Em um clima de tensão religiosa e polêmica, o presidente Barack Obama pediu neste sábado que os americanos aproveitem o nono aniversário dos ataques de 11 de Setembro para relembrar o sentido de união e propósito comum que uniu os Estados Unidos durante a tragédia.

“Se há uma lição a se tirar neste aniversário, é esta: nós somos uma nação –um povo– unido não apenas pela dor, mas por um conjunto de ideais comuns. E contribuindo de volta às nossas comunidades, servindo as pessoas em necessidade, nós reafirmamos os nossos ideais e desafiamos quem nos faria mal. Nós provamos que o senso de responsabilidade que sentimos um pelo outro não era uma paixão passageira, mas uma virtude duradoura”, disse Obama, em seu programa semanal de rádio.

Obama lembrou ainda do dia em que 2.976 pessoas morreram nos ataques contra Nova York e Washington. Ele deve fazer um momento de silêncio às 8h46 (9h46 em Brasília), o momento em que o primeiro dos dois aviões atingiram o World Trade Center em Nova York. Ele também deve participar de uma cerimônia no Pentágono, também alvo de um ataque, e de um evento em Washington.

A primeira-dama Michelle Obama deve se unir a antecessora Laura Bush em Shanksville, Pensilvânia, onde o quarto avião, o voo 93 da United, caiu depois que passageiros impediram os terroristas. O vice-presidente Joe Biden foi a Nova York para participar de cerimônias na cidade.

Mas as cerimônias deste ano acontecem em um clima incomum de tensão religiosa entre islamistas e cristãos. Duas polêmicas sobre a construção de uma mesquita e um centro de cultura islâmica no Marco Zero, local do ataque a Nova York em 2001, e também a ameaça de um pastor protestante do estado da Flórida de queimar o Alcorão, livro sagrado do islã afetam o clima do Dia Nacional de Homenagem e Lembrança.

Obama, que já condenou publicamente duas vezes o plano do pastor, admitiu que “este é um tempo de dificuldade para nosso país”.

“E muitas vezes é nesses momentos que alguns tentam alimentar a amargura, nos dividir com base em nossas diferenças, para nos cegar para o que temos em comum. Mas neste dia, somos lembrados de que nós não cedemos a esta tentação. Estamos ao lado um do outro. Nós lutamos lado a lado. Não nos permitimos ser definidos pelo medo, mas pela esperança que temos pelas nossas famílias, pela nossa nação, e por um futuro melhor”, disse Obama.

“Por isso, vamos lamentar por aqueles que perdemos, homenagear aqueles que se sacrificaram, e fazer o nosso melhor para representar os valores que compartilhamos. Neste dia e em cada dia que se segue”.

POLÊMICAS

Depois de confirmar que abandonou seus planos de queimar cópias do Alcorão “hoje e para sempre”, segundo a rede de TV CNN, o pastor evangélico americano Terry Jones foi da pequena Gainesville, na Flórida, para Nova York para tentar convencer o imame Feisal Abdul Rauf a mudar o local de um polêmico dentro cultural islâmico e mesquita previstos para serem construídos a apenas dois quarteirões do local dos atentados de 11 de Setembro na cidade.

Responsável pelo projeto, Rauf negou nesta sexta-feira que tenha encontro marcado com o pastor da Flórida e ressaltou que os planos para o centro comunitário não mudaram. “Eu estou preparado para considerar um encontro com qualquer um que está seriamente comprometido em obter a paz. Nós não temos nenhum encontro do tipo planejado no momento”, disse o imame.

O projeto da mesquita e centro cultural, orçado em US$ 100 milhões, opôs republicanos e democratas e dividiu até mesmo os familiares das vítimas do ataque às Torres Gêmeas, que matou quase 3.000 pessoas, entre elas cerca de 60 muçulmanos. Enquanto uns defendem a liberdade religiosa e o direito à construção –como Obama–, outros –como a republicana Sarah Palin– dizem que se trata de desrespeito aos mortos pela Al Qaeda.

A maioria da população ficou do lado de Palin. Pesquisa divulgada quarta-feira pelo “Washington Post” mostra que dois terços dos americanos se opõem à construção. Enquanto 82% daqueles que são contra citam a localização como principal problema, 14% afirmam que se oporiam a uma construção como essa em qualquer parte do país. A pesquisa concluiu que 49% dos americanos têm uma visão negativa do islã.

Jones protagoniza há anos uma dura campanha contra o islamismo, que rendeu até mesmo o livro “Islam Is of the Devil” (“Islã É do Demônio”, em tradução livre). Nele, Jones conta que a religião islâmica é um risco à liberdade de todas as nações e tem como preceito a opressão e a violência. Sua causa, contudo, ganhou o mundo após começar a divulgar na internet a proposta para a data anual de queima do Alcorão.

Após grande destaque na imprensa americana e mundial, Jones afirmou na quinta-feira que a condição para cancelar seus planos –condenados duramente ao redor do mundo e por todo o alto escalão dos EUA– era que Rauf mudasse o local de construção da mesquita. Ele chegou a anunciar que o acordo havia sido concretizado, informação negada pouco depois pelos lideres muçulmanos.

Na sexta-feira, em uma sequência de confusas mensagens sobre seus planos, Jones disse que suspenderia os planos da queima do Alcorão se conseguisse um encontro com Rauf. Horas depois, voltou atrás e deu um ultimato de duas horas para que os muçulmanos concordassem em mudar a mesquita de lugar.

No fim do dia, Jones falou diante de um grande número de jornalistas de todas as partes do mundo que transmitiam as últimas informações ao vivo da frente da igreja que não haverá queima do livro sagrado muçulmano neste sábado. Ele ressaltou, contudo, que ainda “estamos muito confiante de que vamos encontrá-lo e continuamos convencidos, em razão das diferentes fontes de que dispomos e que não podemos mencionar no momento, de que este encontro ocorrerá amanhã”.