As Forças Revolucionárias da Colômbia (Farc) anunciaram hoje (30) que continuarão a capturar militares no país, no contexto do conflito armado. O anúncio foi feito em Havana, capital cubana, onde está concentrada a delegação da guerrilha que negocia a paz com o governo colombiano, desde novembro do ano passado.
“Reservamo-nos o direito de capturar como prisioneiros os membros da força pública que se renderam em combate. A eles chamamos de prisioneiros de guerra. Esse fenômeno acontece em qualquer conflito que existe no mundo”, disse o comunicado das Farc.
O grupo armado também reforçou seu comprometimento de não fazer sequestros extorsivos. Em fevereiro do ano passado, a guerrilha anunciou a abolição dos sequestros de caráter econômico de civis.
O comunicado ocorre poucos dias depois da captura de Victor González e Cristian Camilo, policiais sequestrados pela guerrilha na semana passada, no Vale de Cauca, no sudoeste do país. Os dois oficiais são os primeiros capturados pelas Farc após a libertação de quatro militares e seis policiais, em abril do ano passado. Na ocasião, esses eram, oficialmente, os últimos reféns militares em poder da guerrilha.
Nessa terça-feira (29), o ministro de Defesa da Colômbia, Juan Carlos Pinzón, exigiu a liberação dos dois militares e criticou o sequestro. “Enquanto as autoridades fazem esforços para garantir a segurança do país, a guerrilha se dedica a cometer atentados e outros delitos de lesa-humanidade”, atacou Pinzón.
Para analistas ouvidos pela Agência Brasil, o anúncio das Farc segue as regras aplicadas pelo Direito Internacional Humanitário (DIH), que deve ser obedecido em casos de guerra. O cientista político colombiano Álvaro Villarraga explica que as Farc devem ser coerentes no sentido de não sequestrar civis, conforme prometeram, mas que, no âmbito do DIH, capturar militares não é uma infração.
“Fazer prisioneiros de guerra ou capturar envolvidos de ambos os lados, sejam guerrilheiros ou militares, é aceito do ponto de vista das regras da guerra”, diz Villarraga.
Mesmo assim, o pesquisador adverte que é difícil convencer a opinião pública. “Privar alguém de liberdade é ilegal no contexto dos direitos humanos, por isso é incompreensível para a sociedade, ainda que aceitável dentro da guerra”, arremata.
Já Ariel Ávila, coordenador da organização não governamental Corporação Novo Arco-Íris, especializada no conflito colombiano, acredita que o anúncio de manter a captura de militares serve para as Farc mostrarem que têm força. “A propaganda de que a guerrilha está acuada é enfraquecida quando eles mostram que têm capacidade de capturar militares em combate”, avalia.
E apesar da demonstração de força da guerrilha, Ávila também concorda que o desgaste com a sociedade é inevitável. “Estamos, mais uma vez, tentando um acordo de paz. E, em meio a essa negociação delicada, é complicado esperar compreensão da sociedade”, acrescenta.