A uma semana de completar 84 anos, o líder cubano, Fidel Castro, se descreveu, em sua autobiografia, como um rebelde desde sempre, que quando criança não hesitou em jogar um pão com manteiga em cima de um professor que o castigou e, já adulto, liderou uma revolução socialista que se mantém de pé há meio século, apesar da proximidade territorial com os Estados Unidos.

Fidel relatou passagens de sua infância e juventude para explicar como virou guerrilheiro e revolucionário no capítulo publicado no site cubadebate.cu e incluído no primeiro livro de suas memórias, “La victoria estratégica”, que ainda não está à venda.

Em 6.500 palavras, Fidel narra episódios que vão de seus primeiros anos na cidade natal de Birán (leste), a passagem por escolas religiosas – sobretudo jesuítas em Santiago de Cuba e na capital – até o estudo de Direito na Universidade de Havana, onde iniciou sua intensa vida política.

“Não nasci político, embora desde muito pequeno tenha observado fatos que, gravados na minha mente, me ajudaram a compreender as realidades do mundo”, escreveu Fidel, que está notavelmente recuperado de uma doença que o deixou à beira da morte e o distanciou do poder há quatro anos.

No volume, ele conta que pela primeira vez se rebelou “de forma consciente” quando passava fome na casa de uma professora, aonde seus pais o enviaram antes de ir para a escola, e como sendo um estudante de 11 anos jogou um pão com manteiga em cima de um religioso que lhe tinha batido.

“Sua autoridade e seus métodos abusivos ficaram muito desprestigiados”, relembra Fidel, que define a mãe, Lina Ruz, como protetora, e o pai, Angel Castro, como tolerante.

Quando menino, lembra ainda, mandou “com admiração” uma carta ao então presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt”, e recebeu um “aviso de recebimento” da embaixada americana.

Disse que era bom em gramática, mas melhor ainda em matemática, excelente atleta e que gostava de armas desde pequeno.

Apesar de tantos detalhes de sua vida, Fidel não conta detalhes de sua vida afetiva, só uma breve passagem de quando chorou em uma praia ao lado de uma namorada porque grupos rivais o impediam de entrar na universidade e teve que enfrentá-los com seu “caráter rebelde”.

“Sabia que o inimigo havia chegado ao limite da tolerância. Na minha mente quixotesca, não cabia outra alternativa senão desafiar a ameaça. Podia conseguir uma arma e a levaria comigo”, relata Fidel, que disse ter tido, quando jovem, “espírito competitivo”, de “autossuficiência” e “vaidade”, próprios da sua geração.

O líder cubano se descreve com um dos poucos que sonharam com a revolução em uma época em que “o poder do império” crescia, mas – ressalta – foi uma mistura de “ideias, fatos e sacrifícios de muitas pessoas” o que fez “uma revolução social que resistiu com honra a mais de 50 anos de agressões e ao bloqueio dos Estados Unidos”.

Grande personalidade da segunda metade do século XX, Fidel, que cedeu o poder a seu irmão, Raúl, embora conserve o poderoso posto de secretário do Partido Comunista, disse guardar intactas, na memória, as circunstâncias que o levaram à luta guerrilheira.

“Não deixa de ser satisfatório para mim recordá-las, mas de outra forma não explicaria porque cheguei às convicções que no fim determinaram o curso da minha existência”, afirma.

Nas agrestes montanhas de Sierra Maestra, à frente de um exército de 300 homens, Fidel relata como derrotou uma ofensiva de 10 mil soldados do ditador Fulgencio Batista, uma vitória que determinou o curso da guerra e a vitória da revolução.