Desde a vitória da Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder pelas armas, São Paulo se encontrava em situação de inferioridade em relação à política brasileira, pois o governo federal nomeava interventores de sua inteira confiança para dirigir os destinos dos paulistas.
O descontentamento acabou ocasionando vários comícios contra o governo federal, realizados na capital paulista com enorme participação popular e discursos inflamados que defendiam o brio do povo bandeirante.
Em 22 de maio de 1932, as manifestações nas ruas de São Paulo contra o governo Vargas tomaram vulto. O ministro da Justiça, Oswaldo Aranha, foi enviado para a capital, para conciliar os interesses de Getúlio Vargas na escolha de um novo secretariado.
A intromissão resultou em violentas manifestações, que conquistaram a adesão de integrantes do Exército e da Força Pública (hoje Polícia Militar). Os secretários nomeados eram de inteira confiança do interventor, o embaixador Pedro de Toledo.
A derrota da missão de Oswaldo Aranha provocou na noite do dia 23 de maio exultantes manifestações pela vitória alcançada. A população saiu às ruas do centro da cidade, onde ocorreram atritos com os partidários do ditador, que foram agredidos na via pública.
REVOLTA POPULAR – Jornais governistas foram empastelados e incendiados, mas o fato mais grave foi o ataque à sede da Legião Revolucionária, pois a reação dos legionários, em defesa do prédio e de suas vidas, resultou em vários feridos e na morte de quatro jovens, cujos nomes resultaram na formação da sigla MMDC – homenagem a Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo.
Por meio do MMDC, o movimento paulista conspirou contra Getúlio Vargas. Na noite da sexta-feira, 8 de julho, com os ânimos exaltadíssimos, populares manifestaram-se pela revolução, com a adesão das tropas federais da 2ª Região Militar e da Força Pública.
Na tarde do dia seguinte, 9 de julho, assumiu interinamente o comando das tropas o coronel Euclydes Figueiredo, que recebeu ordens do general Isidoro Dias Lopes, líder da revolta de 1924. Em poucas horas, o controle pelos revolucionários paulistas era total. O MMDC ocupou a faculdade de Direito do Largo de São Francisco. De lá saiu o primeiro contingente de civis armados, que lutaram ao lado das tropas regulares do Exército e da milícia paulista.
DESFECHO – Na tarde de 10 de julho, em frente ao Palácio dos Despachos, situado no Pátio de Colégio, o povo paulista e as tropas proclamaram o interventor Pedro de Toledo governador do Estado. Através do Decreto 5.627-A/1932, foi oficializado o MMDC como entidade, sendo presidida pelo secretário da Justiça do Estado, o jurista Waldemar Ferreira.
Depois de quase de três meses de luta, sem os reforços e adesões que haviam sido prometidos por outros estados da Federação, e sem condições materiais para continuar, completamente só e sitiado, São Paulo se rendeu em 2 de outubro de 1932.
A Constituinte seria eleita em 3 de maio de 1933, e a nova Carta Magna, promulgada em 16 de julho de 1934. A luta dos paulistas não foi em vão. Hoje, passados 82 anos dessa epopéia, temos sempre que reverenciar os heróis de 1932 e a data magna do Estado, 9 de julho.
OS HERÓIS DE 9 DE JULHO – As primeiras vítimas de 1932, ao contrário do que muitos escrevem e dizem até os dias atuais, não eram estudantes. Em memória dos quatro heróis que tombaram em maio de 1932, suas iniciais formaram a sigla MMDC e, posteriormente à criação da entidade, faleceu a quinta vítima dos trágicos acontecimentos, em 12 de agosto de 1932: Alvarenga.
Os restos mortais dos grandes mártires da Revolução Constitucionalista de 1932 descansam hoje no Monumento Mausoléu no obelisco do Parque do Ibirapuera. Os cinco heróis de 1932 foram homenageados com nomes de ruas no bairro do Butantã, na capital, e pela Lei 13.840/2009 de autoria do deputado Major Olimpio que instituiu o Dia de Orlando Alvarenga e dos Heróis Anônimos da Revolução Constitucionalista de 1932, em justa homenagem a Orlando de Oliveira Alvarenga.
(*) Antônio Sérgio Ribeiro é advogado e pesquisador.