Em um comunicado divulgado hoje (1), o diretor executivo do Unaids (Programa das Nações Unidas para HIV/Aids), Michel Sidibé, disse que há motivos para orgulho neste dia mundial de combate à síndrome. “Houve redução global no número de novos casos e mortes perto de 20%. Isso significa que menos gente está se infectando com o HIV e menos gente morrendo de aids”, afirmou Sidibé.
Segundo o diretor do Unaids, 56 países estabilizaram ou reduziram o ritmo de novos contágios. “Pela primeira vez, quebramos a trajetória da epidemia e alcançamos na primeira parte da Meta do Milênio relativa ao HIV.” Mas a nota também lembra que os “duros ganhos são frágeis”. A aids matou 30 milhões de pessoas até agora, enquanto 10 milhões esperam tratamento, muitas enfrentando estigmas e preconceitos. “É possível ter esperança, mas o compromisso precisa ser mantido”. Sidibé estimou que, em 2015, a transmissão da infecção de mãe grávida para o filho (transmissão vertical) poderá estar virtualmente eliminada.
A pediatra brasileira Mônica Machado, que atua na organização não governamental (ONG) Médicos Sem Fronteiras, em Moçambique, não é tão otimista. “Acho que aqui, na África, será difícil”, disse ela. Para a médica, práticas que foram muito eficazes para evitar a contaminação vertical em outras regiões do mundo são difíceis de ser repetidas no continente. “Não conseguimos falar em fazer cesarianas no lugar do parto normal”, lamentou a médica, lembrando que 70% dos casos de contágio de mãe para filho se dão no momento do parto. Muitas crianças do interior da África nascem com auxílio de parteiras, longe dos hospitais.
A segunda maior incidência da transmissão vertical se dá pelo aleitamento materno. “Não existem condições que nos permitam preconizar a suspensão do aleitamento para bebês de mães infectadas porque, em muitos lugares, o leite da mãe é um dos únicos alimentos disponíveis para o recém-nascido”, disse a pediatra brasileira, por causa das condições de higiene e pela pouca oferta de comida.
Hoje, a África tem mais de 22,5 milhões de pessoas contaminadas pelo HIV. É o equivalente a toda população de Moçambique, um dos dez países mais afetados pela epidemia no mundo. São 60 mil mortes relacionadas à doença por ano. O país tem índice de prevalência de 11,5% entre homens e mulheres de 15 a 49 anos de idade. No meio rural, o percentual cai para 9,5%. Mas, nas cidades, chega a 15,9%. No Brasil, por exemplo, o índice é de 0,5%.
“A cidade é agressiva, exige comportamentos que as pessoas não estão habituadas”, analisou o médico João Schwalbach, ex-diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo Mondlane. Para ele, o grande problema é a falta de proteção nas relações sexuais. “Esses comportamentos mais liberais, no caso da aids, levam à infecção”, disse ele, que foi responsável pela redação final da Política de Combate ao HIV/Aids na capital Maputo.
Mesmo com tantas dificuldades, foi na África Subsaariana, onde vivem 70% dos infectados de todo o mundo, que o Unaids registrou os maiores avanços na luta contra a síndrome. Juntos, os 22 países da região tiveram um declínio de mais de 25% nos registros de novos casos entre 2001 e 2009. Os países mais afetados (Costa do Marfim, Nigéria, África do Sul, Zâmbia e Zimbábue) foram os que registraram as maiores quedas.
Em Moçambique, o maior avanço se deu no acesso ao tratamento. Um salto de 6 mil atendidos em 2005 para mais de 200 mil este ano. Mesmo assim, ainda é pouco. “Já foi feito um grande esforço, mas ainda é completamente insuficiente”, lamentou o médico Schwalbach.