Donald Trump completa neste sábado (20) seu primeiro ano de mandato como presidente dos Estados Unidos. Foi tempo suficiente para mostrar que ele é, em muitos sentidos, um líder como os americanos nunca viram antes.

Defensor de projetos polêmicos, sempre pronto a dizer (ou postar no Twitter) suas verdades, doa a quem doer, Trump chegou ao cargo contrariando a maioria das previsões e pesquisas.

Vencedor pelo sistema do colégio eleitoral, mesmo tendo recebido menos votos que a adversária Hillary Clinton, o empresário de 71 anos assumiu o comando de um país dividido. Sua taxa de aprovação na posse, de apenas 40%, foi a menor entre seus três antecessores mais recentes e estava 40 pontos abaixo da de Barack Obama. Atualmente, a taxa de Trump se mantém nesse mesmo patamar.

 

Donald Trump discursa na cerimônia de posse como presidente dos EUA, em 20 de janeiro de 2017 (Foto: Carlos Barria/Reuters)

Donald Trump discursa na cerimônia de posse como presidente dos EUA, em 20 de janeiro de 2017 (Foto: Carlos Barria/Reuters)

 

Adversários – e até mesmo alguns republicanos – colocaram em xeque a saúde mental de Trump, considerando a aparente instabilidade emocional e a facilidade com que o presidente parece se irritar. Em fevereiro de 2017, profissionais de saúde mental demonstraram preocupação com a “grave instabilidade” de Trump, em uma carta publicada pelo jornal “The New York Times”.

Neste ano, a publicação do livro “Fire and Fury: Inside the Trump White House” (‘Fogo e Fúria: Dentro da Casa Branca de Trump’, em tradução livre), de Michael Wolff, atingiu a imagem de Trump como uma bomba.

O autor, que afirma ter tido acesso direto ao presidente e a muitos de seus assessores mais próximos, garante que a própria equipe de Trump o vê como uma “criança” e um “imbecil, idiota”. O presidente diz que o livro é uma obra de ficção, cheia de mentiras, e tentou impedir sua publicação.

De polêmica em polêmica, no entanto, Trump seguiu adiante e conseguiu implementar algumas de suas propostas, como a reforma fiscal e a restrição à entrada de estrangeiros de alguns países nos EUA, sob a alegação de defender a segurança do país.

Confira 12 marcas deste primeiro ano de governo Trump, explicadas ponto a ponto mais abaixo:

 

  • Empregos e bolsa em alta
  • Conflitos com a imprensa
  • Nomeação de muitos juízes
  • Medidas anti-Obama
  • Inimizades internacionais com Coreia do Norte e Irã
  • Boas relações com alguns líderes estrangeiros
  • Reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel
  • A novela da suposta influência russa
  • Medidas ambientais polêmicas
  • O fracasso da derrubada do Obamacare
  • O muro anti-imigrantes na fronteira com o México
  • Banimento de estrangeiros em nome da segurança

 

 

Empregos e bolsa em alta

 

A economia é o quesito no qual Trump recebe as notas mais altas da população. Em outubro, pesquisa do “Wall Street Journal” mostrou que 42% dos entrevistados apoiavam suas medidas no setor.

 

Além disso, o banco de investimento suíço UBS afirmou neste mês que Trump merece “nota alta” em relação à economia e à política fiscal, embora tenha ressaltado que um eventual exagero no protecionismo ou um conflito com a Coreia do Norte podem colocar tudo a perder.

Na primeira semana de 2018, o índice Dow Jones, um dos principais medidores do desempenho da bolsa norte-americana, atingiu um recorde histórico de 25 mil pontos, demonstrando o otimismo dos investidores com a economia do país.

Durante a maior parte da gestão Trump, houve alta na criação de vagas de emprego, com um crescimento acima do esperado já no primeiro mês de seu governo. Em outubro, a taxa de desemprego nos EUA chegou a 4,1%, a menor dos últimos 17 anos.

Foi também em uma questão econômica que Trump obteve sua primeira grande vitória legislativa. Em dezembro, ele conseguiu aprovar sua proposta de reforma tributária, promessa de campanha que anunciou como “presente de aniversário” aos americanos.

O texto destina-se principalmente a reduzir impostos sobre as empresas, diminuindo de 35% para 21% suas contribuições para o Tesouro, e as grandes rendas, com a criação de sete novos tipos de pagamento de impostos para indivíduos.

Essas e outras medidas fazem parte do que se considera o maior corte tributário desde o realizado pelo ex-presidente Ronald Reagan, em 1986. Embora tenham sido anunciadas por Trump como um presente a toda a população, especialistas afirmam que as medidas beneficiam especialmente os milionários e as grandes empresas.

 

Conflitos com a imprensa

 

Os baixos índices de popularidade não fizeram com que Trump mudasse seu estilo polêmico, que inclui provocações (a maior parte pelo Twitter), gafes diplomáticas e discursos em tom direto e, muitas vezes, agressivo.

Um de seus alvos favoritos é a imprensa. O primeiro desentendimento ocorreu logo após a posse, quando o presidente acusou jornalistas de serem desonestos por rejeitarem sua afirmação de que a sua cerimônia havia recebido um público recorde, mesmo diante das fotos que mostravam claramente um número menor de pessoas do que na posse de Obama.

 

O assunto rendeu ainda a famosa expressão “fatos alternativos”, usada por Kellyane Conway, assessora da presidência.

Sean Spicer, o primeiro secretário de imprensa de Trump, ficou conhecido entre jornalistas pelo tom rude com que tratava repórteres e chegou a proibir alguns veículos de imprensa renomados de participarem de entrevistas coletivas na Casa Branca.

Além disso, o presidente frequentemente ataca jornais e emissoras de TV: ele se refere ao “The New York Times” como “failing NY Times”, por exemplo, e acusa a CNN de veicular “fake news”.

Trump chegou ao ponto de publicar no Twitter um vídeo com uma montagem que o mostrava derrubando e espancando um homem cujo rosto foi substituído pela logomarca da CNN.

 

Nomeador de juízes

 

Trump deixará um legado duradouro nos tribunais norte-americanos. Desde que assumiu, ele foi o presidente que mais nomeou juízes nos últimos 40 anos. Com cargos vitalícios, esses magistrados e suas decisões provocarão impactos por décadas no país.

Até 3 de novembro, Trump já havia nomeado oito juízes para cortes federais e quatro para cortes distritais, com predominância absoluta de homens brancos, em muitos casos inexperientes e, em geral, com perfil fortemente conservador.

Segundo a agência de notícias Associated Press, de todos os seus nomeados, 91% são brancos e 81% são homens.

 

Entre as nomeações, a mais representativa foi a de Neil Gorsuch para a Suprema Corte. Com ele, o órgão voltou a ter uma maioria com tendência conservadora, o que teoricamente favorece Trump e sua agenda.

 

Donald Trump aplaude o novo integrante da Suprema Corte de Justiça, Neil Gorsuch (Foto: Evan Vucci/ AP)

Donald Trump aplaude o novo integrante da Suprema Corte de Justiça, Neil Gorsuch (Foto: Evan Vucci/ AP)

Mas nem todos os juízes deram alegrias ao presidente. Cortes derrubaram sua proposta de banir transgêneros nas forças armadas e também sua tentativa de cortar recursos de ‘cidades santuário’  que protegem imigrantes ilegais.

Os tribunais também têm imposto uma série de dificuldades ao plano de Trump de barrar viajantes de diversos países, a maior parte de maioria muçulmana. O presidente sofreu derrotas parciais em fevereiromarçooutubro. Em dezembro, a Suprema Corte até liberou temporariamente seu veto migratório, mas a decisão final ainda depende do andamento de processos em cortes inferiores.

 

Medidas anti-Obama

 

Uma das prioridades assumidas pelo novo presidente foi reverter políticas de seu antecessor nos mais diversos setores. Em novembro, Trump fez até uma piada com o assunto, ao lamentar não poder cancelar o “perdão” de Obama a perus no Dia de Ação de Graças de 2016, conforme a tradição norte-americana.

 

Donald Trump 'perdoa' peru em cerimônia na Casa Branca (Foto: Carlos Barria/Reuters)

Donald Trump ‘perdoa’ peru em cerimônia na Casa Branca (Foto: Carlos Barria/Reuters)

 

Logo em janeiro de 2017, Trump retirou os EUA do Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP, na sigla em inglês), assinado em 2015.

As relações com Cuba foram abaladas ainda mais após um misterioso incidente envolvendo um suposto “ataque sônico” mal explicado, que afetou diplomatas americanos e canadenses e suas famílias. O caso serviu como justificativa para que os EUA reduzissem seu número de diplomatas na ilha em cerca de 60%.

 

Inimizades internacionais

 

Ainda na América Latina, Trump se indispôs com o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ao chamá-lo de ditador e afirmar que considerava uma “opção militar” na Venezuela, declaração que provocou protestos do Mercosul mesmo com as rixas internas entre o bloco e Maduro.

 

Forças Armadas Nacionais Bolivarianas desfilam durante exercício militar em Caracas, na Venezuela (Foto: Reuters/Andres Martinez Casares)

Forças Armadas Nacionais Bolivarianas desfilam durante exercício militar em Caracas, na Venezuela (Foto: Reuters/Andres Martinez Casares)

O próprio Maduro respondeu Trump, ordenando exercícios militaresem seu país e afirmando que Trump é “o novo Hitler” da política internacional. A briga foi além, com o presidente americano assinando decretos impondo sanções à Venezuela e ao próprio Maduro, e incluindo altos funcionários venezuelanos na lista de cidadãos proibidos de ingressar nos EUA.

Outro alvo constante de Trump foi o Irã. Insatisfeito com o acordo nuclear assinado por Obama, o presidente não economizou nas ameaças de deixar o tratado, embora nunca tenha conseguido provas concretas de que alguma regra tenha sido quebrada, o que o deixaria livre para agir.

 

Em outubro, porém, Trump não certificou o pacto – embora este tenha sido mantido – e repetiu que o Irã “violou o espírito” do acordo. O presidente da França, Emmanuel Macron, outro signatário do pacto, tem sido um dos mais empenhados em mediar a situação e convencer o americano a permanecer.

 

Donald Trump discursa na Assembleia Geral da ONU, onde ameaçou 'destruir' a Coreia do Norte (Foto: Lucas Jackson/Reuters)

Donald Trump discursa na Assembleia Geral da ONU, onde ameaçou ‘destruir’ a Coreia do Norte (Foto: Lucas Jackson/Reuters)

Mas o inimigo favorito de Trump, sem sombra de dúvida, tem sido o líder norte-coreano Kim Jong-un. As trocas de ameaças e ofensas são uma constante há meses e se intensificaram após os testes com mísseis de Pyongyang.

Enquanto Kim apela para ataques pessoais e chama Trump de “doente mental senil”, “mentalmente perturbado” e coisas do tipo, o presidente americano diz que o “tempo da força” chegou e que a Coreia do Norte irá enfrentar “fogo e fúria jamais vistos”. Trump também declarou na ONU que vai “destruir” o país do “rocket man” (homem-foguete).

Em novembro, entretanto, um aparentemente sentimental (ou irônico?) Trump se mostrou magoado em uma mensagem no Twitter e lamentou o clima beligerante entre os dois líderes.

“Por que Kim Jong-un me insulta me chamando de ‘velho’ quando eu NUNCA o chamo de ‘baixo e gordo’? Oh, bem, eu tento tanto ser amigo dele – e talvez um dia isso aconteça!”, escreveu o norte-americano quando estava em visita ao Vietnã.

 

 

Boas relações com alguns líderes estrangeiros

 

Trump não fez apenas desafetos na comunidade internacional em seus primeiros 12 meses na Casa Branca. Entre as amizades que construiu, a mais pitoresca foi com o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte.

Um encontro entre os dois era aguardado com curiosidade, já que ambos são imprevisíveis e não medem palavras. Além disso, Trump havia criticado publicamente o governo filipino por sua atuação em relação aos direitos humanos.

Pessoalmente, porém, a empatia foi imediata. A polêmica guerra às drogas de Duterte não foi mencionada no encontro oficial e direitos humanos foram abordados “brevemente”, segundo a Casa Branca.

Ambos trocaram elogios. Mas o que mais chamou atenção mesmo foi o jantar que Duterte ofereceu a Trump: na ocasião, o presidente filipino cantou versos românticos dedicados ao colega americano e disse que subiu ao palco por uma ordem do republicano.

 

Donald Trump é recepcionado em Pequim, na China (Foto: Jonathan Ernst/Reuters)

Donald Trump é recepcionado em Pequim, na China (Foto: Jonathan Ernst/Reuters)

Outra aproximação surpreendente, embora muito mais séria, foi com o presidente chinês Xi Jinping. Após passar a campanha eleitoral inteira criticando a China, poucos imaginariam que o novo presidente americano se daria tão bem com o líder daquele país.

Ambos já trocaram inúmeros telefonemas, mantiveram discursos relativamente afinados em relação à Coreia do Norte – com eventuais críticas mútuas – e firmaram acordos comerciais de US$ 253 bilhões.

 

Xi também foi recebido por Trump e visitou até mesmo seu clube em Mar-a-Lago, onde foi o primeiro a saber do ataque dos EUA a uma base aérea na Síria, comunicado pessoalmente pelo presidente americano. Sete meses depois, a visita foi retribuída e Trump ganhou até um banquete na Cidade Proibida, em Pequim.

Um pouco mais na linha “tapas e beijos”, Emmanuel Macron, presidente da França, é outro líder que parece ter conquistado a admiração e o respeito de Trump. Os apertos de mão firmes e duradouros entre eles ficaram famosos, e o francês já recebeu diversos elogios.

Ele também parece ser um dos poucos que consegue exercer certa influência sobre Trump e, ao menos por enquanto, não foi criticado publicamente nem mesmo quando manifestou discordância.

Macron nunca escondeu seu descontentamento com a posição de Trump em questões ambientais, por exemplo. O presidente francês também afirma que o acordo nuclear com o Irã deve ser respeitado e mantido e foi, ainda, um dos mais duros críticos ao reconhecimento de Jerusalémcomo capital de Israel pelos EUA.

 

Jerusalém como capital de Israel

 

No final do ano, Trump atraiu críticas – e a ira – de uma parcela considerável da comunidade internacional ao anunciar que os EUA reconhecem Jerusalém como capital de Israel e que irão transferir para lá sua embaixada, atualmente instalada em Tel Aviv.

 

Em resposta, o Hamas convocou “três dias de fúria”, e uma série de protestos violentos se espalharam por diversos países do oriente médio, com mortes, feridos e danos materiais.

 

Muçulmanos seguram foto de Donald Trump com chifres e presas em protesto em Manila, nas Filipinas (Foto: Aaron Favila/AP)

Muçulmanos seguram foto de Donald Trump com chifres e presas em protesto em Manila, nas Filipinas (Foto: Aaron Favila/AP)

Dezenas de países emitiram comunicados condenando a decisão americana, e a Assembleia Geral da ONU adotou por ampla maioria uma resolução que condena o reconhecimento.

Dos 193 países-membros, 128 votaram a favor dessa resolução, incluindo o Brasil. Outros 35 países se abstiveram e 21 não se apresentaram para a votação. Apenas 9 países apoiaram a medida de Trump: Guatemala, Honduras, Ilhas Marshall, Micronésia, Nauru, Palau, Togo, Israel e os próprios Estados Unidos.

 

A novela da influência russa

 

A relação de Donald Trump com a Rússia talvez seja o item mais complexo e ambíguo de seu governo. O presidente chegou a dizer, em abril, que as relações entre seu país e os russos podiam “estar em seu ponto mais baixo de todos os tempos”.

Quatro meses depois, Trump ampliou sanções ao país por sua agressão militar na Ucrânia e na Síria – onde o Kremlin apoia o presidente Bashar al-Assad – e por uma suposta interferência nas eleições de 2016, as mesmas que o levaram ao poder.

Em suas conversas com Vladimir Putin por telefone ou pessoalmente, porém, o tom sempre foi amistoso, e eles inclusive anunciaram acordos em relação à situação na Síria – em julho, durante reunião na Alemanha, e em novembro, no Vietnã.

 
 

Donald Trump e Vladimir Putin em encontro de líderes da Apec no Vietnã (Foto: Mikhail Klimentyev/Sputinik/AFP)

Donald Trump e Vladimir Putin em encontro de líderes da Apec no Vietnã (Foto: Mikhail Klimentyev/Sputinik/AFP)

Nesse segundo encontro, Trump diz ter questionado o colega russo sobre sua possível interferência nas eleições americanas e, contrariando a CIA, garantiu acreditar na inocência alegada por Putin. “Realmente, acho que, se ele me disse isso, disse de verdade”, afirmou na ocasião, provocando indignação entre membros de seu próprio governo.

Quanto à tão comentada interferência nas eleições, Trump insiste que integrantes do Partido Democrata é que tiveram algum envolvimento com os russos durante a campanha presidencial, mas é inegável que um grande número de pessoas ao seu redor se relacionou com cidadãos e empresas daquele país antes e durante o período.

Até mesmo membros da família do presidente participaram de uma reunião com uma advogada russa durante o período eleitoral. E o primeiro a ser indicado a uma vaga em seu gabinete foi também o primeiro a cair – justamente por uma questão envolvendo a Rússia.

Menos de um mês após assumir o cargo de conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn renunciou por não ter revelado o conteúdo de suas conversas com Sergei Kislyak, o embaixador russo nos Estados Unidos, e não ter informado o vice-presidente Mike Pence sobre as conversas, nas quais falou sobre sanções americanas à Rússia.

 

Michael Flynn durante pronunciamento na Casa Branca no dia 1º de fevereiro (Foto: Reuters/Carlos Barria/File Photo)

Michael Flynn durante pronunciamento na Casa Branca no dia 1º de fevereiro (Foto: Reuters/Carlos Barria/File Photo)

O procurador-geral Jeff Sessions, outro integrante do governo, também se reuniu com Kislyak antes da eleição, mas negou qualquer possibilidade de conluio.

O embaixador russo se encontrou ainda com o genro do presidente, Jared Kushner, e disse que, na ocasião, Kushner pediu um canal de comunicação secreto entre a equipe de transição do presidente e o Kremlin, o que o marido de Ivanka Trump nega.

Kushner esteve ainda na mais comentada das reuniões envolvendo russos: aquela realizada na Trump Tower e que contou com a participação de seu cunhado, o filho mais velho do presidente, Donald Trump Jr.

Ao lado do então chefe de campanha de Trump, Paul Manafort, eles se encontraram com a advogada russa Natalia Veselnitskaya, supondo que ela teria informações comprometedoras contra a candidata democrata à presidência, Hillary Clinton. Embora a advogada negue, a imprensa americana afirma que ela tem ligações com o Kremlin.

 O conselheiro sênior da Casa Branca Jared Kushner, investigado no caso do possível elo entre a Rússia e a campanha eleitoral de Trump (Foto: Kevin Lamarque/Reuters)

O conselheiro sênior da Casa Branca Jared Kushner, investigado no caso do possível elo entre a Rússia e a campanha eleitoral de Trump (Foto: Kevin Lamarque/Reuters)

Manafort cumpre prisão domiciliar e pagou uma fiança de US$ 10 milhões após ser indiciado por conspiração e lavagem de dinheiro juntamente com um associado, Rick Gates. As acusações não são ligadas ao seu trabalho com Trump, mas sim com um trabalho que ele realizou antes, para o ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovych, ligado ao governo russo.

Outro ex-assessor a enfrentar problemas com a Justiça foi George Papadopoulos, que ocupava uma posição de menor relevância na campanha. Ele se declarou culpado por mentir ao FBI sobre suas relações com a Rússia. Papadopoulos marcou uma reunião com um acadêmico próximo a autoridades russas após este ter lhe dito que seus interlocutores tinham “sujeira” contra Hillary Clinton.

Embora negue categoricamente as acusações de que existam ligações entre sua campanha e a Rússia e se diga vítima da “maior caça às bruxas na história americana”, Trump pediu ao ex-diretor do FBI James Comey para que a investigação contra Michael Flynn fosse encerrada, segundo um memorando publicado pelo jornal “The New York Times”.

Em maio do ano passado, Comey foi demitido por Trump e a investigação sobre a suposta influência da Rússia nas eleições americanas de 2016 foi assumida pelo conselheiro especial Robert Mueller, ex-diretor do FBI. No dia 8 de janeiro, o “Washington Post” afirmou que Mueller pretende convocar Trump para uma entrevista nas próximas semanas.

 

Medidas ambientais polêmicas

 

Se Trump quer fazer um governo totalmente oposto ao de Obama, o meio ambiente é uma das áreas em que ele mais se empenhou para isso. Em março, o novo presidente assinou um decreto revogando uma série de regulações contra as mudanças climáticas.

Ele suspendeu medidas do Plano de Energia Limpa – o principal legado ambiental de Obama – e fortaleceu o uso de combustíveis fósseis.

 

Trump anuncia saída dos EUA do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas (Foto: AP Photo/Pablo Martinez Monsivais)

Trump anuncia saída dos EUA do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas (Foto: AP Photo/Pablo Martinez Monsivais)

Em 1º de junho, após meses de ameaças, Trump anunciou formalmente que os EUA deixariam o Acordo de Paris contra as mudanças climáticas, assinado em 2015 por 195 países e no qual foi assumido o compromisso de que os países devem trabalhar para que o aquecimento global fique muito abaixo de 2ºC em relação aos níveis pré-industriais.

A decisão deixou os Estados Unidos isolados na questão de combate às mudanças climáticas, pois todos os outros países aderiram ao tratado.

Perto do final de seu primeiro ano de mandato, Trump anunciou mais duas medidas contestadas por ambientalistas. A primeira, em dezembro, foi a maior redução de reservas ambientais da história dos EUA.

 

Vista do Monumento Nacional Bears Ears, em Utah, nos Estados Unidos (Foto: Andrew Cullen/Reuters)

Vista do Monumento Nacional Bears Ears, em Utah, nos Estados Unidos (Foto: Andrew Cullen/Reuters)

O Monumento Nacional Bear Ears, criado em 2016 por Obama, teve sua área reduzida em 20%, e o Monumento Nacional Grand Staircase-Escalante, designado por Bill Clinton em 1996, perdeu quase metade de sua área atual.

Já em 2018, Trump voltou a ser criticado por ambientalistas ao propor abrir quase todas as águas no mar dos Estados Unidos para perfuração de petróleo e gás, revertendo proteções nos oceanos Ártico, Atlântico e Pacífico.

 

O fracasso da derrubada do Obamacare

 

Existe, no entanto, uma política de Obama que Trump (ainda) não conseguiu derrubar, embora tenha sido uma das grandes promessas de sua campanha. E trata-se justamente de um projeto cujo apelido carrega o nome do seu antecessor.

 

Apesar das diversas tentativas e de ter maioria na Câmara e no Senado, o Partido Republicano simplesmente não conseguiu “repelir e substituir” o Obamacare como Trump prometeu. É certo que algumas medidas foram tomadas para enfraquecer a política de saúde implementada pelo ex-presidente democrata, mas os fundamentos permanecem em vigor.

 

O presidente da Câmara dos EUA, Paul Ryan, durante apresentação do plano de substituição ao Obamacare (Foto: AP Photo/J. Scott Applewhite)

O presidente da Câmara dos EUA, Paul Ryan, durante apresentação do plano de substituição ao Obamacare (Foto: AP Photo/J. Scott Applewhite)

O Congresso chegou a tentar um acordo bipartidário para resolver o assunto, com o qual Trump pareceu concordar a princípio, mas seu apoio durou menos de um dia até que mudasse de ideia.

Trump falou tanto no assunto – e o tema é tão complexo – que muitos americanos parecem crer que ele conseguiu mais do que de fato realizou.

Uma pesquisa da “The Economist” divulgada em 27 de dezembro revelou que 31% dos entrevistados acreditavam que o presidente manteve sua promessa de derrubar o Obamacare e 21% estavam incertos. Apenas 44% sabiam que ele não havia cumprido o prometido.

 

O muro anti-imigrantes na fronteira mexicana

 

Outra importante promessa de campanha a se transformar em uma grande novela foi o muro na fronteira com o México. A ordem executiva para iniciar sua construção foi assinada cinco dias após a posse, mas, um ano depois, nem um metro está de pé.

 

Não por falta de tentativa. Trump continua afirmando que enviará a conta da construção ao México, que por sua vez continuou respondendo que não pagaria (o que levou o presidente americano a pedir ao colega Enrique Peña Neto para parar de falar no assunto). Ele também tentou incluir a verba para começar a construção do muro no orçamento enviado ao Congresso, dizendo que depois enviaria a conta ao país vizinho, mas a estratégia não funcionou.

 

Protótipo de muro é instalado em San Diego, na Califórnia, em 3 de outubro de 2017 (Foto: Reuters/Jorge Duenes)

Protótipo de muro é instalado em San Diego, na Califórnia, em 3 de outubro de 2017 (Foto: Reuters/Jorge Duenes)

Trump chegou a propor instalar painéis solares na obra, como forma de gerar energia para ajudar no financiamento. E nada. Por fim, ofereceu um plano para proteger jovens imigrantes que entraram ilegalmente nos EUA durante a infância em troca da aprovação do Congresso à liberação de verba. Mas a tática, considerada chantagem pelos congressistas democratas, foi recusada.

Sem se dar por vencido, o presidente chegou a pedir que empresas erguessem protótipos do muro em San Diego, e oito delas foram selecionadas. Mas isso foi o mais próximo que ele conseguiu chegar de um muro de verdade, pelo menos por enquanto.

 

Banimento de estrangeiros em nome da segurança

 

A ação mais comentada e polêmica em termos de imigração foi o fim da recepção a refugiados e o banimento da entrada de viajantes de diversos países, a maior parte deles com população de maioria muçulmana – a lista variou de acordo com os decretos.

 

Trump foi derrotado em disputas judiciais e insistiu, até que finalmente conseguiu que a Suprema Corte liberasse de forma provisória um desses decretos. Hoje, cidadãos do Irã, Líbia, Síria, Iêmen, Somália, Chade, Coreia do Norte e alguns funcionários da Venezuela não podem entrar nos EUA.

Sob seu comando, o governo também endureceu a fiscalização aos imigrantes ilegais e aumentou o número de prisões. O presidente tentou ainda forçar as chamadas “cidades santuário” a diminuírem a proteção a essas pessoas, mas não conseguiu levar adiante sua ameaça de cortar verbas destinadas a elas.

Programas de proteção temporária que acolhiam 50 mil haitianos e 250 mil salvadorenhos tiveram seu fim anunciado. Esses cidadãos foram recebidas nos EUA após terremotos que devastaram seus países de origem.

Trump também já afirmou que pretende extinguir um programa de loteria de vistos, especialmente após um ataque em Nova Yorkcometido por um uzbeque que vivia legalmente no país graças a um sorteio do tipo.

Ainda pendente está a situação de ao menos 800 mil jovens imigrantes protegidos pelo DACA (Deferred Action for Childhood Arrivals), criado em 2012 por Obama e cujo encerramento foi anunciado em agosto do ano passado. Trump deu fim o programa, mas concedeu prazo até 8 de março para que o Congresso apresente uma alternativa contemplando os “dreamers”, imigrantes que foram para os EUA ilegalmente ainda crianças e que deixarão de ser protegidos contra a deportação.