Ninguém poderia imaginar que na fria e industrial cidade de Detroit, nasceria um dos mais influentes gêneros musicais da história, o Techno, que nesse ano completa 25 anos de vida.
Mas como explicar o surgimento do mais importante gênero da música eletrônica em um local tão improvável? Cidade do norte dos EUA, Detroit foi o berço do desenvolvimento industrial americano e sede de gigantes como Ford e General Motors. Por esse motivo atraiu um sem-número de pessoas vindo de todas as partes do país, na sua maioria pobres e negros, para trabalhar em suas indústrias. Graças a isso a cidade se tornou um centro da disseminação da cultura afro-americana, em especial a música, sendo berço da gravadora Motown(que lançou Jackson 5, Marvin Gaye, Steve Wonder e outros).
A segunda geração do contingente operário que migrou para Detroit não encontrou um cenário tão favorável, sem as mesmas perspectivas de trabalho de outrora. Eram jovens, na maioria sem emprego, em volta ao tédio de uma cidade prioritariamente industrial.No meio dessa juventude sem muito o que fazer, mas com muito tempo para pensar, estava Juan Atkins, garoto prodígio, que despertou ainda no tempo de colégio o gosto pela repetição dançante e as mixagens. Quando a onda disco invadiu Detroit, Atkins já era familiarizado com o gênero, o que lhe permitiu de cara ser DJ nas principais festas disco da cidade.
Não foi a toa que Atkins chegou aonde chegou. Apreciador de longa data de gêneros da onda pós-disco americana, como o House, funky, acid jazz e electro, ele também admirava muito a música experimental que vinha sendo produzida na Europa desde o começo dos anos 70. Mais especificamente na Alemanha, com o Kraftwerk. Desde o primeiro contato com essa nova sonoridade, Atkins ficou fascinado com as batidas mecânicas e os sintetizadores gelados das músicas de Florian Schneider, Ralf Hütter e Cia.
O grande trunfo de Atkins foi unir todas suas influências usando como pano de fundo a cidade de Detroit para criar um gênero hipnótico, dançante, frio e totalmente industrial, inspirado nos barulhos das linhas de produção das gigantes automobilísticas e que mais tarde ele mesmo nomearia de techno, inspirado na expressão “Techno Rebels” tirada do livro “The Third Wave” do escritor Alvin Toffler.
Em 1985, Atkins deixou de lado seu antigo projeto de electro (Cybotron) e montou o selo Metroplex. Nele criou, sob o pseudônimo de Model 500 a faixa considerada o marco zero do Techno: “No UFO”. Não demorou muito para que a track viajasse e caísse no gosto de DJs da já consagrada cena House de Chicago. A partir daí o Techno e a cena de Detroit entraram definitivamente para o vocabulário da música eletrônica.
O resto é história. Apesar de pioneiro e figura central no surgimento do Techno, Atkins sempre esteve acompanhado de nomes não menos importantes como Derrick May e Kevin Saunderson. No final dos anos 80, o Techno chegou a Europa, encontrando em países como a Inglaterra e a Alemanha o fértil terreno necessário para crescer e se ramificar em um enorme número de sub-gêneros.
A verdadeira “cara” da música eletrônica
Erroneamente confundindo por leigos com a própria música eletrônica, o Techno é sem dúvida o grande porta voz desse estilo. Isso porque desde o início sua proposta foi ser sintético, mecânico e frio, eliminando elementos orgânicos, tão presentes na Disco e no House. As batidas 4×4, o clima soturno, os sintetizadores, fazem do techno o gênero eletrônico por excelência. Graças a esses predicados, o ritmo nunca caiu no apelo fácil e no gosto popular, encontrando no underground seu habitat. Isso foi fundamental para o desenvolvimento do gênero de uma forma mais livre e prolífica, sem a interferência dos grandes meios.
O Techno na atualidade
Em um gênero dado a misturas como a música eletrônica, o techno, pela sua característica neutra, mutável e facilmente adaptável, foi rapidamente reconhecido como a principal base para a criação de novas subvertentes.Uma espécie de progenitor da e-music, que só encontra paralelo, em menor escala, na house music.
Apesar de sua forma pura ser creditado à Detroit, hoje pouco se ouve desse gênero. Fusões como o tech-house e ramificações como o minimal Techno, hard techno e o dub-techno povoam com mais freqüência as pistas de dança atualmente. Porém há quem aponte que os elementos dos anos 90, como os fortes sintetizadores e as bases secas e retas voltarão com tudo.
Alguns dos mais importantes nomes da eletrônica na atualidade são filhos do “techno”. Ricardo Vilallobos, Ellen Alien, Luciano, Apparat e principalmente Richie Hawtin, são responsáveis pela constantemente renovação de um gênero faminto por novidades tecnológicas. O mais curioso é que mesmo sendo pai da vertente vanguardista, Juan Atkins envelheceu de forma retrógrada e hoje preconiza que quem não toca com vinil não merece a alcunha de DJ.
Você pode gostar ou não. Achar simplista, repetitivo ou “Bate-estaca” demais. Não importa. O techno definitivamente não foi um gênero criado para agradar as massas, e exatamente por esse motivo ele está há 25 anos na estrada. Correndo por fora ou na pista principal, é o único gênero que nunca deixou de andar sempre em frente. Não é a toa que para 9 a cada 10 pessoas ele é apontado como o som do futuro.