Os fãs brasileiros não podem reclamar. Receber a visita anual de um beatle não é para qualquer país. Paul já é conhecido até mesmo pelos gafanhotos de Goiânia e Ringo Starr aterrissou novamente no Brasil nesta terça-feira (29), onde fez show em São Paulo, para uma plateia empolgada, mas que ocupava pouco mais da metade do espaço do Credicard Hall.
Carregando sua All-Starr Band, de formação flutuante — em comparação com o show de 2011, saem Wally Palmar, Rick Derringer, Edgar Winter, Gary Wright; continuam Richard Page, Mark Rivera e Gregg Bissonette; e entram Steve Lukather, Gregg Rolie e Todd Rundgren (ex-Utopia) –, o baterista entra bastante aplaudido, com dedo em V. “Paz e Amor” está na saudação ao público, estampado no seu paletó e como símbolo do bumbo da bateria.
Ringo canta “Matchbox”, de Carl Perkins, gravada pelos Beatles, “Wings” e “It Don’t Come Easy” e vai para a bateria dar espaço aos companheiros de banda tocarem seus próprios sucessos. “Evil Ways”, “Rosanna” e “Kyre”, uma trinca para nenhum elevador botar defeito, vêm em seguida, dando aquele clima de banda de formatura de luxo. As canções dos Beatles vêm em doses homeopáticas — da obscura “Don’t Pass Me By” ao sucesso “Yellow Submarine”, passando por um dos pontos altos da noite “I Wanna Be Your Man”, mas Ringo não ressalta sua condição santificada, ele é apenas mais um na banda.
Ao contrário de Paul McCartney, ele faz de tudo para não ser um beatle no palco. Não é um performer irretocável, não canta muito bem e mesmo no instrumento que o tornou conhecido, acaba ofuscado por outro baterista, que mesmo tocando a mesma batida e no mesmo ritmo acaba soando mais virtuoso.
Carisma no palco
Assim como na década de 60, Ringo ainda é o beatle mais discreto, mas claro que os passinhos são charmosos e seu carisma é inegável. Ele lê os cartazes da plateia: “Ringo, por favor me abrace. Ringo, você nem sabe o quanto te admiro”, e ri, como se não levasse a sério o próprio nome antes da banda.
“Já vi o Ringo na primeira passagem dele por aqui e também fui no Paul três vezes. Meu beatle favorito é Paul, o George tem o melhor disco solo”, conta Ricardo Bonfá, 27. Então por que ver o Ringo? “É um beatle. Vim trazer ela para ver um beatle e toda a energia do Ringo”, explica, apontando para a namorada Amanda.
Na base da paz e e do amor, o bailinho segue com “África”, de Toto, e faz a plateia mais velha dançar. Assim também foi com “Broken Wings”, balada do Mr. Mister.
Lilian May, 54, via um beatle ao vivo pela primeira vez, mas não escondeu a preferência. “Queria ter ido ao show do Paul, mas não deu”.
O setlist, no entanto, não agradou Cris Araújo, 45. “Eu gosto do Ringo, queria que ele cantasse coisas do ‘Time Takes Time’, é o melhor disco dele. Mas acho que a ideia é deixar cada um dos integrantes tocar suas próprias músicas. Me senti mais tia do que já sou”, riu.
Na parte final, a sintomática “With a little help from My Friends”, emendada com um trecho de “Give Peace a Chance”, que seu companheiro John Lennon, encerra a festa no alto. Ele sai do palco mais uma vez com o dedo em V. Estar em um show do Ringo é mais uma razão afetiva do que musical.