O mundo foi tomado por uma grande surpresa no dia 02 de dezembro de 2010 com a escolha da Rússia e do Catar para sediar a Copa do Mundo de 2018 e 2022 respectivamente. Mais de dois anos depois a decisão ainda gera controvérsia. O suficiente para ser motivo de ampla investigação da tradicional revista “France Football” em um artigo de 15 páginas publicado nesta terça-feira.

Com a chamada “Qatargate” –trocadilho com o histórico escândalo de Watergate que levou a renúncia do presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon nos anos de 1970—a publicação reúne uma série de acusações que até certo ponto não são reveladoras, mas impressionam pela quantidade.

Eis alguns dados levantados pela revista:

Compra de votos: cartolas africanos como o Issa Hayatou (Camarões) e Jacques Anouma (Costa do Marfim) foram comprados por US $ 1,5 milhões (cerca de R$ 3 milhões cada). O autor da denúncia foi um membro do comitê da candidatura do Catar, Al Majid Phaedra. Misteriosamente ele voltou atrás das denúncias e se retratou publicamente.

Pedido pessoal do presidente francês a Michel Platini: a publicação também revela um suposto pedido do então presidente francês, Nicolas Sarkozy ao presidente da UEFA, Michel Platini, que deveria apoiar a candidatura dos EUA, mas preferiu o Catar por “razões geopolíticas”. Platini e Sarkozy se reuniram com o xeque Tamim bin Hamad al Thani e com o emir do Catar Hamad bin Khalifa Al-Thani. A pauta da reunião foram futuros investimentos do país no futebol francês. Como se sabe, Tamim bin Hamad al Thani é o cabeça da Qatar Sports Investments, empresa que fez do PSG um dos clubes mais ricos do mundo e promete mudar a geografia do futebol europeu. Liguem os pontos…

Milhões para o futebol argentino: um representante do Catar teria oferecido muita grana para ajudar clubes argentinos em dificuldades financeiras para garantir o voto de voto de Julio Grondona que acumula os cargos de presidente da AFA e vice-presidente de finanças da Fifa. Grondona teria justificado o voto no Catar por razões políticas. “Votar nos EUA seria como votar na Grã-Bretanha, referindo-se aos conflitos diplomáticos entre Argentina e Reino Unido relacionados à soberania das Ilhas Malvinas”, disse.

Ricardo Teixeira no balaio: a revista inclui nas denuncias o ex-presidnete da CBF. Ele estaria diretamente envolvido na compra de votos para dar ao Catar a Copa do Mundo de 2022. Conforme a revista, o amistoso entre Brasil e Argentina, no final de 2010, seria o pagamento: a CBF recebeu US$ 7 milhões (cerca de R$ 14 milhões) pelo jogo, quando normalmente ganha US$ 1,2 milhão por partida amistosa (cerca de R$ 3 milhões).

A cereja do bolo

 

Um dos pontos altos da reportagem é a entrevista do ex-diretor da Fifa, Guido Tognoni que se referiu a entidade que comanda o futebol mundial como uma “pequena máfia”. Além de conceder entrevista a publicação, Tognoni revelou uma conversa por e-mail com um alto dirigente da Fifa em que é categórico “eles compraram a Copa”.

Ele também diz que o atual presidente da Fifa Sepp Blatter não apoiava a candidatura do Catar. “Ele queria que a Copa do Mundo fosse para a Rússia em 2018 e para os Estados Unidos em 2022. Assim, ele poderia, então, ofecerer o Mundial de 2026 para a China. Mas o lobby do Catar era tão intenso… Nunca tinha visto antes um país tão determinado a assumir um papel importante no cenário mundial.

A “France Football” é uma das mais influentes revistas de futebol do mundo e também é parceira da Fifa no prêmio de melhor jogador do ano. A famosa “Bola de Ouro”. As suspeitas em torno da Copa do Catar em 2022 estão bem longe de acabar e muita coisa deve ser desvendada até lá. Aguardemos…