Jordan pediu que seu irmão fosse resgatado primeiro. Foto: Newspix/Rex Features

O adolescente australiano Jordan Rice, de 13 anos, sacrificou a própria vida para salvar o irmão Blake, de 10, que estava com ele no interior de um carro que foi arrastado e engolido pelas águas do rio Fitzroy, em Toowoomba, no Estado de Queensland, na segunda-feira.

A história de Jordan e Blake foi relatada à mídia australiana nesta quinta-feira pelo construtor Warren McErlean, de 37 anos, que estava no centro da cidade quando a água chegou subindo rápido e arrastando tudo que estava no caminho.

Ele olhou para o carro parado perto dele. Lá estavam a mãe, Donna, que também morreu na enchente, e os dois filhos, Jordan e Blake.

A água, segundo McErlean, cobria a placa do carro. Ele pensou em ajudar os três a saírem do carro, mas não teve tempo. Neste momento, uma enorme parede de água, com uma correnteza muito forte, tomou conta de tudo.

“Em apenas 10 segundos, a água subiu mais de 20 centímetros, encobrindo o para-brisa do carro. Peguei uma corda e amarrei num poste próximo. Com muito esforço consegui chegar até o carro e prendi a corda nele. Pedi a Jordan para se segurar em mim, mas ele disse que sabia nadar e insistiu para que o irmão Blake fosse resgatado primeiro”, disse McErlean.

“Peguei Blake nos braços e o levei para um lugar seguro onde estava um bombeiro, Chris. Voltamos juntos para resgatar Jordan e a mãe. Chris segurou uma das mãos de Jordan, mas a correnteza estava muito forte e uma outra onda veio e nos atirou longe do carro.”

“Quando eu consegui me levantar olhei para Chris e vi nos seus olhos que estava tudo acabado. A corda arrebentou e o carro desapareceu no meio da correnteza levando junto Jordan e Donna”, contou o construtor aos jornais locais.

Desaparecidos

Nesta quinta-feira, o corpo de um rapaz de 24 anos foi encontrado numa casa, em Brisbane, elevando para 14 o número de mortos em consequência das enchentes.

A lista de desaparecidos tem mais de 40 nomes. O rio que corta a terceira maior cidade Austrália não chegou a atingir a vazão máxima de cinco metros e meio.

Mas mesmo ficando um metro abaixo do esperado, 30 mil casas, lojas e fábricas foram inundadas em 80 bairros. O serviço de emergência recebeu cerca de três mil pedidos de socorro só dos moradores de Brisbane.

Mais de 115 mil moradias e lojas estão sem energia elétrica e gás, e o sistema telefônico está precário. as autoridades retiraram de suas casas 3.550 pessoas, que foram levadas para abrigos.

Parte do acervo da Biblioteca Estadual, da Galeria de Arte Moderna e da Galeria de Arte de Queensland foram levados para lugar seguro e longe da água.

Um pedaço com mais de cem metros de comprimento da passarela de concreto usada por ciclistas e pedestres para passear na beira do rio foi arrancada pela correnteza e arrastada rio abaixo.

Em Ipswich, 120 homens do Batalhão de Emergência do Exército estão revirando o que restou de casas e construções procurando as vítimas da maior enchente no Estado desde 1893. Um necrotério especial foi montado em Brisbane e vários legistas estão sendo enviados para a cidade.

A primeira-ministra australiana, Julia Guillard, visitou as áreas devastadas pelas enchentes e disse que “a água pode lavar e destruir tudo por onde passa, mas ela não tem força para abalar o espírito australiano que vive dentro de cada cidadão”.

Para as autoridades australianas vão ser necessários dois anos e bilhões de dólares para reconstruir mais de 70 mil quilômetros de estradas, linhas férreas e as propriedades destruídas ou danificadas pelas enchentes.