Dos 29 países pior posicionados no Índice Geral de Fome do Instituto Internacional de Pesquisa de Políticas Alimentares (IFRPRI, na sigla em inglês), 21 estão no Continente Africano. De cada três pessoas que vivem na Região Subsaariana, uma está desnutrida. Quatro nações, todas da África, estão no estágio mais preocupante, chamado de “extremamente alarmante”: Burundi, Chade, Eritreia e República Democrática do Congo. Conflitos armados, instabilidade política e ausência do Poder Público são os principais motivos para esta desestruturação social.

Além dos quatro países que mais preocupam, 25 vivem situação definida como “alarmante”. A maioria, novamente, é da África: Tanzânia, Sudão, Zimbabwe, Burkina Faso, Togo, Guiné Bissau, Ruanda, Djibuti, Moçambique, Libéria, Zâmbia, Níger, República Centro-Africana, Madagascar, Ilhas Comores, Serra Leoa e a Etiópia.

Hoje (16) Dia Mundial da Alimentação instituído pelas Nações Unidas, dona Carlina Mjufo nem sequer tocou nas panelas. Ela, a irmã Helena Muanzuli e as cunhadas Celina Sitóe e Maria Muchanga tinham somente frutas para oferecer ao neto Neldo, de 4 anos. As quatro são viúvas e vivem com o menino em Pessene, área rural da província de Maputo, distante 70 quilômetros da capital de Moçambique.

No casebre de caniço, sem luz ou água, elas guardam algumas sementes de milho na esperança de salvar algo da lavoura. “Plantamos milho, amendoim e mandioca, mas não deu nada, porque choveu pouco”, explicou dona Carlina. Ela chegou aqui em 1983, empurrada pela guerra que matou o marido e a expulsou de Mandjacaze, na Província de Gaza, 600 quilômetros do local onde vive hoje. No terreno sem grades, cortado por um caminho de terra, árvores de massala têm garantido a sobrevivência. “Foi o que comemos hoje, ontem, a semana toda”, disse dona Celina. “Aqui, pelo menos, temos a massala. Em Gaza era pior, porque não havia nada no quintal”.

A massala é uma fruta do Sul da África. Do tamanho de uma laranja grande, tem casca verde, dura, e polpa amarela com caroços largos. Em Angola, recebe o nome de maboque. É comida da forma que se tira do pé, sem preparo algum. A Cruz Vermelha de Moçambique monitora a situação e ajuda no que é possível. Dos 15 mil moradores de Pessene, cerca de 10 mil passam fome. “Recebemos apoio do Programa Mundial da Alimentação das Nações Unidas, mas mesmo eles sofreram com a queda nas doações”, lamentou Arão Vilanculos, da Cruz Vermelha em Moçambique. Segundo ele, o reforço alimentar está garantido apenas para os portadores do vírus da aids e para as crianças.

A seca este ano foi mais forte na região. “A chuva normalmente começa pelos fins de setembro, quando os agricultores saem para plantar. Este ano, as primeiras chuvas vieram quase em novembro. Em dezembro choveu mais um pouco, depois parou, e houve um calor intenso. As culturas não resistiram”, explicou Vilanculos.

Para a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), o combate à fome em Moçambique melhorou nos últimos anos. Mas o problema é de difícil solução. “Desde 1996 o quadro tem melhorado. Estamos na casa dos 35% de afetados pela fome. Ainda temos cinco anos para chegar à meta de 28%”, disse o representante da FAO em Moçambique, Julio de Castro, lembrando o objetivo estabelecido pelo país para as Metas do Milênio. “A melhora dos últimos anos é importante e precisa continuar”.