O consumo de açaí pode ter saído de moda no Sudeste do Brasil, mas na floresta amazônica a palmeira mantém presença dominante. É a árvore mais comum por lá, revela estudo de fôlego que sai hoje na revista “Science”.
O levantamento coordenado por Hans ter Steege, da Universidade de Utrecht (Holanda), reuniu dados sobre 1.170 parcelas espalhadas pelos 6 milhões de km² da floresta amazônica (dois terços deles no Brasil).
A principal conclusão é que, das estimadas 16 mil espécies arbóreas amazônicas, uma minoria de 227 (1,4%) responde por metade dos 390 bilhões de árvores que o estudo calcula haver na maior floresta tropical do mundo.
A espécie individualmente mais abundante é um tipo de açaí (Euterpe precatoria). Somado com o outro açaí que aparece em sexto na lista (E. oleracea), mais usado para alimentação, são 9 bilhões de plantas –mais de um açaí para cada habitante da Terra.
“Não esperava um número tão grande de palmeiras”, diz Rafael Salomão, um dos 120 coautores do artigo. O engenheiro florestal do Museu Emílio Goeldi, em Belém, contribuiu para o estudo com inventários de 105 parcelas.
Salomão diz que, na sua experiência, as árvores mais abundantes são também as mais úteis para os seres humanos, como a seringueira. Embora a hipótese ainda careça de comprovação, o grupo investiga agora se esse padrão pode ser resultado de um manejo da floresta por populações pré-colombianas.
Em contraste com essas espécies “hiperdominantes”, a biodiversidade amazônica também se excede na outra ponta: 5.800 espécies contam com menos de mil indivíduos. É grande o risco de que se extingam antes mesmo de serem descritas pela ciência.
“Imagine achar uma espécie com poucos milhares de indivíduos entre 300 bilhões numa área de 6 milhões de km²”, afirma Hans ter Steege. “Achar uma agulha no palheiro deve ser mais fácil.”