Entre todos os personagens de um espetáculo de circo existe aquele que mais se destaca e exerça talvez a principal função no picadeiro: o palhaço. Com seus grandes sapatos, roupas largas e de cara pintada, dá cambalhotas para todos os lados, pula, brinca, grita e acalora o público com seu senso de humor e piadas hilariantes.
Entretanto, por de trás da vida do circense, existe uma realidade muito diferente, com trabalhos e horários que dificilmente se identificam com uma tradicional rotina familiar.
Acostumados a viajar por todo o País, a arte circense dinamiza a vida de todos os participantes. São pais, irmãos, avós e até mesmo os filhos que desde muito cedo já aprendem a dar os primeiros passos no picadeiro.
Como é o caso do primogênito da família Rodriguez, do Circo Magnus, que se apresenta na cidade, Rodrigo Júnior Rodriguez. O jovem de 15 anos está nos palcos desde seus cinco anos de idade, interpretando o palhaço Buchechinha.
Rodrigo e seus irmãos se revezam entre uma apresentação e outra e acompanham o circo para qualquer lugar, juntamente com seus pais, proprietários do circo, que já atuam há 20 anos. A paixão pela arte circense é herdada de pai para filho. A irmã Caroline de 13 anos é a contorcionista do circo, que após ter aprendido a arte, assumiu o lugar da matriarca da família. O jovem palhaço, apesar da pouca idade, conta as dificuldades que a cultura circense tem passado pelos últimos anos. Segundo ele, existem órgãos que dificultam a entrada do circo na cidade. Também houve a inclusão de inúmeras taxas que devem ser recolhidas antes de montar a lona. “A falta de incentivos governamentais contribui na diminuição da tradição circense”, afirma a proprietária do circo.
Os problemas que são enfrentados rotineiramente não deixam o palhaço se abater. Entre uma pintura e outra, o adolescente comenta com ansiedade sobre o lar que pretende montar em um dos treilers da família.
Rodrigo fica aproximadamente 15 dias em cada cidade. Passa por várias escolas diferentes e o que para muitos seria de difícil adaptação, para filhos de artistas de circo é algo normal. O jovem palhaço disse estar acostumado a conciliar os trabalhos no picadeiro com a rotina de estudos.
A mudança de escola em escola é garantida pela Lei Federal n.º 6.533, que regulamenta a profissão de artista, na qual é assegurada a transferência da matrícula e consequente vaga nas escolas públicas locais de 1º e 2º graus e mediante apresentação de certificado da escola de origem. 
A proprietária do circo e mãe de Rodrigo, Nádia Carolina Lares, diz com orgulho que os pequenos artistas não dão trabalho e são referências em educação nas escolas por onde passam. “Muitos acreditam que crianças circenses são rebeldes e sem educação, porém, as professoras ficam encantadas com a educação deles”, destaca a mãe.
Rodrigo de dia, Buchechinha de noite. É assim que gosta de ser chamado o jovem artista que ainda não escolheu um curso na faculdade, mas diz com firmeza os caminhos que irá seguir: “passarei a vida toda no circo”, finaliza.