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COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
PEQUIM — Dezenas de parentes de passageiros do avião desaparecido da Malaysia Airlines entraram em confronto com a polícia em Pequim, acusando a Malásia de “atrasos e mentiras”, um dia depois de o país confirmar que o avião caiu em mares remotos na costa da Austrália. Cerca de 20 dos 30 manifestantes jogaram garrafas d’água na embaixada da Malásia e tentaram invadir o prédio, exigindo se reunir com o embaixador, disseram testemunhas. Em entrevista coletiva nesta terça-feira, o ministro do Transporte malaio, Hishammuddin Hussein, informou que as buscas se concentram agora exclusivamente no Sul do Oceano Índico, mas foram interrompidas devido ao mau tempo e à agitação do mar. A companhia ofereceu aos familiares uma assistência financeira inicial de 5 mil dólares por passageiro.
Enquanto o ministro prometeu fornecer mais explicações em outro momento, novos rumores surgem sobre o desaparecimento do voo. Fontes próximas ao caso afirmaram que investigadores praticamente descartaram a tese de incêndio ou falha técnica e se concentram na hipótese de uma “missão suicida”, segundo o jornal “Telegraph”. Ainda de acordo com o diário, os investigadores acreditam que a mudança de rota da aeronave e a desativação do sistema de comunicação “foram um ato deliberado por alguém a bordo que tinha conhecimento detalhado do que foi feito”.
Diante da revolta dos familiares, a Malaysia Airlines defendeu sua decisão de enviar na segunda-feira uma mensagem de texto por celular informando os parentes dos passageiros que o voo provavelmente tinha caído no Oceano Índico sem sobreviventes. O CEO da companhia Ahmad Jauhari Yahya justificou que a motivação da empresa era “garantir que as famílias soubessem da trágica notícia antes do mundo”. O envio do torpeto antecedeu uma entrevista coletiva com as novas informações.
Além da assistência financieira, a Malaysia Airlines informou que está oferecendo “suporte abrangente” para as famílias das 239 pessoas a bordo do voo 370, que inclui alimentação, hospedagem e apoio psicológico.
Enquanto marchavam pacificamente com faixas, os parentes, muitos com o rosto coberto de lágrimas, gritaram “o governo malaio nos enganou” e “Malásia, devolva nossos parentes”. A polícia formou uma barreira humana em frente à embaixada, impedindo-os de chegar perto do edifício.
Eles seguravam cartazes com a mensagem: “MH 370, não nos deixe esperar tanto!” e “1,3 bilhão de pessoas estão esperando para saudar o avião”. E usavam camisetas que diziam: “Boa sorte para MH370, volte para casa com segurança”.
— Nós esperamos por 18 dias e, ainda assim, vocês nos fazem esperar. Quanto tempo vamos aguentar? — disse uma mulher.
As fotografias publicadas pelos meios de comunicação chineses mostraram manifestantes com cartazes cobrando uma resposta da companhia aérea: “Malaysia Airlines! Você nos deve uma explicação”.
— Ainda estamos lidando com o assunto, e ainda temos de liberar algumas informações publicamente — disse um funcionário da embaixada da Malásia à agência Reuters por telefone.
Mais cedo, uma declaração de parentes denunciou o governo Kuala Lumpur e sua companhia aérea nacional como “carrascos”.
Familiares acusam governo de ocultar a verdade
As emoções apresentadas pelos familiares ressaltam uma reação que tem se espalhado na China contra a Malásia, um destino que sempre foi popular entre os turistas chineses que procuram os trópicos, mas cujo governo agora é visto por muitos chineses que tem administrado mal a crise. A maioria das pessoas a bordo do voo de Kuala Lumpur para Pequim era da China.
Logo no início de terça-feira, poucas horas depois do primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, ter dito que o avião caiu no Oceano Índico, um parente não identificado de um passageiro leu uma declaração no hotel em Pequim, onde muitos dos familiares das pessoas a bordo estavam hospedadas, denunciando a companhia aérea, o governo da Malásia e militares por “constantemente tentar adiar, ocultar e encobrir a verdade”.
“Foi uma tentativa de enganar as famílias dos passageiros e uma tentativa de enganar as pessoas do mundo”, disse o comunicado , que mais tarde foi postado em um microblog chinês pelo Comitê das Famílias do MH370 da Malaysia Airlines.
As famílias, em um comunicado, disseram que iriam “tomar todos as medidas possíveis para o exercício da culpa imperdoável da companhia aérea, do governo da Malásia e dos militares”.
— Esses atos desprezíveis nos enganaram e devastou física e mentalmente as famílias de nossos 154 passageiros chineses, ao mesmo tempo, eles também atrasaram a operação de resgate, desperdiçaram uma grande quantidade de mão de obra, recursos materiais e perderam o momento mais precioso para os esforços de resgate — disse um membro de família não identificado a repórteres.
— Se os nossos 154 entes queridos a bordo perderam suas vidas preciosas no avião por causa disso, então a Malaysia Airlines, o governo da Malásia e os militares da Malásia são os executores reais que mataram nossos entes queridos — acrescentou.
A Malaysia Airlines prometeu levar os parentes para a Austrália, o ponto principal da busca. O ministro da Defesa australiano, David Johnston, disse que o primeiro-ministro, Tony Abbott, quer ajudar as famílias.
— Eu sei que o primeiro-ministro está muito preocupado e daremos toda a cortesia possível. Eles passaram por uma montanha-russa emocional, durante duas semanas, o meu coração está com eles. Faremos tudo o que pudermos para lhes dar uma aparência de encerramento — disse Johnston à rádio Fairfax.