Dependendo do número, a China já é a maior economia do planeta e entendeu que a poluição é o principal obstáculo ao crescimento. A guerra que a China declarou à poluição é o tema de uma série de reportagens especiais que o Jornal da Globo exibe, em parceria com o Globo Natureza.
Nem a maior e mais exuberante de todas as fortalezas já construídas pela humanidade foi capaz de proteger os chineses de novo inimigo. Ele está presente no ar que se respira, e quando não mata, causa doenças e limitações importantes no dia a dia.
A coluna Sustentável foi até a China para acompanhar de perto a guerra declarada por este país contra a poluição.
CONSUMO ENERGÉTICO
O primeiro-ministro Li Keqiang foi claro: a poluição é o inimigo. Um inimigo criado dentro de casa.
A energia que move a economia chinesa virou caso de saúde pública. O carvão mineral responde por 80% de toda a matriz energética do país e, há pelo menos três décadas, vem turbinando o crescimento à custa de muita fumaça.
Nos últimos dez anos, o consumo de energia mais que dobrou. Foi nesse período que a China ultrapassou os Estados Unidos como o maior poluidor do planeta e principal vilão do aquecimento global.
A energia suja ajudou o país a passar da condição de emergente para potência econômica, com direito a indicadores impressionantes de inclusão social. Praticamente inexistente na década de 1990, a classe média chinesa tem hoje quase 330 milhões de pessoas.
FEBRE DOS AUTOMÓVEIS
Achou muito? A China tem mais de 1,354 bilhão de habitantes, e 52% deles estão nas cidades (711.820.000). E não vieram de bicicleta, não. A febre dos automóveis pegou o chinês de jeito.
Em nenhum outro lugar do mundo a frota automobilística cresceu tão rápido quanto na China. O país hoje tem mais carros que os Estados Unidos e, a cada mês, são licenciados e emplacados mais 1 milhão de veículos.
OS resultado desse crescimento descontrolado são visíveis. Engarrafamentos que crescem a cada dia e o agravamento da poluição do ar.
Também pudera: toda essa frota consome 80 milhões de toneladas de gasolina por ano e 180 milhões de toneladas de óleo diesel. E tudo isso saindo dos escapamentos.
Muitos chineses usam máscaras para andar na rua
AR DIFÍCIL DE RESPIRAR
Fumaça do carvão, fumaça dos automóveis e um ar difícil de respirar.
O ar de Pequim é denso, pesado. Uma mistura de poeira, fumaça e partículas em suspensão. Quem está lá, logo sente os efeitos da poluição. Nariz entupido, olhos secos, garganta irritada são os sintomas mais comuns.
Neste inverno, no auge da poluição, respirar por um dia em Pequim teve o mesmo efeito que fumar um maço e meio de cigarros.
Sem alternativa, o jeito foi usar máscaras. Para muitos, porque é bom pra saúde. Para outros, por medo de doenças.
APLICATIVOS DE SAÚDE
Em um país onde a informação é controlada com mão de ferro, surpreende também o sinal verde do governo para que diferentes aplicativos reportem de hora em hora a qualidade do ar nas principais cidades do país. Os indicadores vão de muito ameaçador à saúde a saudável.
É consulta obrigatória antes de sair de casa ou do trabalho. Aplicativos, máscaras e equipamentos que filtram o ar dentro das casas ajudam o cidadão, mas não resolvem o problema.
MORTES COM A POLUIÇÃO
O governo não confirma, mas especialistas em saúde calculam que aproximadamente 500 mil chineses morram a cada ano em consequência de doenças causadas ou agravadas pela poluição do ar.
E o povo reclama. As queixas contra a poluição do ar mais que dobraram em Pequim, a capital, nos primeiros cinco meses deste ano. Não à toa o governo considera a poluição do ar mais grave. E a pressão dá resultados.
Para começar, o governo chinês decidiu fechar 50 mil fornos a carvão, modernizar as termelétricas, incentivar a energia solar e a eólica, retirar 6 milhões de veículos considerados ineficientes das ruas.
Além disso, acelerar o plantio de árvores em uma área equivalente a trezentos e 30 mil campos de futebol ainda este ano, e aprovou alterações da lei de proteção ambiental para dar mais poder aos fiscais.
PLANEJAMENTO AMBIENTAL
Jinnan Wang é o homem que aponta os caminhos a serem seguidos pelo governo.Vice-presidente da Academia Chinesa para o Planejamento Ambiental, o professor Wang diz quanto o governo pretende gastar: US$ 300 bilhões contra a poluição do ar; US$ 340 bilhões até 2020 na limpeza da água. E ainda mais: nas três regiões mais afetadas (Hebel, Tianjin e Pequim).
É muito dinheiro, mas os resultados não vêm rápido. O diretor do Centro de Investigação de Políticas Climáticas da universidade Tsinghua, em Pequim, professor Tzi Ié, um estudioso da questão, não arrisca previsões, mas garante que a China chega lá.