A agência de notícias Reuters informou nesta terça-feira que as Forças Armadas do Egito pretendem dissolver o Parlamento e suspender a Constituição caso o governo do presidente Mohamed Mursi não chegue a um acordo com a oposição até esta quarta-feira.

As informações ainda não foram confirmadas oficialmente pelos militares. Segundo a Reuters, o plano é o que o chefe do Estado-Maior egípcio, Abdel Fattah el-Sisi, chamou de “próprio roteiro para o futuro do país” no discurso em que convocou o ultimato, na segunda (1º).

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De acordo com os militares questionados pela agência, o plano prevê a suspensão da Constituição criada em dezembro e a dissolução da Câmara Alta do Parlamento, em que a maioria dos integrantes é aliada ao grupo religioso Irmandade Muçulmana, ao qual pertence Mursi.

A legitimidade do Legislativo é duramente criticada pelos opositores, assim como a Constituição, elaborada em uma Assembleia Constituinte de franca maioria islâmica. Em ambos os casos, houve boicote dos rivais do presidente porque consideraram as eleições ilegítimas.

Após a dissolução do Parlamento e do fim da Constituição, seria formado um conselho interino, composto de forma majoritária por civis de diferentes grupos políticos, além de tecnocratas que conduziriam o país até que a nova lei máxima fosse elaborada.

Assim que o documento fosse aprovado, seriam convocadas novas eleições presidenciais, mas o Legislativo só seria escolhido após a aprovação de condições estritas para a seleção dos candidatos. Os militares dizem que pretendem ouvir a opositora Frente de Salvação Nacional, mas não deu detalhes sobre contatos com Mursi.

PRESIDENTE

Ainda não há definição sobre o destino do presidente Mohamed Mursi, embora alguns militares discutam a sua saída e colocar como chefe de Estado o presidente do Tribunal Constitucional, Adli Mansour.

No entanto, não há disposição do mandatário e de seu grupo político de deixar o cargo. Mais cedo, Mursi rejeitou o ultimato do Exército e disse que não tinha sido consultado sobre o projeto político dos militares. Ele ainda afirmou que apresentará seu próprio plano para dar fim à crise política.

“A Presidência observa que essa iniciativa carrega pontos que podem causar confusão no complexo ambiente político nacional. O presidente confirma que continuará avançando em seu plano inicial para promover a reconciliação nacional, enquanto esse tipo de comunicado aprofunda a divisão entre os cidadãos”.

Pouco antes da notícia da Reuters, a Frente de Salvação Nacional anunciou a convocação do prêmio Nobel da Paz Mohamed el Baradei para as negociações com os militares. Já um dos líderes da Irmandade Muçulmana, Mohamed al Beltagui, pediu aos seus seguidores que “se disponham ao sacrifício” para defender o governo.

Na Tanzânia, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, defendeu a solução democrática para o conflito no Egito e pediu que Mursi promova a conciliação.

Segundo fontes do governo americano questionadas pela rede CNN, Washington pediu a convocação de novas eleições e advertiu os militares do risco de perder os Estados Unidos como aliados caso aconteça um golpe de Estado.