O Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, divulga resultados do monitoramento das condições de seca no estado de São Paulo, relata seus efeitos em diversos ramos e faz um prognóstico até setembro de 2014. 

Da análise, conclui-se que o período hidrológico de outubro de 2013 a março de 2014 foi extremamente seco no Estado, condição que refletiu em todos os setores, incluindo a agricultura.
“A seca foi elevada e a probabilidade de uma ocorrência como essa, é de duas vezes em 100 anos ou de apenas uma vez”, afirma Orivaldo Brunini, pesquisador do IAC, órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo (SAA).
Com a chegada da frente fria e as chuvas registradas no final de maio e começo de junho, segundo o estudo, pode ter havido alteração momentânea da situação de seca agrícola, mas os aspectos meteorológicos e hidrológicos ainda são sérios.
“Nas últimas semanas, o estado de São Paulo sofreu a influência de frente fria, que ocasionou chuvas em diversas regiões, o que pode ter alterado momentaneamente a situação de seca agrícola”, esclarece o pesquisador.
Os resultados de análises da seca feitas pelo Instituto Agronômico apontam que a situação meteorológica do estado é preocupante e o planejamento do uso dos recursos hídricos deveria ser iniciado. 
Segundo o IAC, considerando-se a série climatológica, do ano de 1890 a 2014, o período de janeiro a março foi o segundo mais seco. “Esta mesma tendência se observa quando se analisa o ano hidrológico, considerando o período de outubro a março, em 2013/2014 foi o mais seco em 123 anos de estudos”, diz Brunini.
O período hidrológico 2013/2014 foi de baixa precipitação em todo o Estado, ocorrendo de janeiro a abril. “A falta de chuvas se acentuou na segunda semana de maio”, informa o relatório.” 
A análise foi baseada no banco de dados do Instituto Agronômico, o mais completo do Brasil, com registros desde 1890.
REFLEXOS DA SECA – Segundo Brunini, o trabalho mostra que as culturas em desenvolvimento nos campos paulistas estão sendo afetadas pela seca, altas temperaturas e baixa umidade do ar.
Com base nos dados registrados pelo IAC, são feitas algumas considerações sobre as culturas e também a pragas e doenças que podem ocorrer, dentro das condições climáticas existentes.
Os estudos trazem também informações sobre como está a situação de umidade do solo em todo o território paulista.  
“Constatamos que as condições de umidade do solo estão críticas para quase todo o Estado, trazendo sinal de alerta para as culturas de outono e inverno cultivadas com irrigação, pois não há água para irrigar”.
O estudo traz informações sobre alguns cultivos, como a cana-de-açúcar, que tem a rebrota da soqueira desfavorecida pela baixa reserva hídrica no solo.
Com isso, o ciclo seguinte da cana será prejudicado em termos de brotação, o que irá refletir na produtividade do canavial. No café, a alta deficiência hídrica poderá comprometer a indução floral e a brotação de novos ramos para a próxima safra.
No cultivo de grãos, como milho safrinha e soja, apesar de a estiagem favorecer a colheita, ela afeta o desenvolvimento do milho safrinha.
Com relação ao manejo de pragas e ervas daninhas, os baixos índices de umidade e de absorção de água pelas plantas comprometem a eficiência do controle químico por meio de aplicação de herbicidas.
“No caso de pragas de solo, como larva alfinete, a baixa umidade do solo prejudica o seu desenvolvimento. Por outro lado, pragas foliares, como lagarta do cartucho e, em especial, a Helicoverpa Armigera, são favorecidas”, esclarece.
As características gerais analisadas em diversas regiões do Estado, apontam para uma situação muito difícil para a agricultura paulista.
“Embora se possa pensar em irrigação, nem todos os agricultores estavam preparados para esta técnica, seja no aspecto técnico, seja legal e, além disso, não existe adequada reserva hídrica para tal prática”, afirma.
De acordo com Brunini, uma projeção com as médias históricas de precipitação de abril a setembro mostra que a deficiência hídrica persistirá até setembro de 2014, o que afetará os cultivos e processos agrícolas.
REGIÃO – Na região da Cati de Dracena, que abrange 16 municípios, de acordo com o engenheiro agrônomo da Cati de Dracena, Sebastião Netto de Carvalho e Silva nessa época do ano, as culturas desenvolvidas são da cana-de-açúcar, pastagem e fruticultura.
“O prejuízo para a agricultura ocorreu pela falta de chuva no começo do ano. O maior risco para o setor agora, segundo ele é a ocorrência de geada. Quanto à seca nessa época (outono e inverno) ocorre todos os anos”, explica.
Com a incidência de chuvas atípicas nos últimos dias, o solo está molhado, favorecendo a recuperação da terra, uma vez que tem relação até com a incidência da luz solar, que nesse período é menor, comparado aos demais meses do ano e contribui para o fortalecimento do solo.
A tendência, conforme o agrônomo é que o período de chuvas tenha início em agosto e setembro, período conhecido pelo produtor rural, como “época das águas”.