O dracenense, André Luís Stuchi, 2º sargento do 37º Batalhão de Infantaria Leve – 37º BIL – de Lins concedeu entrevista à equipe do Jornal e Portal Regional, segunda-feira (15), pela manhã. Ele contou sobre sua experiência como sargento de comunicações da 3ª Companhia de Força de Paz, que atua no Haiti.
O sargento de 30 anos sobreviveu ao terremoto, ocorrido no dia 12 de janeiro, que registrou 7 graus na escala Ritcher. De acordo com números divulgados pelo Governo, mais de 200 mil pessoas morreram na tragédia, entre elas, 18 militares brasileiros, a médica e fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns e o número dois da chefia civil da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti – Minustah – Luiz Carlos da Costa.
Faltando apenas 16 dias para o fim de sua missão, a terça-feira – 12 de janeiro – era mais um dia normal de trabalho, no Centro de Comunicações da 3ª Cia., no Forte Nacional. Ao final da tarde, alguns militares gostavam de jogar vôlei numa quadra improvisada dentro da Base. Stuchi, que costumava jogar, decidiu que não jogaria. Permaneceu na sala do Centro de Comunicações com sua equipe. Algum tempo depois, resolveu dar uma olhada na partida, pegou o rádio de comunicações, o celular funcional e foi até a quadra. Lá fora, ainda observou a chegada de uma mulher com duas crianças à sala da PNH (Polícia Nacional Haitiana), quando o terremoto aconteceu. “Primeiro houve um abalo com ondulação leve de uns dois segundos, depois teve um tremor forte, que durou de cinco a sete segundos. Segurei na trave, onde é fixada a rede de vôlei. Foi tudo muito rápido, você fica sem reação”, relata. Três militares que atuavam no Forte Nacional morreram. A mulher e uma das crianças também. O sargento relembra que ao resgatarem a outra criança, ela disse: “Bon soir”, saudação francesa, que significa boa tarde. No Forte Nacional também estava instalada a primeira delegacia da mulher do Haiti. O contato com familiares brasileiros só pode ser feito quase um dia depois.
O sargento, que estudou nas escolas locais Moacir Simardi e João Vendramini, e no Cefam de Tupi Paulista, serviu o Tiro de Guerra local em 1998. Na época existia um projeto voltado à prática de esportes e noções de cidadania com as crianças do Jardim Brasilândia. “Ficávamos algumas horas a mais no Tiro de Guerra, duas ou três vezes por semana. Como não estava trabalhando, nem estudando no momento, pude me dedicar mais”, explica.
A dedicação e o apoio, do então, instrutor da época, o sargento Roberto, fez despertar seu interesse pela carreira militar. “A gente julga pelo que não conhece, depois que servi, decidi ir para escola de sargentos”, conta. Ele estudou na Escola de Sargentos das Armas (ESA), em Três Corações, Minas Gerais. Já formado, desejava morar o mais próximo de Dracena. “Gosto demais daqui”, esclarece. Foi quando, foram abertas vagas para 2ª região militar, que envolve as cidades de Campinas, Lorena, Caçapava, São Vicente, Osasco, entre outras. “Eram 16 militares e só tinha uma vaga em Lins. Como a escolha era feita por ordem de nota, o primeiro da lista optou por Campinas, como eu era o segundo, pude escolher Lins”, diz.
Em 2007, casou com a também dracenense Franciele Regiani. Um ano depois, ao voltar de um exercício realizado num acampamento na região do Vale do Paraíba, ficou sabendo que seria selecionado um novo contingente para a missão no Haiti. As tropas brasileiras que integram a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti – Minustah – são revezadas a cada seis meses. Era a vez da região de Campinas. Franciele ressalta que, desde quando eram namorados, Stuchi já manifestava o interesse em servir numa missão. A oportunidade apareceu e o sargento se inscreveu, foi selecionado, participou do treinamento e foi mais um dos militares recrutados para compor o 11º Contingente do Batalhão Brasileiro de Força de Paz, no Haiti. “Embarcamos em junho. Recebi todo o encargo do sargento, que estava saindo”, declarou.
Ele divide a missão em dois momentos: antes e depois do terremoto. “Não me arrependo de ter ido ao Haiti. Tive a oportunidade de desenvolver meu trabalho, colocar em prática tudo o que aprendi, além de conhecer outro país, outra cultura. Mas, é complicado porque contra um terremoto não há como lutar”, observa. Ele ainda recorda que as crianças haitianas são muito inteligentes e que aprendiam o português muito rápido.
Stuchi acredita que estava no lugar certo na hora certa. “Num momento como esse, temos que acreditar em Deus e agradecer a oportunidade de voltar para casa. Mas, também estou triste porque gostaria que todos tivessem voltado para suas famílias”, afirma.
ESTABILIZAÇÃO DO HAITI – A Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti – Minustah – foi criada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) em 2004, em meio a uma crise nacional com o afastamento do presidente haitiano Jean Bertrand Aristide e foi prorrogada em 2009 por mais um ano. O Brasil é o maior contribuinte de tropas militares para a Minustah. Independentemente da nacionalidade, todos os integrantes das forças de paz da ONU usam capacetes azuis. Usar tal acessório indica a missão de restabelecer a segurança e a paz.