A chanceler alemã, Angela Merkel, contradisse nesta sexta-feira (16) seu novo ministro de Interior, Horst Seehofer, ao sustentar que tanto os quatro milhões de muçulmanos que vivem no país quanto o Islã, “pertencem à Alemanha”. A informação é da EFE.
Em coletiva de imprensa junto ao premiê sueco, Stefan Löfven, Merkel foi perguntada sobre a primeira entrevista concedida por Seehofer após assumir o cargo, na qual ele se distanciou da posição defendida pela chanceler no passado e assegurou que “o Islã não pertence à Alemanha”.
Seehofer, líder da União Social-Cristão da Baviera (CSU), partido irmanado com a União Democrata-Cristã (CDU) liderado por Merkel, desencadeou assim a primeira discordância pública entre os membros do novo governo alemão, que tomou posse na quarta-feira.
Merkel foi clara em sua resposta e, após sublinhar que o caráter do país está fortemente marcado pelo cristianismo, lembrou que quatro milhões de muçulmanos vivem na Alemanha e exercem sua religião. “Estes muçulmanos pertencem à Alemanha, do mesmo modo que sua religião, o Islã, pertence à Alemanha”, disse a chanceler, ao defender um Islã de acordo com os princípios da Constituição alemã e a convivência entre religiões.
Contexto
O líder conservador bávaro, em uma entrevista publicada hoje pelo jornal “Bild”, tinha se distanciado da posição de Merkel e dito que os muçulmanos que vivem no país “obviamente pertencem à Alemanha, mas o Islã não”.
“Isso naturalmente não significa que por falsa condescendência devamos renunciar aos nossos costumes típicos”, acrescentou Seehofer, que durante a passada legislatura foi especialmente crítico com a gestão da crise dos refugiados por parte da chanceler.
Na coletiva de imprensa habitual do Governo, o porta-voz do Ministério de Interior, Johannes Dimroth, disse que as declarações de Seehofer deveriam ser tomadas em seu contexto e não só uma frase isolada. “O ministro disse também que seria preciso continuar trabalhando com as organizações muçulmanas no marco da Conferência Alemã sobre o Islã”, disse Dimroth.
A Conferência Alemã sobre o Islã é um fórum criado por um ex-ministro do Interior para fomentar o diálogo entre o governo e os muçulmanos que vivem na Alemanha.
O presidente do Conselho Central dos Muçulmanos na Alemanha, Aiman Mayzek, criticou as declarações de Seehofer. “Não se pode dizer que os muçulmanos pertencem à Alemanha, mas o Islã não, isso não é possível”, disse em declarações à televisão privada “N-tv”.
Expulsão
Como ministro de Interior, pasta que exigiram nas negociações de coalizão os conservadores bávaros, Seehofer quer criar as condições para que solicitantes de asilo cujo pedido tenha sido rejeitado possam ser expulsos o mais rapidamente do país.
“Colocaremos em prática o que estamos pedindo há anos. Entre outras coisas, declarar como seguros mais países de origem, um plano de deportações e a intensificação da luta contra as causas pelas quais as pessoas fogem”, apontou o ministro.
Desde 2015 chegaram à Alemanha mais de 1,3 milhão de solicitantes de asilo e a maioria deles entrou pela Baviera, fronteira sul do país.