Devotos e religiosos celebram hoje (2) Iemanjá, a orixá associada à água e ao mar, nas religiões afro, padroeira dos pescadores do Brasil. Na cidade do Rio de Janeiro, a divindade recebeu homenagens aos pés da estátua na Praia dos Amores, na zona oeste. E pela sexta vez também foi realizada uma manifestação contra a intolerância religiosa. Em 2012, a imagem de Iemanjá, que fica no local, foi destruída por vândalos.
A celebração começou com uma carreata partindo do terreiro Ile Omo Ejá, na zona norte, em direção à praia. Um debate sobre a proteção aos oceanos, com ambientalistas, foi promovido na praça. “Na roda de conversa Conservando o Lar da Rainha do Mar falamos, por exemplo, sobre a epidemia dos plásticos nos oceanos”, disse um dos organizadores, Ismael Evangelista, ogã do candomblé e líder do Ofarere, movimento pela manutenção das tradições de matriz africana, de combate ao racismo e à intolerância.
Evangelista lembrou que em 2 de fevereiro é comemorado também o Dia Mundial das Águas Úmidas. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), para colocar em evidência a situação crítica de deltas, recifes de corais e de mangues, que sofrem com o aquecimento global, embora devessem ser protegidos, pela capacidade de reduzir impacto de ressacas, ciclones e furacões e consideradas zonas naturais de amortecimento de catástrofes.
“O 2 de fevereiro é o dia de Iemanjá no candomblé e o nosso objetivo é ampliar a tradição, que já acontece em Salvador, em Vitória, no Rio Grande do Sul e até em cidades que não têm mar, no interior, para que mais pessoas participem e valorizem as tradições populares”, disse Evangelista. “Iemanjá é a grande mãe do mar, cuida dos pescadores, dos surfistas, todos que vão ao mar têm essa referência”, acrescentou.
Desde a primeira edição do evento, na Barra da Tijuca, há seis anos, o ogã disse que a atividade é também uma forma de protestar contra os numerosos casos de intolerância religiosa no estado. Em 2017, um caso por semana de ataques a pessoas ou a templos foi registrado pela Secretaria de Estado de Direitos Humanos.
Outro objetivo da festa é cobrar que o evento passe a constar do calendário cultural da cidade. “Estamos buscando diálogo com a Riotur para consolidar essa atividade, trazendo o turismo para essa localidade, valorizando o comércio e a comunidade”, disse o religioso. Procurada por e-mail e telefone, a empresa municipal de turismo, não comentou o pedido.
A cerimônia religiosa do Xirê será de tarde, com cânticos das nações Ketu, Jeje, Angola e da Umbanda. O tradicional barco com presentes à orixá sai por volta das 17h e será levado pela Associação de Pescadores Livres e Amigos da Barra da Tijuca e Adjacências. A organização foi a que colocou ali a primeira estátua da orixá, protetora dos pescadores, na década de 1970.O presente deve incluir flores, perfumes, frutas, em balaios enfeitados com panos nas cores branco e azul. Os religiosos pedem que material seja biodegradável.
A confraternização termina com apresentações de capoeira e bandas de música. A expectativa é receber entre 100 e 200 pessoas, ao longo de todo dia, a maioria, da zona oeste e de municípios da Baixada Fluminense, que concentram terreiros de religiões afro no estado.