Os slogans sobre “esperança” e “mudança” sumiram, mas a Convenção Nacional Democrata que começa nesta terça-feira (4) tentará ecoar o entusiasmo de 2008, quando o então candidato Barack Obama se apresentou como um líder visionário para mudar os destinos do país.

Considerado o pontapé da campanha eleitoral, o evento abre no Time Warner Cable Arena, em Charlotte, na Carolina do Norte, e tentará lotar o estádio Bank of America, com capacidade para 74 mil lugares, na quinta (6), dia em que Obama e o vice Joe Biden serão oficializados candidatos à Casa Branca.

A ideia é dar à convenção democrata um aspecto mais popular, em contraste com evento republicano que formalizou a candidatura de Mitt Romney na semana passada num centro de convenções em Tampa, na Flórida. Milhões de espectadores devem assistir ao discurso de Obama pela TV, que o transmitirá ao vivo.

O evento ganha importância ao se recordar que foi numa convenção partidária, em 2004, que o então senador por Illinois ganhou fama nacional. Com habilidades de bom orador, Obama foi escolhido então para apresentar o candidato presidencial John Kerry.

Assessores dizem que os principais temas do discurso de quinta-feira serão educação, desoneração tributária para quem ganha até US$ 250 mil por ano, energia, imigração e questões sociais.

A intenção, diz a campanha, é apresentar um pronunciamento mais específico do que o de Romney, criticado pelos democratas por ter focado na sua própria apresentação e não ter tocado em temas caros aos americanos.

Obama, que tenta se tornar o primeiro presidente norte-americano desde a Segunda Guerra Mundial a se reeleger, argumentará que tem ideias melhores para ajudar o país a se recuperar de uma recessão que começou no governo do antecessor dele, o republicano George W. Bush -num momento em que a oposição o acusa de ter fracassado na recuperação da economia.

“Nesta quinta-feira à noite, vou lhes oferecer o que acredito ser um caminho melhor para frente – um caminho que cresça esta economia, crie mais bons empregos e fortaleça a classe média”, disse Obama durante ato de campanha em Iowa.

A dois meses das eleições presidenciais, em 6 de novembro, Obama aparece praticamente empatado com o republicano Mitt Romney nas últimas pesquisas de intenção de voto.

Clinton e Michelle
Enquanto na convenção republicana contou com o discurso surpresa do ator e cineasta Clint Eastwood como convidado surpresa, o evento democrata escalou o ex-presidente Bill Clinton para ajudar a campanha à reeleição do presidente.

A participação de Clinton é uma das mais aguardadas da convenção, na quarta. Por muito tempo, dos dois mantiveram relações tensas, após as primárias democratas de 2008 disputadas entre Obama e Hillary Clinton.

Enquanto Obama ampliará os temas em seu discurso, buscando não focar apenas na economia, Clinton deve advertir os americanos sobre os perigos da política econômica de Romney, comparando com os anos Bush.

Aos 66 anos, o ex-presidente viu sua popularidade crescer desde que deixou a Casa Branca, em 2001, abalado no segundo mandato pelo escândalo com a jovem estagiária Monica Lewinsky. Há duas semanas, Clinton é visto em comerciais da campanha na TV, amplamente exibidos em estados que podem decidir a eleição.

Como Ann Romney na convenção republicana, a primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, também discursará nesta terça-feira e tentará apresentar uma imagem menos política do marido, antes da apresentação de Julián Castro, prefeito da cidade de San Antonio, que será o primeiro latino a fazer o discurso principal de um dia da convenção.

Na quarta-feira, a primeira-dama se reunirá com o grupo de delegados latinos do partido, em um sinal da grande importância que a campanha de Obama dá a uma aproximação desta comunidade chave para vencer a eleição e que, segundo as pesquisas, apoia o presidente por ampla maioria.

Entusiasmo
Analistas e assessores do partido reconhecem que será difícil recriar o mesmo entusiasmo de 2008, quando chegavam ao fim os oito anos do republicano George W. Bush no poder, em meio a uma crise financeira cujas consequências ainda não foram superadas.

Assim, Obama tem que defender sua luta pelas mudanças: a histórica reforma do sistema de saúde, a ordem para acabar com a restrição que obrigava os homossexuais a esconder a orientação sexual nas Forças Armadas, a retirada do Iraque e a morte do líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden.

O presidente insistirá no plano para elevar os impostos aos ricos e na manutenção do sistema de saúde para os idosos, além de demonstrar mais sensibilidade com a classe média que Romney, mas não será fácil retomar o entusiasmo provocado pelo slogan de “mudança” que em 2008 o transformou em super-herói. Em 2012, sem o mesmo encanto, o democrata aposta na continuidade de seu trabalho.