Dizem que a fama transforma as pessoas. Pode-se dizer que o sucesso transforma os carros também. Se o Mustang fastback é um sonho de consumo para muitos, um muito mais famoso Eleanor atrai milhares de aficionados mundo afora.

Apesar da fama ter nascido com o Mustang Mach 1 de 1971, transformado para 1973, no filme “60 Segundos” de 1974, o Eleanor famoso de verdade é o do filme mais recente, de 2000, onde aparecem Nicolas Cage (Memphis) e Angelina Jolie. Esse negrão das fotos é exatamente como o do filme, porém em cores diferentes.

Este é o terceiro Eleanor avaliado pela Fullpower. Uma coincidência entre os três: todos nasceram na mesma maternidade, a Batistinha Garage, em São Paulo (SP). Só que esta foi a gestação mais extensa: seis anos. Não é para menos: o projeto custa caro e exige horas de trabalho, em meio a outros veículos da Garage, conta Luís Fernando Baptista, o Batistinha,

ZERO QUILÔMETRO
O passo inicial era fazer um belo carro, de comportamento dócil e capaz de ser usado a qualquer hora. Partindo disso, foi possível definir que a alimentação do V8 (302) seria feita com sistema de injeção eletrônica programável e que queimaria gasolina, para não ficar se preocupando com partidas a frio. Além disso, o desempenho teria de ser elevado, mas sem torná-lo um carro de pista emplacado para circular pelas ruas.

O resultado é um clássico com 42 anos, zero quilômetro, que bate na chave e seu motor está roncando como novo. Como se não bastasse, embreagem e freios também são zerados, assim como o câmbio Tremec, de cinco marchas.

Na prática, entenda isso como sentar nos bancos BTS (fabricados pela Rallye Design e assinados pelo próprio Batistinha), virar a chave, engatar primeira marcha na alavanca (da Hurst) e arrancar como se estivesse roubando a caranga de alguém — lembrou da frase “dirija como se tivesse roubado?”, do filme? Este Eleanor pede uma tocada mais agressiva.

Claro que este não é o tipo de carro para fazer molecagem ou drift. Mas um clássico para pegar uma estrada com os vidros abertos e aproveitar o torcudo V8 de 5,7 litros que teve a cilindrada aumentada (são 5 litros originais). O ronco metálico se deve ao escapamento de inox, sem canos dobrados — há apenas seções soldadas, com abafadores Magnaflow, importados. Há duas saídas, uma de cada lado, nas saias laterais, estilo dos SVO (Special Vehicle Operations), assinatura da divisão de veículos especiais da marca.

PESADO, MAS ÁGIL
Mesmo com cerca de 1.700 kg, este Mustang encara com sossego trechos sinuosos, pois a suspensão com sistema coil-over, de rosca, na dianteira, e tri-link, também com regulagem, na traseira, gostam de receber abusos, assim como os freios a disco nas quatro rodas. Não é um carro feito para track day, mas a diversão é garantida com esses recursos.

O motor desfruta de refrigeração otimizada, com radiador gigante (de alumínio) ar-condicionado ultra-potente e sistema de polias de alumínio para usar uma única correia, Poli-V, como nos motores mais atuais. Além de mais moderno, tudo fica mais confiável e durável. A parte elétrica entrou na mesma dança: tudo moderno.

Batistinha confessa que isso é custoso na hora da compra, mas a economia vem na hora da instalação e na eliminação de problemas futuros. Otimizar refrigeração e parte elétrica é como prever o futuro. Depois do carro pronto, caso queira agregar equipamentos, a base estará lá, pronta para receber os “extras”.

LÁPIS NA MÃO
Um bom projeto de carro merece planejamento e paciência. “O carro foi feito com calma e não tínhamos prazo para terminar. O início da funilaria, com a carroceria sem portas, para-lamas e tampas de motor e porta-malas, levou seis meses. Meu pai (o famoso Sr. Batista) achou que era loucura da minha parte apostar nessa carroceria, pois quando a encontramos, ela estava bem detonada. Como sou teimoso, bastou essa frase para eu fechar negócio e começar o trabalho”, completa.

Enquanto a carroceria era feita, muitas peças vinham dos Estados Unidos. O painel, por exemplo, foi todo montado lá fora. Instrumentos Auto Meter, da linha carbono, foram inseridos em placas de alumínio billet, sob encomenda e com direito a assinatura com nome do solicitante. As rodas de 18 polegadas também foram pedidas direto na Shelby, especializada em Ford modificados.

Para os Eleanor, adaptar o kit aero, moldado com tecido de fibra de vidro, é uma das partes mais difíceis. Batistinha é adepto dos kits pré-moldados, parafusados à carroceria e não integrados à ela com massa. “As peças do kit ficam móveis e não trincam tão facilmente quanto às masseadas. Há quem queira fazer tudo em lata, mas não acho viável”, explica.

Viável ou não, a verdade é que, em seu terceiro Eleanor, Batistinha já sabe onde apertar a porca. As dicas estão aí, as carrocerias precisam de uma procura e os custos variam de acordo com a escolha de equipamentos. Lá fora, um Eleanor de verdade custa, em média, mais de US$ 150 mil. Trazendo para nossa realidade é o dobro em reais, sem impostos. É o preço da fama! E mais: este está no país e à venda! Você o quer na sua garagem?