O Ceará tem 40% de probabilidade de receber chuvas acima da média histórica nos três primeiros meses da quadra chuvosa deste ano (fevereiro, março e abril), informou hoje (22) a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). O prognóstico é otimista na comparação com as chuvas dos últimos seis anos, que formaram o mais severo período de seca enfrentado pelo estado. As outras probabilidades são de 35% de chuvas dentro da média e de 25% abaixo da média.
O primeiro prognóstico deste ano para a chamada quadra chuvosa, que envolve quatro meses (fevereiro a maio) em que são esperados os maiores volumes de chuva do ano, foi construído com a participação de especialistas de todo o Brasil, que estudaram os fenômenos que ocorrem nos oceanos Atlântico e Pacífico.
O presidente da Funceme, Eduardo Sávio, disse que o Pacífico Equatorial apresenta atualmente La Niña (águas frias) de fraca intensidade. Esse fenômeno favorece a chuva no estado e, apesar de fraca, apresenta-se melhor do que no ano passado. O Atlântico também está favorável ao posicionamento da Zona de Convergência Intertropical, o principal sistema meteorológico da quadra chuvosa.
“Nas últimas três semanas, observamos um aquecimento do Atlântico Sul Equatorial. Isso é muito importante para nós, porque a Zona de Convergência procura as zonas mais quentes dos oceanos, trazendo umidade para o continente”, explicou.
Embora otimista de forma geral, o prognóstico divide o território do estado em duas partes. Enquanto a parte norte, que inclui Fortaleza e região metropolitana, deve receber chuvas intensas, a região sul, onde ficam algumas das principais bacias hidrográficas, pode não receber precipitações suficientes para a recarga dos reservatórios.
Esse cenário preocupa os órgãos de recursos hídricos, que tem o desafio atual de gerenciar os 6,8% de capacidade total dos reservatórios do estado – a menor reserva hídrica do Nordeste, segundo monitoramento da Agência Nacional de Águas (ANA).
“Até que a gente consiga enxergar uma inflexão nesse processo, com, por exemplo, uma possível recarga de grandes açudes como Orós e Castanhão, temos que prosseguir com a tarifa de contingência, com o acompanhamento do uso da água nas residências, com a construção de poços, adutoras emergenciais e outras ações. O controle tem que continuar”, disse o secretário dos Recursos Hídricos, Francisco Teixeira. O Castanhão, maior açude de usos múltiplos do Brasil, acumula somente 2,37% de sua capacidade.
O governador do Ceará, Camilo Santana, ressaltou que a recarga dos 155 açudes depende do resultado da quadra chuvosa e da finalização do eixo norte da transposição do Rio São Francisco, cuja obra foi retomada no fim do ano passado após uma licitação escolher nova empresa para assumir o projeto.
Santana também justificou o por quê de o estado não ter adotado a estratégia de racionamento. Segundo o governador, embora houvesse a previsão de economia de 21 milhões de metros cúbicos (m³) por ano, os potenciais prejuízos, como redução da pressão da água e o acúmulo de água em recipientes que poderiam gerar novos focos do mosquto Aedes aegypti, (transmissor da dengue e da febre amarela urbana) não compensariam o esforço. Por outro lado, o governador calcula que as ações de redução da oferta de água representaram uma economia de quase 300 milhões de m³ anuais para a região metropolitana de Fortaleza.
O governador ratificou que as ações atuais de segurança hídrica devem continuar e que novos projetos, como o de reúso de água de esgoto para o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) e o de dessalinização de água do mar, serão implementadas este ano. “Há uma perspectiva positiva para a quadra invernosa deste ano, mas, mesmo assim, vamos intensificar nossas ações para garantir o abastecimento de água para a população.”