Uma pesquisa realizada pela Pew Research Center revela que o número de crimes por arma de fogo nos Estados Unidos reduziu de sete homicídios por 100 mil habitantes em 1993 para 3,6 em 2010. Comparando 2003 com 2010, a taxa foi 49% menor, apesar de a população ter crescido neste período, chegando a patamares somente vividos em 1960. 

Os crimes contra propriedade e roubo de carros, registrados entre 1993 e 2010, apresentaram queda de 61%, e a taxa de vitimas por outros crimes violentos como assaltos, roubos e crimes sexuais, foi 75% menor em 2011 do que em 1993. De acordo com o Congressional Research Service, desde 1968, a taxa de armas de fogo nas mãos de civis nos EUA dobrou. São cerca de 310 milhões de armas, quase uma por pessoa.
Entretanto, o estudo aponta que a maioria dos norte-americanos não tem a percepção desses índices. Atualmente, 56% dos cidadãos acreditam que o crime com arma de fogo é maior do que há 20 anos e apenas 12% acham que é menor.
O debate sobre a violência armada nos Estados Unidos voltou a ganhar notoriedade mundial depois que um homem armado matou 20 crianças e seis adultos em uma escola primária de Connecticut, em dezembro.
Apesar do terrível episódio, Connecticut nunca foi uma região violenta. Em todo o ano de 2010, teve menos de 150 assassinatos, e a pequena cidade de Newton, onde ocorreu o massacre, tem em média dezesseis crimes violentos por ano, e apenas um homicídio.
Além disso, a pesquisa da Pew Research Center demonstra que ataques em massa representam uma parcela relativamente pequena do índice geral de homicídios. Segundo os dados do Bureau of Justice Statistics, os homicídios envolvendo ao menos três vidas representaram menos de 1% de todas as mortes por homicídio no período entre 1980 e 2008.
Essas tragédias têm como característica comum o fato de serem extremamente planejadas e acontecem em locais onde os frequentadores não podem entrar armados, as chamadas “gun-free zones”, ou “áreas livres de armas”, como cinemas, escolas e universidades. Os massacres registrados em outros países como Brasil, Japão, China e Inglaterra, também foram realizados nesse tipo de local e a escolha criteriosa para os ataques se deve ao fato de não haver chance de reação da vítima.
No Brasil, na chacina de Realengo em 2011, o assassino das doze crianças somente parou quando foi baleado por um policial que invadiu a escola. Já na chacina ocorrida em Virginia Tech em 2007, a liberação para que alunos e professores pudessem frequentar o campus armados entrou em discussão, isso porque a investigação demonstrou que, se isso fosse uma realidade, o ataque poderia ter cessado na primeira ou, no máximo, segunda vítima atingida pelo assassino.
A favor do desarmamento, o presidente dos EUA, Barack Obama apoiou recentemente a adoção de medidas mais rigorosas para os interessados em comprar armas e a proibição de armas de assalto e da venda de carregadores de alta capacidade. As medidas foram rejeitadas no dia 17 de abril pelo senado americano com 54 votos a favor e 46 contra, resultado abaixo dos 60 votos necessários para ser aprovada. Segundo os opositores ao controle de armas, “os criminosos não se submetem à checagem de antecedentes e também não vão se submeter a checagens mais amplas”. Atualmente, a checagem é obrigatória apenas para a venda em lojas licenciadas.
Para o especialista em segurança pública e presidente do Movimento Viva Brasil, Bene Barbosa, recorrer a restrições e ao desarmamento é fugir para o simplismo. ”Não podemos apelar para o confortável discurso que joga nas armas o poder sobrenatural de agir por conta própria. É preciso considerar a existência de pessoas más e insanas, capazes de matar cidadãos inocentes sem qualquer remorso ou arrependimento. Os loucos e criminosos ignoram a existência de leis restritivas”, afirma.
Barbosa também considera que para a maioria dos norte-americanos a ideia de não ter defesa, inclusive contra o Estado, é algo inaceitável. “É uma raiz histórica do país, advinda de seus fundadores, que na própria constituição garantiram que isso jamais deveria acontecer”.