O governo francês afirmou nesta quarta-feira (21) que não mudou suas restrições na negociação do acordo de livre-comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, por conta da pressão dos grandes sindicatos agrícolas do país contra um eventual compromisso com o bloco americano. A informação é da EFE.
“Por ora não há as condições para uma assinatura” do acordo, ainda que “tenhamos feito avanços há alguns meses”, sublinhou o ministro francês de Agricultura, Stéphane Travert, numa sessão perante a Assembleia Nacional francesa (Câmara Baixa). Paris, disse ele, segue defendendo suas “linhas vermelhas”, em particular a favor do setor bovino.
As restrições passam por limitar as importações de carne fresca isentas de tarifas e rejeitar a produção procedente de “fazendas intensivas” ou de animais sacrificados após terem sido explorados, como as vacas leiteiras, bem como pelo estabelecimento de “um mecanismo de salvaguardas para poder reagir em caso de desestabilização” do mercado.
Constância
“Seremos extremadamente vigilantes”, afirmou Travert, que disse que “a França tem uma posição constante” a respeito e conseguiu que outros 12 países comunitários apoiem sua postura. Ele negou que tenha aceitado aumentar para 99 mil toneladas a quota de entrada de carne na UE sem tarifas e disse que segue trabalhando com o ideal de 70 mil.
Estas palavras foram ditas em um dia no qual as organizações Federação Nacional de Sindicatos de Produtores Agrícolas (FNSEA, na sigla em francês) e Jovens Agricultores (JA) organizaram dezenas de atos de protesto contra um eventual pacto, atos dos quais, segundo eles, participaram cerca de 20 mil pessoas.
Patrick Bénézit, secretário-geral adjunto da FNSEA, o principal sindicato agrícola da França, explicou à Efe que essas ações se desenvolveram principalmente diante de delegações do governo, mas também em estradas e inclusive em estações de esqui.
Bénézit indicou que pretende que “esta negociação se desenvolva o mais rápido possível”, porque as obrigações às quais estão submetidos os agricultores europeus em termos de normas sanitárias e ambientais “estão em contradição” com a ausência de regras nos países do Mercosul.
Segundo a líder máxima da FNSEA, Christiane Lambert, esse acordo poderia levar ao desaparecimento de 30 mil empreendimentos agrícolas na França.
Histórico
A UE e o Mercosul negociam desde 1999 um amplo acordo de associação que inclui um tratado comercial, mas as conversas estiveram bloqueadas completamente entre 2004 e 2010, e só foram retomadas em 2016. Próximas a uma conclusão, as negociações prosseguem, com o Paraguai ocupando a presidência pro tempore do Mercosul neste primeiro semestre.