O presidente do Sudão, Omar Al-Bashir, afirmou nessa quarta-feira (20) que o país “não vai voltar à guerra civil” por causa da consulta popular marcada para janeiro do ano que vem, que pode decidir pela separação do Sul do restante do país. Segundo a agência oficial Suna, Bashir declarou que o resultado “não será o fim do mundo” e que “o governo trabalha para manter a paz”.
Na semana passada, Bashir havia indicado que não aceitaria outro resultado que não a manutenção da unidade do país.
Lideranças do Norte e do Sul devem voltar a discutir os parâmetros da votação na próxima semana. Mas a disputa sobre quem estará apto a participar, bem como a definição exata sobre as fronteiras entre as regiões, deixa dúvidas sobre a viabilidade da consulta prevista para 9 de janeiro.
“Há 95% de chances de o referendo não acontecer na data”, acredita Antonio Gaspar, professor do Instituto Superior de Relações Internacionais de Moçambique, que acompanha o processo. “Está tudo muito atrasado”, afirma.
O especialista acha que a guerra civil pode voltar ao Sudão, mesmo que a consulta ocorra e qualquer que seja o seu resultado. “A volta da guerra é uma possibilidade, sim. O país é uma bomba-relógio”, afirma Gaspar.
“Se optarem pela independência, significa que o Norte vai perder parte significativa dos recursos petrolíferos. E isso vai criar uma animosidade grande. Por outro lado, caso haja a manutenção da unidade, os sulistas já lutaram mais de 20 anos. Poderão estar dispostos a lutar mais alguns anos para se livrar do Norte.”
A guerra civil no Sudão durou mais de 20 anos e matou mais de 1,5 milhão de pessoas. No Norte, ficaram os muçulmanos e o Sul passou a ser majoritariamente cristão. Além da religião, o petróleo fazia com que o Sul lutasse pela independência.
A paz veio em 2005, com um desarmamento nunca totalmente cumprido e um governo de união, liderado pelo presidente Omar Al-Bashir, no poder desde 1989.
Mesmo seguindo os conselhos do Fundo Monetário Internacional (FMI) desde 1997, e rico em óleo, gás, ouro, prata, cobre e outros minérios, o Sudão ainda é um dos mais pobres da África. Metade da população está abaixo da linha da pobreza, vivendo do que consegue plantar ou de auxílio humanitário.