“Nelson Ned servia para o Carneggie Hall, mas não para o Credicard Hall?”, questionou o cantor e apresentador Moacyr Franco durante o velório do amigo, na noite deste domingo (5). “No Brasil é assim, se o artista está fora do circuito da MPB, não toca em lugar nenhum”, completou.
Um dos únicos nomes conhecidos no velório do cantor, Moacyr Franco falou ao UOL pouco antes da cerimônia de despedida de Ned, e reclamou da falta de reconhecimento que o artista sofreu em seu próprio país. “A vida inteira foi tratado por muitos como um anão de circo, e foi alvo de muitas piadas”. E completou: “É difícil tolerar isso, ainda mais quando estamos falando de um artista da grandeza de Nelson Ned”.
Nelson Ned morreu no Hospital Regional de Cotia, na manhã deste domingo, em decorrência de complicações de uma pneumonia. O cantor foi velado no cemitério Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, onde familiares e amigos se despediram do artista. O corpo será cremado durante a semana, seguindo a agenda do cemitério.
Leia a entrevista.
UOL – Qual o legado de Nelson Ned?
Moacyr Franco – Por meu gosto só falaria hoje em espanhol, porque fora do Brasil é que Nelson Ned foi respeitado no nível que merecia. Tenho certeza que no México, ou mesmo nos Estados Unidos, já estão preparando especiais em sua homenagem. Quando ele ia ao principal programa de auditório no México, o equivalente ao “Faustão” daqui, ele ficava quatro horas no ar. Foi um grande compositor e um cantor sensacional.
E aqui pouco reconhecido?
Sim, agradeço ao Selton Mello, por ter que escolheu a canção “Tudo Passará” para seu filme “O Palhaço”. Quando foi exibido em Paulínia, foi uma apoteose, o povo saiu cantando pelas ruas, e eram todos jovens, não tinha velho. Existe um equívoco em não valorizar nossos Timotéos e Nelsons. Estou muito triste, mas orgulhoso. Ele fez sucesso aqui, mas não se compara ao que teve em outros países, como a Argentina, Colômbia, Uruguai, Bolívia, Equador e em tantos outros. Quando o filho dele, o baterista Nelson Ned Junior, se apresenta no México, onde vive hoje, é citado como filho de Nelson Ned, “el gigante de la canción”.
Ele se ressentia desse esquecimento, ou da falta de reconhecimento no Brasil?
Ele sentia muito, não apenas a falta de reconhecimento, mas a falta de respeito. A vida inteira foi tratado por muitos como um anão de circo, e foi alvo de muitas piadas. E foi assim no país todo, não apenas no sudeste, só o nordeste deu mais valor a ele. Mas o Nelson Ned não precisava do Brasil. Ele lotou o Carneggie Hall várias vezes. Tocou no Madison Square com Charles Aznavour e Tonny Benett na plateia. Quando foi assistir a um show de Ray Charles sua presença foi anunciada pelo pianista americano. Nelson Ned servia para o Carneggie Hall, mas não para o Credicard Hall? No Brasil é assim, se o artista está fora do circuito da MPB não toca em lugar nenhum. É difícil tolerar isso, ainda mais quando estamos falando de um artista da grandeza de Nelson Ned.