Sob intensa crise política e econômica devido à ausência de consenso entre os líderes da Grécia, os gregos vivem um clima de “desalento”, segundo o embaixador do Brasil em Atenas, Oto Agripino Maia.
O embaixador disse à Agência Brasil que as novas eleições parlamentares, em 17 de junho, em busca de um governo de coalizão, estão cercadas de imprevisibilidade, pois o comportamento do eleitorado grego é marcado pela “surpresa”.
Para ele, os efeitos da crise sobre os 3 mil brasileiros que estão no país são diferenciados, pois a maioria é ligada à Grécia por laços afetivos, e não econômicos.
A seguir, os principais trechos da entrevista de Maia à Agência Brasil.
Agência Brasil: A situação na Grécia é tão grave quanto as informações que chegam no Brasil?
Oto Agripino Maia: Cada um tem uma dimensão diferente sobre a crise e faz sua própria avaliação. Mas é, sim, uma crise grave. É uma crise estrutural, profunda, e que reflete em certas dificuldades econômicas, inclusive de a economia grega gerar emprego e renda. Há mais de cinco anos o país está em recessão. Há uma dificuldade de a Grécia dar ‘a partida’ [em referência à retomada da atividade econômica] que a economia precisa. Esse é um aspecto.
ABr: Por que o senhor diz que esse é apenas um aspecto do problema econômico?
Maia: Digo isso porque, ao mesmo tempo em que verificamos muitas e muitas lojas fechando suas portas e os donos colocando placas de aluga-se, os cafés, um hábito por aqui, estão sempre lotados. Mas, nas conversas, no noticiário e no dia a dia entre os gregos, reina o clima de desalento. Há, ainda, informações de imigrantes [não necessariamente brasileiros] que trabalham em hotelaria e turismo, que estão voltando para seus países.
ABr: O senhor acredita que as eleições de 17 de junho mudarão esse quadro?
Maia: As eleições do dia 6 mostraram que os resultados das eleições foram surpreendentes. Portanto, dizer o que pode acontecer no campo político da Grécia é muito difícil. Os eleitores podem, na sua maioria, votar pela reaglutinação dos partidos políticos [diferentemente do que ocorreu no começo deste mês] ou podem partir para justamente o contrário [manter a dispersão de votos das últimas eleições], aí o impasse permanece [para formação de um governo de coalizão].
ABr: A comunidade brasileira tem procurado a embaixada ou pedido orientações ao senhor e sua equipe?
Maia: A comunidade de cerca de 3 mil brasileiros que vive aqui tem características bem próprias. Em geral, na sua maioria, são brasileiras casadas com gregos, portanto, os vínculos dessas pessoas com a Grécia não é econômico. É afetivo. Mas, nos últimos dez anos, aumentou o número de brasileiros no país para jogar em times de futebol e trabalhar como capoeiristas.
ABr: Por outro lado, o senhor acredita que o número de gregos querendo imigrar para o Brasil devido à crise aumentou?
Maia: Por enquanto não é possível fazer essa avaliação porque os gregos podem ir para o Brasil para observar a situação do país, sem necessariamente informar à embaixada. Os gregos podem ficar no Brasil por até 90 dias com o visto de turista, isso é legal. Mas é possível que esse movimento esteja realmente ocorrendo.