Vídeo revelado ontem mostra PMs atirando balas de borracha em direção a manifestantes deitados no chão no lobby do hotel Linson, na rua Augusta (centro).
Eles faziam parte de um grupo com cerca de 100 manifestantes que se refugiaram no estabelecimento depois de serem cercados pela Tropa de Choque da PM na região.
As imagens, feitas pelo fotojornalista Felipe Larozza e divulgadas na manhã de ontem no site da Folha, mostram o exato momento em que os policiais entram no hotel. Os PMs gritam repetidas vezes “no chão, no chão!” e “mãos na cabeça!”.
Depois do primeiro tiro, algumas pessoas reagem desesperadas: “Calma, calma!”
De acordo com a Secretada Segurança Pública, o hotel foi “invadido” pelos manifestantes e o “choque entrou por solicitação dos funcionários”. A direção do hotel não comentou.
A Polícia Militar disse que os disparos foram feitos em direção ao chão.
A reportagem da Folha estava no local no momento da abordagem do Choque e acompanhou policiais gritando “se joga no chão rápido”.
Todos foram se deitando lado a lado no lobby, com as mãos na cabeça.
Depois disso, a reportagem foi retirada do local pelo Choque e impedida de acompanhar o restante da ação.
De acordo com a PM, 108 manifestantes que estavam no hotel foram detidos e levados em ônibus da polícia para o 78º DP (Jardins).
GRITOS E TIROS
Hóspede do hotel, o consultor de marcas Gilvandro Oliveira Filho, 38, relembrou ontem os momentos de tensão que acompanhou do lado de dentro do quarto.
“Ouvi gritos, tiros e pancadas contra a minha porta. Muita gente batia nos quartos e pedia ajuda. A polícia gritava e parecia bater nas pessoas”, disse Oliveira Filho.
Ele conta que estava no quarto no 1º andar do hotel quando começou a ouvir gritos e movimentação nos corredores. “Fiquei com medo de abrir a porta e ser confundido com os manifestantes.”
“Ouvi estouros fortes, achei que fossem tiros. Acabei me deitando no chão do quarto e ali fiquei.”
Um dos manifestantes que estava no local não foi para o DP, mas para o hospital -levado pela própria polícia.
O estudante de química industrial da Unifesp, Vinícius Augusto Duarte, 26, disse ter sido espancado por um PM no lobby do hotel.
Ele conta que fez um apelo para que os policiais não agredissem o grupo. Ele afirmou ter sido empurrado para o vão de uma escada, onde apanhou de cassetete.
Segundo a PM, ele arremessou objetos contra os policiais -o que ele nega.
O jovem teve trauma nos maxilares superior e inferior e perdeu três dentes.
Duarte registrou boletim de ocorrência e solicitou ao hotel as imagens das câmeras internas de segurança. Ele diz que entrou no hotel “porque não estava conseguindo respirar na rua”, devido à explosão de uma bomba de gás.
