O governo já bateu o martelo sobre o novo zoneamento agroecológico da cana de açúcar, que não vai permitir a extensão da produção dessas lavouras nas áreas da Amazônia e do Pantanal. Com isso, mais de 81% do território nacional ficam bloqueados para a produção de cana.
Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu os ministros da Agricultura, Reinold Stephanes, e do Meio Ambiente, Carlos Minc, para fechar questão sobre o tema. As novas regras devem ser divulgadas até meados de setembro. O governo ainda não sabe se o zoneamento será regido por um decreto presidencial ou por um projeto de lei.
Segundo integrantes do governo, o novo zoneamento só vale para as futuras áreas de expansão do plantio. Ou seja, áreas já cultivadas na região do bioma Amazônia e do Pantanal não serão bloqueadas.
Um dos participantes da reunião disse que os ministro superaram as divergências sobre a ampliação da área permitida para receber plantio de cana no país. O objetivo do zoneamento é apontar as áreas em que a produção da cana pode ser expandida até 2017.
Pelos cálculos do governo, cerca de 8 milhões de hectares do território brasileiro são usados para plantar cana, pouco menos de 1% do total da área plantada no país. Por acreditar num aumento expressivo do mercado externo para os biocombustíveis nos próximos anos, o governo pretende que a produção de cana dobre nos próximos anos. E, por isso, está fazendo um zoneamento agroecológico que permite a ampliação da área plantada, que segundo os estudos governamentais pode crescer em até 7 milhões de hectares nos próximos oito anos.
Posição isolada
Um dos motivos de contenda entre Stephanes e Minc era a liberação de produção de cana de açúcar na Bacia do Alto Paraguai, no Mato Grosso. É uma área equivalente ao estado de Alagoas, que concentra muitas nascentes que deságuam no Pantanal.
Stephanes defendia o zoneamento que preserva o Pantanal e o bioma Amazônia, mas queria que a região do Alto Paraguai fosse excetuada pelo potencial produtivo. A posição do ministro da Agricultura era isolada. Minc e outros ministros eram contra essa exceção e convenceram Lula.
“Estou determinado a ser contra qualquer mudança que atinja o Pantanal”, disse Lula aos ministros na reunião. Segundo auxiliares da presidência, dois motivos levaram o governo a decidir pela proteção total ao Pantanal e a Amazônia.
Um deles é que o Brasil precisa manter um discurso ambiental forte para defender a ampliação da produção de etanol frente a outros combustíveis no mundo. Isso abriria portas para exportação do etanol brasileiro.
O outro motivo que levou o governo a evitar a exceção pedida por Stephanes é que não havia necessidade de usar parte do bioma Pantanal na extensão da produção, já que os 7 milhões de hectares disponíveis em outras áreas já são suficientes para dobrar a produção até 2017. A discussão sobre o novo zoneamento agroecológico da cana já dura mais de um ano.