Muitas famílias, após a chegada de um filho, aguardam um desenvolvimento do bebê em que pais e filhos aprendam a se comunicar. Entretanto, quando a criança nasce com autismo esse desenvolvimento não acontece da forma esperada. Desde muito cedo, é possível perceber alguns sinais e quanto mais cedo diagnosticado, mais fácil lidar com o autista. A reportagem entrevistou três profissionais da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Dracena, especializados em autismo, que contaram como as famílias devem buscar novos caminhos para que a trajetória seja o menos dolorida possível.
O autismo é um termo geral usado para descrever um grupo de transtornos de desenvolvimento do cérebro, conhecido como TEA (Transtornos do Espectro Autista), cuja pessoa tem interesses restritos, comportamentos repetitivos, dificuldade no domínio da linguagem e inabilidade para interagir socialmente, com dificuldade na área de recepção e expressão, que se prolonga por toda a vida. Não há cura para o autismo.
De acordo com a professora Liliany Romanholo, em alguns casos, existem autistas que entendem o sentido literal do que lhe foi dito, como por exemplo, se alguém disser quer ‘vai chover canivete’, ele imagina que canivetes cairão do céu. Essa é uma das dificuldades que existe na linguagem para o autista.
Liliany recomenda que o autista deve ter acompanhamento com um neurologista além de outros especialistas como fonoaudiólogo, pedagogo e psicólogo. Ela também frisa a dificuldade que os pais possuem de impor regras para esse filho, por achar que a criança não possui capacidade de aprendizado. Porém, acompanhado por profissionais e métodos corretos, é possível que desenvolva uma série de competências.
O conteúdo didático é o mesmo aplicado nas escolas, mas com adaptação e organização diferente para ajudar o autista a entender o que deverá ser realizado. Na Apae a equipe de especialistas atende dentro da sala de aula, juntamente com o professor. Esses profissionais inserem gradativamente o vocabulário e estimula a linguagem com trabalho em conjunto, abordando os mesmos assuntos, cada um dentro de sua respectiva área. A fonoaudióloga atua através das falas e brincadeiras. A fisioterapeuta através de exercícios físicos. Atualmente, a entidade assiste a quatro alunos com autismo. Para o próximo ano, 10 alunos já estão inscritos para o programa.
“A rotina é necessária para a organização do autista, devido à necessidade de saber o que irá acontecer depois. O trabalho deve ser realizado aos poucos com muita paciência, até que a criança se acostume. Não é um trabalho fácil e deve ser realizado com muita dedicação”, avisa a professora.
A fonoaudióloga Emiliana Rossafa Storto explica que a causa não é biológica e como não há testes biológicos para o autismo, o diagnóstico muitas vezes é feito através de critérios específicos. Com um custo muito alto, atualmente, existe uma avaliação genética com os pais, para verificar as possibilidades de o futuro filho nascer com o Transtorno.
Emiliana menciona que uma das características do autista é usar o outro, como uma espécie de ferramenta para conseguir o que quer. Por exemplo, se ele quer abrir a porta, ele levará a mão do indivíduo até a maçaneta da porta para que o indivíduo mesmo abra para ele, para sinalizar que ele quer sair. A criança costumar usar o outro para tentar concluir suas tarefas.
A grande maioria das pessoas que possuem o transtorno não consegue expressar as necessidades que está tendo no momento. Com dificuldades sensoriais, costumam ter reação ao toque. Deve-se organizar a sensação do próprio corpo e favorecer as sensações externas. “O responsável pelo autista deve estruturar o ambiente e criar rotina para inserir as atividades”, ressalta Emiliana.
A fonoaudióloga relata que há pesquisas que dizem que a paternidade tardia pode aumentar o risco de crianças desenvolverem o autismo. Porém, isto não é um fator comprovado e sim uma hipótese.
Segundo a psicóloga Regina Ueda, os pais poderão identificar alguns sinais como, por exemplo, o olhar, que costuma ser paralisado abaixo dos olhos do indivíduo que o encara, e também interesses em observar algo que sempre está girando, como rodinhas e ventiladores. “Os pais poderão entender que se trata de uma doença auditiva, mas, eles ouvem perfeitamente, apenas não se interessam nas palavras que são transmitidas”, diz.
Movimentos repetitivos como balançar o corpo, chacoalhar as mãos e desenvolver fala ecolálica – repetição involuntária de frases e palavras – também são um dos sinais para que os responsáveis fiquem atentos para procurarem assistência o mais rápido possível.
A psicóloga ressalta que se a criança não apresentar fala até os seis anos de idade, dificilmente voltará a falar depois. Por isso, é tão importate identificar o Transtorno rapidamente, a fim de estimular a fala e resgatar a diferença de aprendizagem. “Quanto mais cedo o diagnóstico, mais rápido será substituído esse comportamento por um funcional, para que a criança possa realizar todas as atividades do seu cotidiano e ter uma vida mais social possível”, afirma Ueda.
ENSINO – Para o método de ensino, a Apae utiliza o programa Teacch. O método foi lançado na Carolina do Norte (EUA) e tem dado muito certo no Brasil, sendo cada vez mais disseminado. A professora Liliany Romanholo informa que a essência do programa é a mesma, porém, é individualizado para cada aluno, dividido nos níveis 1, 2, 3 e 4. O conteúdo é diferenciado, mas dentro do mesmo programa. O objetivo é treinar a habilidade e não a atividade.
PROGRAMA – A filosofia do Teacch tem como objetivo principal ajudar a criança com autismo a crescer da melhor maneira possível, de modo a atingir o máximo de autonomia na idade adulta. É um modelo de intervenção que através de uma estrutura externa, organização de espaço, materiais e atividades, permite criar mentalmente estruturas internas que devem ser transformadas pela própria criança em estratégias e, mais tarde, autonomizadas para funcionar fora da sala de aula, com ambientes menos estruturados.
FAMOSOS AUTISTAS – Bill Gates é diretor da Microsoft e inventor do Windows. Nasceu em 1955 em Seattle nos Estados Unidos. Gates se balança continuamente durante reuniões de negócios e em aviões, movimento característico dos autistas, que fazem isto quando nervosos. Não dá importância à sua aparência, não gosta de manter contato olho no olho e tem pouca habilidade social.
Vincent Van Gogh foi um grande pintor, que, em vida, só conseguiu vender uma pintura, conquistando reconhecimento internacional posteriormente. Quando criança gostava de ficar sozinho, tinha dificuldade de se relacionar com outros, sofria acessos de raiva e aparentava sempre estar “em outro mundo”.
Recentemente, a cantora britânica Susan Boyle, de 52 anos, diz que foi diagnosticada com síndrome de Asperger, uma forma mais branda de autismo. Ela se sente aliviada por finalmente conhecer seu real problema. A cantora contou que tinha dificuldades de aprendizagem na infância e que possui um QI acima da média. (Com informações do site autimismo.com.br)