O primeiro-ministro interino do Egito, Hazem el-Beblawi, propôs neste sábado a dissolução da Irmandade Muçulmana no país. A entidade, à qual o presidente deposto Mohammed Mursi é vinculado, afirma ter sofrido um golpe de Estado e se recusa a negociar com o governo provisório.
O movimento islâmico também convocou uma série de protestos desde julho contra a retirada de Mursi e montou dois acampamentos no Cairo, que foram desmontados na quarta (14) em uma ação policial que terminou em confronto e levou a um massacre que deixou mais de 600 mortos.
Autoridades egípcias detêm mais de mil islamitas nas últimas horas
Repressão no Egito tem apoio doméstico e mostra polarização e indiferença
Análise: Egito caminha rumo a um futuro de massacre e tirania
Em repúdio à operação coordenada pelo governo interino, os islamitas convocaram na sexta (16) uma onda de protestos, chamada “dia da fúria”. Houve novos confrontos nas manifestações, que deixaram 173 mortos e 1.330 feridos em todo o país, segundo o Ministério da Saúde.
A proposta de dissolução da Irmandade Muçulmana foi feita pelo chefe de governo ao Ministério de Assuntos Sociais, responsável por licenciar entidades não governamentais. De acordo com o porta-voz da pasta, Sharif Shawky, o pedido está em estudo.
“A reconciliação está aí para aqueles cujas mãos não estão sujas de sangue”, disse Shawky, em crítica ao movimento, considerado pelo governo interino como responsável pelas mortes durante a ação militar de quarta e os protestos de sexta.
A Irmandade Muçulmana foi registrada como organização não governamental em março, em resposta a um processo legal movido por opositores ao grupo que contestavam sua legalidade. Foi a primeira vez que o movimento islâmico conseguiu o reconhecimento do governo.
O grupo, fundado em 1928, foi dissolvido em 1954 pelo regime militar egípcio e foi considerado ilegal até o início deste ano, quando o país era governado por Mursi. Seu braço político, o Partido Liberdade e Justiça, foi estabelecido em 2011, após a queda do ditador Hosni Mubarak.
MESQUITA
Segundo o Ministério da Saúde, 95 das 173 pessoas mortas em todo o país estavam na praça Ramsés, palco do maior ato dos islamitas contra o governo interino no Cairo na sexta (16). Outras 596 pessoas ficaram feridas na ação. No entanto, a Irmandade Muçulmana afirma que os mortos passaram de cem.
Parte dos corpos está na mesquita de Al Fath, perto da praça, que foi usada pelos islamitas como hospital e necrotério improvisados durante a manifestação. Durante a noite, quando entrou em vigor o toque de recolher imposto pelo governo interino, cerca de mil islamitas ocuparam o templo.
A mesquita foi cercada pelos militares, que invadiram o local durante a madrugada e permitiram a saída de centenas de islamitas. Eles saíram escoltados pelos agentes, que controlaram centenas de aliados do governo interino que queriam atacá-los.
Neste sábado, porém, há relatos de troca de tiros entre os manifestantes remanescentes e a polícia do lado de fora do templo. Segundo a rede de televisão Al Jazeera, o tiroteio começou após uma pessoa disparar do minarete (torre) do prédio.
Parte dos soldados e dos manifestantes que estão na porta da mesquita se abrigaram atrás de tanques do Exército, que foram colocados na frente do prédio. Mais cedo, o Ministério do Interior anunciou que prendeu 1.004 “elementos”, que foram acusados de atos de terrorismo durante os protestos.
Editoria de Arte/Folhapress | ||