Palestinos entraram em confronto com forças israelenses nesta quarta-feira na Cisjordânia ocupada durante manifestações para marcar os 65 anos da data que denominam de Nakba (Catástrofe), quando a criação do Estado de Israel resultou na perda de suas casas e eles se tornaram refugiados.
Um projétil lançado da Faixa de Gaza, governada pelo movimento islamista Hamas, explodiu em área aberta em Israel, sem causar vítimas, segundo um porta-voz militar israelense. Nenhum grupo de Gaza reivindicou de imediato a responsabilidade pelo disparo.
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, deve retornar à região na terça-feira, em nova tentativa de reavivar as conversações de paz, congeladas desde 2010.
Mas ainda não há nada definido e muitos palestinos se agarram ao desejo de refugiados e descendentes de retornar a terras ancestrais agora parte do território de Israel — ideia rejeitada por Israel, que alega que isso levaria ao fim do Estado judeu.
Manifestantes entraram em choque com forças israelenses diante de um campo de refugiados perto da cidade de Hebron, na Cisjordânia, e de uma prisão nas imediações de Ramallah, também nesse território. Vários palestinos ficaram feridos.
Em Jerusalém, a polícia israelense se confrontou com manifestantes palestinos, lançou granadas de efeito moral contra eles e efetuou várias prisões.
Milhares também protestaram na praça principal de Ramallah, a capital de facto dos palestinos enquanto Jerusalém permanece sob controle israelense. Eles seguravam cartazes com os nomes das vilas habitadas por palestinos até 1948 e mostravam chaves velhas, símbolos das casas perdidas.
“Pelo meu futuro e pelo retorno à terra da minha família, eu não quero mais negociações inúteis, mas o caminho da resistência e do fuzil”, disse Ahmed al-Bedu, um palestino de 15 anos, com cidadania jordaniana.
Árabes da região e de países vizinhos não conseguiram impedir na Guerra de 1948 o estabelecimento dos judeus na Palestina, os quais citavam laços bíblicos com a terra e a necessidade de um Estado judaico na região, que até então estava sob controle colonial britânico.
5,3 milhões de refugiados
Muitos moradores árabes fugiram ou foram expulsos à força de suas casas e depois impedidos de retornar. Somente a Jordânia, que agora tem um tratado de paz com Israel, deu cidadania aos refugiados palestinos.
Segundo cifras oficiais palestinas divulgadas esta semana, 5,3 milhões de palestinos –quase a metade do total distribuído por vários países– são registrados pelas Nações Unidas como refugiados na Síria, Líbano, Jordânia, Cisjordânia e Gaza.
Boa parte deles vive em campos de refugiados superlotados, quase sem acesso a emprego e serviços básicos.
Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, apoiada por países ocidentais, e ele mesmo um refugiado de uma cidade no norte de Israel, causou ultraje entre os palestinos no passado ao dizer a uma TV israelense que não pretende voltar para sua região de origem.
O principal negociador palestino com Israel, Saeb Erekat, disse nesta quarta-feira que os conflitos sectários na Síria e no Iraque põem perigo os palestinos lá residentes e que a recusa de Israel em “assumir a responsabilidade pela questão dos refugiados” e chegar a um acordo sobre uma “solução justa” para eles está prejudicando as perspectivas de paz.
A Autoridade Palestina quer criar um Estado independente na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, com Jerusalém Oriental como sua capital. Todos esses territórios foram tomados por Israel na guerra de 1967. Israel considera Jerusalém sua capital “eterna e indivisível”.