Autoridades que investigam o crime organizado acreditam que o mesmo grupo responsável pelos roubos milionários a empresas de transporte de valores, incluindo o mega-assalto no Paraguai na segunda-feira, 24, também planejou o resgate frustrado de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, chefe do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Marcola está preso em Presidente Prudente, no interior paulista, cidade que foi ocupada na segunda por agentes das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), grupo de elite da PM, após as informações sobre o plano de fuga. A facção é apontada como mentora e financiadora dos ataques a empresas de valores em São Paulo e no Paraguai que renderam mais de R$ 250 milhões em menos de dois anos.
As investigações apuraram que, para atacar as empresas de transporte de valores, a facção criminosa conta com um “núcleo principal”, formado por responsáveis pelo planejamento das ações. Essas pessoas recebem informações da rotina da empresa e o mapa do prédio a ser atacado e, para executar os roubos, terceirizam as tarefas, contratando outros bandidos. Segundo a polícia, um grupo é chamado para roubar os carros que serão usados, outro fica com a tarefa de transportar as armas, de fazer a contenção da polícia e invadir o prédio.
O Estado apurou que o mesmo núcleo planejou o resgate de Marcola e dos 12 outros integrantes da cúpula do PCC após receber a “autorização” da liderança. Todos estão presos em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), considerado o mais rigoroso do sistema. Lá, os presos ficam trancados 23 horas por dia, sem acesso a TV, jornais e revistas. Visitas são permitidas após rigorosa apuração.
A Rota está em Presidente Prudente desde a madrugada de sexta-feira, 21, e não tem previsão para ir embora, como o Estado revelou nesta terça-feira, 25. Outros grupos de elite da PM estão em alerta e podem ser acionados a qualquer momento.
A cúpula vai ficar nesse regime disciplinar por ao menos um ano e há possibilidade de transferência para presídios federais, que são ainda mais rigorosos. Esse foi o motivo, segundo as investigações, para iniciar o plano de resgate de Marcola. A decisão sobre as transferências está com o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).
Estratégia. Os bandidos pretendiam utilizar a mesma estratégia adotada nos roubos milionários – como os ocorridos em Santos, Campinas e Ribeirão Preto, entre 2015 e 2016. Ou seja, os acessos aos presídios seriam cercados e vigiados por homens fortemente armados, enquanto outro grupo seria responsável por matar os seguranças. Portões e muralhas seriam derrubados com explosivos.
Para a fuga, os bandidos iriam incendiar carros e colocar pregos nas vias para impedir a chegada da polícia. E homens armados com fuzis e metralhadoras, incluindo a ponto 50 (capaz de derrubar helicóptero), enfrentariam os policiais que furassem o bloqueio. Mas, no lugar de dinheiro, a quadrilha estaria atrás da cúpula do PCC.
“Um resgate desse porte só poderia ser feito por criminosos que possuem organização, logística, dinheiro e armamento pesado. E esse tipo de bandido, hoje, faz parte do PCC”, avalia o procurador de Justiça Márcio Sérgio Christino, especialista em crime organizado.

 

Alexandre Hisayasu / O Estado de S. Paulo