segunda-feira, 20, suspeitas pela adulteração, estão sendo interrogadas para identificar a extensão da operação.
As 11 empresas citadas na investigação não têm marcas próprias e a produção delas, agora suspensa, destinava-se à venda para usinas de beneficiamento que as revendiam aos supermercados. Parte da produção também foi utilizada em queijarias.
O Ministério Público Estadual de Santa Catarina informou que as empresas adicionavam sódio, soda cáustica e peróxido sódio, produtos que alteram a acidez do leite. Os sintomas no consumidor podem variar de dor de cabeça aos mesmos de intoxicação alimentar, além de feridas na boca.
As 11 empresas suspeitas são: Empresa Cordilat / SC Foods – Cordilheira Alta/SC;
Empresa Laticínios Oeste Lat – Coronel Freitas/SC;
Empresa Agro Estrela – Coronel Freitas/SC;
Empresa Transportes Irmãos Gris – Formosa do Sul/SC;
Empresa Cooperativa Agropecuária e de leite Milkfor – Formosa do Sul/SC;
Empresa GD Transportes – Formosa do Sul/SC;
Empresa Transportes Douglas – Formosa do Sul/SC;
Empresa Laticínios Santa Terezinha – Santa Terezinha do Progresso/SC;
Empresa Laticínios São Bernardino – São Bernardino/SC;
Empresa cooperativa Coopleforsul – Formosa do Sul/SC e
Empresa Master Milk – Iraí/RS.
Para o promotor Mauro Rochemback, do MP gaúcho, que investiga a fraude no alimento no Rio Grande do Sul, a fiscalização do leite que entra nas indústrias paulistas é praticamente nula. E é São Paulo o destino da maior parte do produto adulterado no Sul do país.
O esquema, segundo Rochemback, é o mesmo que foi descoberto no RS nas operações Leite Compen$ado: ao sair do produtor, o alimento recebe água e substâncias químicas – como soda cáustica – para aumentar seu volume e maquiar sua péssima qualidade.
“O leite recebe tratamento para ganhar mais tempo de padronização. Substâncias para deixar ele dentro do padrão de forma que ele vença o tempo de deslocamento até SP. Ele entra na indústria aparentemente bom, mas já recebeu as substâncias”, explica o promotor.
Em SP o produto impróprio para consumo não é identificado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. “O leite está desassistido. Fomos informados que não existe fiscalização no setor leiteiro de SP. Se é branco, eles recebem. Se é branco, é leite. Tá na hora de SP tomar uma providência urgente em relação isso. O leite adulterado sai daqui [Sul do país] com baixa qualidade, recebe tratamento químico no RS ou em SC, e vai para SP.”
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