No ano passado, 6,3% dos 166,7 milhões de brasileiros de 14 anos de idade ou mais – o equivalente a 10,5 milhões de pessoas – trabalhavam na produção para o próprio consumo, voltada para uso exclusivo dos moradores do domicílio ou de parentes que viviam em outra moradia. É o que mostra a pesquisa Outras Formas de Trabalho 2016, divulgada hoje (7) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A sondagem faz parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) e abrange atividades que as pessoas fazem para benefício próprio ou de terceiros, mas sem remuneração. A pesquisadora da Coordenação de Trabalho e Rendimentos do IBGE, economista Alessandra Brito, informou que o levantamento segue recomendação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que procura abordar formas mais amplas de trabalho do que aquelas voltadas exclusivamente para o mercado.

“Esse é um trabalho meio invisível”, observou Alessandra. “As atividades não entram na conta das pessoas ocupadas que a gente divulga”. São consideradas outras formas de trabalho a atividade na produção de bens; os cuidados de pessoas, afazeres domésticos e o trabalho voluntário.

Na produção de bens, os pesquisadores do IBGE constataram que essa atividade é maior entre os homens (6,9%) do que entre as mulheres (5,8%). Por região, a pesquisa revela que o percentual de pessoas que realizaram atividades de produção para o próprio consumo foi maior no Norte (10,1%), Nordeste (9,4%) e no Sul (8,1%). “A gente vê que isso cresce com a idade”. A faixa etária em que a taxa de realização para o próprio consumo é mais intensa é a de 50 anos ou mais (46,1%). Apenas 11,2% tinham de 14 a 24 anos.

A atividade que mais se destaca entre os quatro conjuntos analisados na produção para consumo próprio é a que engloba cultivo, pesca, caça e criação de animais, com 77,6%. Nesse conjunto, observa-se que há grande ocorrência tanto de pessoas do sexo masculino (79,2%), quanto do feminino (76%). A participação dos homens é maior na produção de carvão, corte ou coleta de lenha, palha ou outro material (23,5%) e na construção de prédio, cômodo, poço ou outras obras de construção (12%); entre as mulheres, os percentuais são, respectivamente,10,6% e 1,5%. As mulheres se sobressaem na fabricação de calçados, roupas, móveis, cerâmicas, alimentos ou outros produtos (23,2%), contra 0,8% de homens.

Ainda de acordo com o IBGE, 48,8% das pessoas que fizeram essa forma de trabalho estavam ocupadas no mercado, sendo 61,7% homens e 35%, mulheres.

Cuidar de pessoas

Do total de 166,7 milhões de pessoas em idade de trabalhar em 2016, 26,9% cuidaram de moradores do domicílio ou de parentes não moradores, correspondendo a 44,9 milhões de pessoas. Alessandra Brito informou que as mulheres têm uma taxa de participação maior que a dos homens (32,4% contra 21,0%), com concentração na faixa de 25 anos a 49 anos, tanto para homens (64,7%) quanto para mulheres (60,7%).

A pesquisadora indicou que pela condição do domicílio, a cônjuge tende a fazer mais que a mulher responsável pelo domicílio (39% contra 30,6%). O mesmo ocorre em relação aos homens, mas em menor medida: 27,5% para o cônjuge, contra 25% para o principal responsável.

Alessandra chamou a atenção para o fato de que os maiores cuidados são dedicados a crianças de 0 a 14 anos: 49,6% das pessoas disseram ter cuidado de moradores de 0 a 5 anos, enquanto 48,1% cuidaram de moradores de 6 a 14 anos. As principais atividades foram auxiliar nos cuidados pessoais (78,6%), com predominância de mulheres (86,9%), contra 65% de homens; e auxiliar nas atividades educacionais (66,8%), também destacando as mulheres, com 71,7%, contra 58,8% dos homens.

Afazeres domésticos

A pesquisa do IBGE revela que no ano passado, 81,3% da população acima de 14 anos de idade tinham afazeres domésticos no domicílio ou na casa de parentes, equivalendo a 135,5 milhões de pessoas. Nesse conjunto de atividades, há predominância também de mulheres (89,8%) em relação aos homens (71,9%). Por região, a maior taxa foi encontrada no Sul do país (86,5%) e a menor no Nordeste (75,5%).

Alessandra Brito ressaltou que a análise da intensidade de horas dedicadas às atividades de cuidados de moradores ou parentes não moradores, afazeres domésticos ou em domicílio de parentes é maior na Região Nordeste (17,5 horas por semana) do que no Sul (16 horas por semana). No Brasil, a média de horas dedicadas aos afazeres domésticos ou cuidados de pessoas é 16,7 horas, com predomínio de mulheres (20,9 horas por semana). Entre os homens, a média alcança 11,1 horas por semana. “As mulheres, além de ter uma taxa de realização maior, dedicam mais horas a essas atividades do que os homens”, disse a economista.

No Brasil, a principal atividade em 2016 foi preparar ou servir alimentos, arrumar a mesa ou lavar a louça, com taxa de realização de 80%. As mulheres são de novo o destaque, com 95,7%, contra 58,5% dos homens. Em seguida, vem o cuidado com a limpeza ou a manutenção de roupas e sapatos, com 76% em nível nacional, com participação maior de mulheres (90,8%) do que de homens (55,7%). De acordo com a pesquisadora, a única atividade de afazeres domésticos em que as mulheres perdem para os homens é a de pequenos reparos ou de manutenção do domicílio: 65% para os homens, contra 33,9% para as representantes do sexo feminino.

Trabalho voluntário

A pesquisa mostra que 6,5 milhões de brasileiros, ou 3,9% da população de 14 anos ou mais de idade, realizam trabalho voluntário, que pode ser feito para uma organização ou uma pessoa, seja parente ou não, sem remuneração. “Você pode cuidar de um vizinho ou fazer um pequeno reparo na casa de um vizinho sem cobrar. Isso é considerado, para a pesquisa, trabalho voluntário. Não é só ajudar em uma organização não governamental (ONG). É um conceito mais amplo de trabalho voluntário”, afirmou a economista.

A sondagem revela que o trabalho voluntário cresce com a idade, com maior taxa de realização entre as pessoas de 50 anos ou mais (4,6%); seguida do grupo de 25 a 49 anos (4,1%); e do grupo de 14 anos a 24 anos (2,5%). Em média, as pessoas fazem seis ou sete horas de trabalho voluntário por semana.

Por sexo, a taxa de realização de trabalho voluntário em 2016 era maior entre as mulheres (4,6%) do que entre os homens (3,1%). Em compensação, os homens dedicam mais horas a essa atividade, à exceção da Região Sul (5,8 horas por semana, contra 6 horas semanais das mulheres). No Centro-Oeste, os dois sexos se equiparam, com 6,9 horas semanais de cada dedicadas ao trabalho voluntário.

Outro dado mostrado pela pesquisa do IBGE é que das 6,5 milhões de pessoas que fizeram trabalho voluntário no ano passado, 6 milhões (91,5%) foram por meio de empresa, organização ou instituição. Além disso, as pessoas ocupadas realizavam mais trabalho voluntário em 2016 do que as não ocupadas. Enquanto 4,2% dos ocupados no Brasil faziam trabalho voluntário, entre os não ocupados a taxa era de 3,6% no ano passado.