“Minha canção é meu mundo / meu corpo é minha banda / e eu não vou parar”. Logo de cara, na primeira faixa de seu segundo disco, Mallu Magalhães anuncia, em inglês, a que veio. “My home is my man” é apenas um pedacinho do caleidoscópio sonoro criado pela artista paulistana, que se tornou um dos maiores fenômenos pop no ano passado ao ser revelada na internet. Agora com 17 anos, ela esbanja desenvoltura vocal e criatividade em faixas que passeiam pelos mais variados estilos, do blues (“Nem fé nem santo”) ao reggae (“Shine yellow”).
“Não senti o peso do segundo disco no começo, só quando vi tudo pronto”, conta Mallu. “Fui corajosa. Fiz o que eu senti, fui sincera. Não tinha muita opção, eu sou isso. Não adianta tentar fingir. Olhando tudo agora, acho bonito e tenho orgulho de ter feito com tanta honestidade.”
Entre as principais mudanças de um ano para cá, ela diz que passou a levar o trabalho mais a sério. “Agora tenho uma profissão, tento enxergar como posso melhorar. Antes eu ia fazendo e não estava nem aí, era uma coisa pra mostrar pros meus filhos. Resolvi levar a música a sério e venho melhorando em vários aspectos. Me sinto mais segura para dar entrevistas, sinto que minhas ideias estão mais claras. O que mais mudou foi isso, a seriedade.”
“A maior dificuldade quando fui fazer o disco foi encontrar um fio condutor”, diz. “O álbum é tão eclético que eu tinha vontade de fazer um lado A e um lado B. Algumas canções eram muito diferentes. Aí tentei me concentrar na costura e fui indo atrás de ferramentas para conseguir atingir a essência. Por isso escolhi o Kassin como produtor. Achei que ele teria o conhecimento dos dois lados, e conseguimos chegar ao fator sinceridade.”
A artista, que antes dizia ter vergonha de cantar em português, colocou no disco seis composições no idioma. “Tenho a impressão de que esse é um disco duradouro para o ouvinte. A pessoa gosta de uma coisa um mês, no outro gosta de outra. Acho que isso é importante porque tudo hoje é tão rápido. A pessoa ouve um disco e pouco tempo depois não quer nem saber. Essa coisa de ter várias faces pode ajudar a entender a essência do álbum.”
“Be on the grass”, por exemplo, tem uma atmosfera à Beatles, cheia de ruídos e uma cítara. “Essas referências não são muito objetivas, eu vou fazendo. Mas tem muito da influência do momento ou da situação”, diz Mallu, que gravou uma canção inédita de Paul McCartney, “How d’ you d”, composta em 1969, para o projeto “Beatles 69”, do selo Discobertas. “Era o máximo que a gente podia querer na vida. A gente tinha que imaginar como eles iam querer a música e ao mesmo tempo colocar a nossa personalidade ali.”
Entre os convidados estão Maurício Takara, que toca bateria em cinco faixas, a banda Jennifer Lo-Fi, que participa da tropicalista “O herói e o marginal”, e ainda Marcelo Camelo, namorado da cantora. “Como artista, ele me influencia naturalmente, porque eu já era fã de Los Hermanos e do disco solo dele. Eu componho sobre as minhas relações e experiências cotidianas e pessoais, isso acaba refletindo alguma coisa. Cada um tem o seu jeito de compor, seus gostos musicais. Um comenta o trabalho do outro, mas sem julgamento.”
Desde que ficou famosa, aos 15 anos, Mallu Magalhães cresceu 10 centímetros. “Todas as roupas que eu tinha não consigo mais usar. Os vestidos ficaram meio indecentes”, diverte-se. “As composições mais antigas já não cabiam mais na minha voz. Isso era muito perceptível para quem estava cantando e arranjando. Gosto muito mais da minha voz agora do que antes. Acho que vou gostar cada vez mais.”
Para manter a voz em dia, a cantora faz exercícios diários, aulas de canto e acompanhamento médico. “Isso é muito psicológico também. Quando estou em turnê, há um desgaste físico, do coração e da cabeça, e eu procuro me manter calma e tranquila em relação a tudo. Estou aprendendo aos poucos a me fortalecer psicologicamente.”
A cantora, que ainda mora com os pais em São Paulo, fez “Make it easy” para a mãe. “No começo da carreira, fiquei perdida. Eu não estava entendendo nada. Achava os ‘nãos’ uma autoridade careta, um moralismo sem sentido. Brigávamos muito, foi uma fase horrível. Mas, crescendo, e também pela minha vontade de ser mãe um dia, consegui me colocar no lugar deles e ver que os limites que eles impunham eram uma mistura de muito amor que gerava medo. Eles me amam muito, são pais muito cuidadosos. Tento conquistar meu espaço aos poucos e mostrar que eu os amo também.”
Mesmo entre tantos compromissos de “popstar”, Mallu ainda acha importante terminar o segundo grau e cursar uma universidade. “Eu não gostava da escola no começo, mudei e encontrei uma mais tranquila. Posso fazer trabalhos para complementar as notas e não preciso ir todos os dias. Depois, eu queria dar um tempo. Penso em fazer cursinho e aí prestar vestibular. Sou um pouco deficiente de conteúdo acadêmico. Se eu fosse fazer uma faculdade, eu precisaria de mais base. Tenho vontade de fazer tanta coisa… Não sei se eu tenho necessidade de ter um diploma, porque não pretendo trabalhar numa empresa e bater cartão.”