O trem de Adoniran Barbosa, citado na música-símbolo de São Paulo, finalmente vai sair às onze horas. Não necessariamente do Jaçanã, onde já fora demolida, em 1964, a famosa estação, da qual os últimos vagões partiam sempre às 20h30, e não às 23h. Na 6.ª edição da Virada Cultural, nos dias 15 e 16 de maio, o Trem das Onze – que nunca existiu, mas acabou imortalizado pelo compositor paulista, que neste ano faria 100 anos – passará por várias estações da capital, com possível partida da zona norte.

A atração, uma proposta da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) para homenagear o centenário de Adoniran, deve ser uma das principais atrações da Virada, que espera receber público superior a 3 milhões de pessoas. Na próxima semana, representantes do Estado e da Prefeitura vão se reunir para definir o trajeto do trem e em quais estações ocorrerão as paradas. A partida deve ser no Piqueri ou em Pirituba, segundo apurou a reportagem.

Segundo a Secretaria Municipal de Cultura, não foi definido se a atração vai durar as 24 horas ininterruptas do evento ou apenas durante a madrugada de sábado para domingo, das 23h às 11h. “A atração está em estudo ainda. Não temos outros detalhes. Já existe uma reunião marcada para discutir a proposta”, informou o governo municipal ontem, ao ser procurado para comentar o assunto. A CPTM também confirmou o plano da homenagem dentro da Virada, mas não deu outros detalhes.

Homenagem. A ideia com o Trem das Onze é montar dentro de vagões da CPTM uma decoração que lembre a obra de Adoniran, também consagrado como ator e humorista do rádio paulistano na década de 50, com o programa História das Malocas.

Antes, o compositor vagou pela capital como entregador de marmitas, pintor e encanador. Até que, no início dos anos 60, resolveu mostrar nos bares do centro seus sambinhas ritmados com batuques em caixas de fósforos. O sucesso foi geral.

E foi fazendo esses sambinhas em caixas de fósforos que o compositor, filho de imigrantes italianos que trocaram Veneza por Valinhos, criou sua maior canção. Isso sem nunca ter pisado no bairro do Jaçanã, sem ser filho único e sem trem das onze. “Não sou filho único, mas já morei longe com minha mãe, em Santo André, e sei o que é ter de largar a namorada para não perder o último trem”, justificou Adoniran, em junho de 1966, quando o trem inexistente de sua canção já virara motivo de piada entre intelectuais céticos ao samba.

Rima. Segundo Adoniran, “Jaçanã” foi usado para rimar com “manhã”. E o trem das onze era referência à composição que partia às 22h59 da estação Vila Mazzei. Independentemente da controvérsia, passados quase 50 anos a canção ainda é um sucesso na voz do grupo Demônios da Garoa, que, todas as terças-feiras, se apresenta no Bar Brahma da Avenida São João.

Na Praça Comendador Alberto de Souza, no exato local onde funcionava a Estação Guapira, no Jaçanã, existe uma banca de jornais que se chama Trem das Onze.

PARA LEMBRAR

Museu mostra carreira de Adoniran

Embora Adoniran Barbosa morasse no bairro de Cidade Ademar, na zona sul, quando morreu, em 1982, parte de sua trajetória pode ser observada ainda hoje no Museu do Jaçanã, na zona norte. Fotos antigas, um chapéu do compositor, discos em 78 rotações e vitrolas fazem parte do acervo.