Há uma questão no ar que pode matar prematuramente qualquer possível acordo: mesmo que as nações concordem em reduzir as emissões de gases de efeito estufa, como é que o mundo vai saber se realmente cumpriram suas promessas?
A resposta está no espaço, dizem os especialistas – tanto no espaço sideral quanto no ciberespaço. A Nasa, a agência maravilha da década de 1960, e o Google, a empresa modelo do início do século 21, estão tentando dar ao mundo a capacidade de monitorar tanto a poluição por dióxido de carbono quanto os níveis da destruição das florestas, que contribuem para o aquecimento global.
Para a Nasa, a iniciativa é ao mesmo tempo uma oportunidade e um constrangimento. Isso porque a agência desenvolvera um satélite científico, o “Observatório de Carbono”, que, além de monitorar os níveis de poluição por dióxido de carbono, seria capaz de ver onde ele está sendo emitido. Mas seu lançamento, em fevereiro, foi um fiasco, e os US$ 280 milhões investidos na empreitada foram parar nas águas frias da Antártica, onde o satélite caiu.
Michael Freilich, Chefe de Ciências da Terra da NASA, disse que, se a agência conseguir algum dinheiro, poderia ter uma cópia do satélite que caiu rodando ao redor da Terra em menos de três anos. Ele estimou que o clone do satélite custaria por volta de US$ 330 milhões. “Só o fato de haver um satélite orbitando, monitorando e mandando informações sobre o assunto poderia fazer com que todos agissem de forma diferente,”disse o professor Steve Pacala, diretor do Instituto Ambiental de Princeton.
O Google, nesse meio tempo, vem desenvolvendo um novo programa chamado Motor Terra, que é essencialmente um enorme arquivo de dados oriundos de satélites e outras fontes, que os países detentores de florestas seriam capazes de acessar gratuitamente. O projeto deve ficar pronto a tempo da próxima conferência do clima das Nações Unidas no México, no ano que vem.
O desmatamento verificado nos países em desenvolvimento é o culpado por boa parte das mudanças climáticas e os países industrializados já acenam com o pagamento de bilhões de dólares aos países pobres para conter o problema. O sistema do Google poderia ajudar a todos no acompanhamento do que vem sendo feito pelas florestas.
“A ciência sempre esteve à disposição, mas a capacidade de executar planos como este, que incluem a utilização de equipamento caro e de alta tecnologia, agora é possível para países que, há poucos anos, não poderiam pagar por isso”, disse Brian McClen, vice-presidente de engenharia do Geo Google Group, que demonstrou o novo programa em Copenhague.
“Mas a tecnologia sozinha não pode resolver o problema. Deve existir cooperação entre países como a China e os EUA, por exemplo, no sentido de garantir que cortes nas emissões de gases com efeito de estufa sejam realizados”, disse o senador americano John Kerry, presidente da Comissão de Relações Exteriores dos EUA.
Kerry disse à Associated Press que as conversações com oficiais chineses, na quarta-feira, avançaram na questão do controle de emissões, que anteriormente foram um ponto de atrito. É um problema grande na visão do congresso americano, que exige que a China e a Índia desistam de sua posição inicial e admitam assumir compromissos verificáveis.
A China, entretanto, reconheceu que houve “trocas positivas” com Kerry, mas descartou sugestões de que deve fazer parte de qualquer sistema de verificação internacional. “Temos sempre seguido de um princípio de abertura e transparência nas informações sobre as medidas nacionais tomadas pela China para enfrentar a mudança climática”, disse Su Wei, principal negociador da China em Copenhague. “Eu não vejo necessidade de preocupação de outras nações com a sinceridade da China quanto aos esforços no combate às alterações climáticas.”
O controle de emissões “é um grande problema, porque nós não sabemos o que estamos contando”, disse Melinda Kimball, vice-presidente sênior da Fundação das Nações Unidas e uma ex-negociadora americana do clima. “Isso me lembra muito a questão do controle de armas.”
Parte do problema é que muitas usinas novas movidas a carvão estão sendo construídas na China – muitas delas tão pequenas que são difíceis de monitorar – o que dificulta controle dos especialistas internacionais sobre a emissão precisa de dióxido de carbono. É onde entra a tentativa de iniciar a construção da cópia do satélite da NASA. A decisão está aguardando aprovação Casa Branca e, se isso ocorrer, deverá entrar no planejamento orçamentário para o próximo ano.
“Eu estou otimista”, disse na quarta-feira o conselheiro da Casa Branca John Holdren a repórteres na conferência climática em Copenhague.
Até que o outro satélite realmente entre em órbita, a maneira pela qual o mundo contabiliza o dióxido de carbono emitido continuará envolvendo um monte de conjecturas, muitos cálculos e máquinas de controle – além de uma boa dose de confiança. Estimativas de peritos em emissões de dióxido de carbono são baseadas no “input” de combustíveis em usinas geradoras de energia e fórmulas complexas baseadas em eficiência energética das mesmas. Mas essas estimativas dependem também da confiança nas informações recebidas das usinas. Nos Estados Unidos e em alguns outros lugares, há monitores em muitas usinas, o que significa uma melhor precisão.
Uma única usina movida a carvão (termelétrica) produz “uma cúpula de dióxido de carbono”. Um satélite, como o da NASA, poderia medir acuradamente as emissões, disse Pacala, que também presidiu um estudo realizado pelo Conselho Nacional de Pesquisaos dos EUA sobre o que a Nasa deve fazer após a falha no lançamento do “Observatório de Carbono”. Para ele, fazer outro satélite é uma obrigação.
Ser capaz de dizer o que cada usina emite é crucial para programas de redução de emissões baseados em “licenças de emissões”. Por esse mecanismo, as empresas compram créditos – essencialmente o direito de poluir – de empresas que reduziram a emissão. Como a NASA já projetou o satélite original, um novo poderia estar em órbita em até 28 meses após a aprovação da Casa Branca, disse Freilich, da NASA.
A mensuração de carbono também é crucial para um plano de redução de emissões por desmatamento e degradação da floresta (REDD), que está sendo negociado em Copenhague.