Imagens de satélite obtidas em agosto e analisadas pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) revelam que parques, reservas e terras indígenas da Amazônia perderam 132 km² de suas florestas.
No total, a Amazônia sofreu devastação de 273 km² no período observado – equivale a cerca de sete vezes o Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro. O número significa aumento de 167% em relação a agosto de 2009, quando o desmatamento detectado alcançou 102 quilômetros quadrados.
Depois de 11 meses em queda, esse é o segundo mês em que a derrubada de árvores na Amazônia aumenta. Em julho, o Imazon detectou 532 km² de devastação – alta de 93% em relação a julho de 2008, quando foram registrados 276 km².
Segundo o instituto, nem todo o desmatamento detectado em agosto foi realizado nesse mês, já que 46% das áreas destruídas estavam cobertas por nuvens em meses anteriores, e não poderiam ser vistas por meio de imagens de satélite.
Brecha para o desmatamento
As áreas mais atingidas pela devastação estão no Pará – estado que concentrou 76% do corte de árvores detectado em agosto. Nesse estado, os locais críticos estão na Terra do Meio – local onde, em 2008, foram apreendidos os “bois piratas” – e nos arredores das grandes rodovias, como a PA-150 e a BR-163.
As unidades de conservação – como são chamados tecnicamente os parques e reservas – que mais sofreram desmatamento também estão no Pará. O local mais atingido foi a Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu, que teve 18,7 km² desmatados, seguido pela Floresta Nacional do Jamanxin, que perdeu 4,2 km².
Na avaliação do cientista Adalberto Veríssimo, um dos responsáveis pela análise do Imazon, o aumento da devastação dentro das áreas protegidas se deve à disposição do Governo Federal em diminuir limites de unidades de conservação. “O desmatamento vem sendo usado como instrumento de pressão para que o governo reveja o limite de reservas”, afirma.
Bom Futuro
Foi o que ocorreu em junho, quando o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, aceitou proposta do governador de Rondônia, Ivo Cassol, de trocar parte da Floresta Nacional (Flona) do Bom Futuro, federal, por áreas de preservação estaduais, incluindo terras que devem ser inundadas pela usina hidrelétrica de Jirau.
Bom Futuro é uma das reservas mais desmatadas da Amazônia, e já perdeu pelo menos 25% de suas matas. A intenção do governo estadual com a troca é manter no local milhares de famílias que moram dentro da Flona. O acordo, contudo, ainda precisa passar pela aprovação do Congresso.
“Quando se abre a negociação para a revisão dos limites, abre-se a brecha para que se aceite esse jogo. [O desmatamento detectado em agosto] Não é madeira nem pecuária, é um jogo de grilagem”, afirma Veríssimo.