O processo de identificação e envio dos corpos das 72 vítimas de uma chacina na fronteira do México e com o Brasil deve demorar, no mínimo, duas semanas. Em entrevista à Agência Brasil, o cônsul do Brasil no México, Márcio Lage, disse hoje (27) que por enquanto apenas 41 corpos foram identificados e apenas um apontado como sendo de um homem brasileiro. Mas Lage afirmou que esse número pode subir considerando a evolução dos trabalhos.

“Pelo que as autoridades nos informaram, no mínimo, duas semanas deve durar todo o processo. Há uma série de exames laboratoriais que devem ser feitos, mais a conclusão das autópsias e os laudos. Além disso, há também a parte da burocracia”, disse Lage, que foi designado pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil para acompanhar os trabalhos de identificação e transporte dos corpos. Lage aguarda autorização para seguir para a cidade de Reynosa – para onde serão levadas as vítimas.

Ontem (26) o cônsul se reuniu com autoridades do governo do presidente do México, Felipe Calderón, policiais, representantes da Procuradoria-Geral da República e legistas. Também participaram das reuniões diplomatas de Honduras, do Equador e de El Salvador, pois entre as vítimas havia pessoas desses países.

No último fim de semana, os policiais do México informaram que houve uma chacina, na cidade de San Fernando, em Tamaulipas, na fronteira com os Estados Unidos. Segundo as autoridades, 72 pessoas foram brutalmente assassinadas, incluindo crianças e uma mulher grávida.

A seguir, os principais trechos da entrevista com o cônsul do Brasil no México.

Agência Brasil – Como estão os trabalhos de identificação dos corpos das vítimas?
Márcio Lage – Não tivemos acesso ao local onde estão os corpos, próximo à cidade de San Fernando [no estado de Tamaulipas, na fronteira com os Estados Unidos]. O local fica fora da cidade, a cerca de 150 quilômetros da fronteira. As autoridades nos disseram que não havia condições de nos dar segurança nesta área [onde ocorreu o crime] por isso estamos aguardando autorização para seguir para Reynosa para onde serão levados os corpos.

ABr – Fontes não oficiais afirmam que há mais do que 72 vítimas e apenas um brasileiro, o senhor sabe disso?
Lage – O que nos foi informado é da existência de 72 vítimas. Outros corpos podem não estar ligados diretamente a esse crime de San Fernando. Até ontem à noite, 41 corpos tinham sido identificados. Com isso, o dado é que apenas um homem brasileiro foi identificado. Mas é possível que esse número suba, sim. Mas é preciso aguardar o avanço dos trabalhos.

ABr – Muitos desses imigrantes não têm passaporte, será que é confiável informar sobre a identificação e a nacionalidade exatas deles?
Lage – Eles podiam não dispor de passaporte, mas algum tipo de documento de identificação certamente tinham. A partir daí será possível identificar e descobrir a nacionalidade de cada um. Inicialmente a informação que nos foi transmitida é que eram quatro brasileiros. Ainda trabalhamos com esse dado.

ABr – Pelas informações que o senhor dispõe, quanto tempo levará para que as famílias recebam informações e tenham os corpos para enterrar no Brasil?
Lage – Pelo o que as autoridades nos informaram, no mínimo, duas semanas deve durar todo o processo. Há uma série de exames laboratoriais que devem ser feitos, a conclusão das autópsias e os laudos. Além disto, há também a parte de burocracia.

ABr – O Itamaraty vai cuidar da documentação e do transporte dos corpos dos brasileiros que foram vítimas do massacre?
Lage – Esta é uma última etapa. O Itamaraty vai informar os procedimentos para que as famílias tenham condições de enterrar seus parentes.

ABr – As autoridades mexicanas estão sendo atenciosas com o senhor e os outros representantes estrangeiros?
Lage – Ontem [26], tivemos uma série de reuniões com representantes da Procuradoria-Geral da República [que cuida diretamente do assunto], delegados, autoridades do governo e legistas. Todos nos transmitiram as informações sobre os trabalhos realizados e que vão ser feitos.