Um porta-voz dos rebeldes líbios informou nesta segunda-feira (22) que conflitos tiveram início nas redondezas do quartel de Muammar Kadhafi em Trípoli, entre as forças que exigem a saída do ditador a as tropas do regime que recusam-se a deixar as armas.

Mohammed Abdel-Rahman disse que tanques do governo saíram da base conhecida como Bab al-Aziziya e abriram fogo na manhã desta segunda, ainda madrugada no horário de Brasília.

Repórteres de agências de notícias também constataram que “intensos combates” estavam ocorrendo nos arredores da residência de Kadhafi em Trípoli, e que outros conflitos aconteciam no sul da capital.

Um porta-voz dos rebeldes informou à televisão árabe Al Jazeera também na manhã desta segunda em Trípoli que as forças leais a Kadhafi ainda apresentam resistência e controlam entre 15% e 20% da área da cidade, um dia depois de os rebeldes ocuparem a cidade.

“Eles estão basicamente controlando quatro áreas até o momento. Isso representa apenas cerca de 15% a 20% da cidade”, disse o rebelde, que foi identificado com Nasser.

Os rebeldes líbios dominaram a Praça Verde, lugar onde tradicionalmente ocorriam as manifestações de partidários do regime de Muammar Kadhafi no centro de Trípoli, segundo mostraram imagens da TV britânica Sky News e da TV árabe Al Jazeera neste domingo (21).

Nas imagens, vários homens agitam bandeiras com as cores dos rebeldes, gritando em júbilo “Alá Akbar” (“Deus é grande”) enquanto disparam tiros ao ar. Eles teriam ainda começado a chamar o local de “Praça dos Mártires”.

Antes da fala do porta-voz dos rebeldes à Al Jazeera, a agência Efe havia divulgado que um membro do Conselho Nacional de Transição afirmou que os rebeldes já tinham controle sobre toda a cidade de Trípoli, menos a fortaleza de Bab al-Aziziya, que é o quartel de Muammar Kadhafi. A Reuters repetiu a informação, atribuindo-a a fontes rebeldes entrevistadas pela televisão Al-Jazeera.

O quartel do ditador é estrategicamente localizado em frente à rodovia que leva ao Aeroporto Internacional de Trípoli, no sul da cidade. Até o início da manhã desta segunda (22) em Trípoli (ainda madrugada em Brasília), o paradeiro de Kadhafi era desconhecido.

Uma correspondente da CNN em Trípoli chegou à Praça Verde com forças rebeldes, e relatou que, em meio às comemorações, foram ouvidos gritos dizendo que havia atiradores sobre os edifícios ao redor, o que fez muitos deles buscarem refúgio.

Forças rebeldes ocuparam a capital Trípoli neste domingo, após dominarem cidades próximas nos últimos dias. O movimento exigindo a saída de Muammar Kadhafi do poder começou em fevereiro deste ano, quando, inspirados pelas revoltas na Tunísia e no Egito, manifestantes conquistaram o poder local em algumas regiões, como Benghazi. Kadhafi já governava o país há 42 anos.

Desde então, confrontos ocorreram em diversas regiões do país, e os rebeldes foram aos poucos conquistando outras cidades – com a ajuda da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que a partir de março passou a atuar nos ataques.

“Estamos ouvindo frases como ‘Deus é grande’ e ‘Estamos livres’ vindos de mesquitas espalhadas pela cidade. Há um verdadeiro clima de celebração entre as pessoas aqui, principalmente na região leste. Todos parecem acreditar que esse é mesmo o fim do regime”, relatou da Praça Verde uma correspondente da BBC cujo nome não foi divulgado para preservar sua segurança.

Segundo correspondentes da BBC na cidade, houve pouca resistência por parte forças do governo, à medida que os rebeldes avançavam. No entanto, o conflito continua em alguns bairros.

Uma desses pontos fica no entorno do hotel que hospeda a mídia internacional. Segundo o correspondente da BBC em Trípoli, Matthew Price, o local ainda estava sob poder do governo, mas os rebeldes tentavam controlar o hotel. Uma intensa troca de tiros podia ser ouvida do quarto do jornalista.

Celebrações também ocorrem em cidades como Benghazi (leste), uma das primeiras a ser tomadas pelos rebeldes.

‘Não se vinguem’
Mahmud Jibril, um dos principais membros do Conselho Nacional de Transição (CNT), pediu aos combatentes rebeldes que evitem qualquer vingança em Trípoli e fiquem alertas para “bolsões” de resistência pró-Kadhafi na capital.

“Hoje que nós comemoramos a vitória, apelo para a sua consciência e para a sua responsabilidade: não se vinguem, não saqueiem, não culpem os estrangeiros e respeitem os prisioneiros”, declarou Jibril, em um discurso oficial à televisão rebelde Libya al-Ahrar.

“Fiquem alerta. Bolsões de resistência (das forças pró-Kadhafi) ainda são localizados dentro e no entorno de Trípoli (…)”, acrescentou.

Filhos de Kadhafi capturados
O coordenador do Conselho Nacional de Transição, Adel Dabbechi, que apoia a invasão rebelde à Trípoli, afirmou neste domingo (21) que o filho mais velho do ditador Muammar Kadhafi, Mohammed Kadhafi, se rendeu às forças rebeldes.

Com a rendição, dois filhos do atual governante da Líbia estão sob poder das forças opositoras ao regime. Mais cedo, foi confirmada pelo Conselho a captura do filho mais novo de Kadhafi, Saif Al-Islam. “Nós demos instruções para tratá-lo bem, na intenção de que ele possa ser julgado depois”, afirmou o líder do Conselho Nacional de Transição, Mustapha Abd El Jalil.

“Ele está em um local seguro com guarda reforçada, aguardando para ser levado à justiça”, disse o representante em entrevista concedida em Benghazi, cidade tomada pelas forças opositoras no leste da Líbia.

Mortes
O porta-voz do regime líbio afirmou na noite deste domingo (21) que 1.300 pessoas foram mortas nas últimas 24 horas em Trípoli, classificando os combates entre rebeldes e forças do governo de “verdadeira tragédia”.

“Em 24 horas, 1.300 pessoas foram mortas em Trípoli”, disse Moussa Ibrahim, durante uma entrevista coletiva à imprensa, indicando que “seu regime permanece forte e que milhares de voluntários e soldados estão preparados para lutar”.

Ibrahim disse ainda que o regime líbio considera os países que compõem a Otan “diretamente responsáveis por todas as mortes desnecessárias” que ocorreram durante a ofensiva rebelde a Trípoli, citando os nomes de Barack Obama, do premiê britânico, David Cameron, e do presidente francês, Nicolas Sarkozy.

TV estatal cai e internet volta
No início da madrugada, o canal de TV oficial do país foi tirado do ar e a transmissão também foi interrompida na rede Al-Libiya, que pertence a Saif al-Islam, de acordo com relato da BBC.

Segundo moradores, os sinais foram interrompidos por grupos rebeldes. Há também relatos de pessoas em Trípoli que estão conseguindo entrar na internet, cujo acesso havia sido cortado no início do conflito, há seis meses.