No início deste mês, foi iniciada uma ampla discussão no facebook após um perfil falso ter postado uma das páginas de um edital da Prefeitura de Dracena, publicado no Jornal Regional no dia 21 de dezembro de 2014, que apresentava a distribuição de recursos da Prefeitura às entidades do município.
Entre as 27 entidades beneficiadas com a verba, houve a destinação de R$ 67 mil para a Associação dos Amigos do Camafeu, ligado ao grupo de dança dracenense Camafeu que se apresenta em várias partes do Brasil e até mesmo em outros países.
A polêmica foi gerada devido ao fato de o valor destinado ao Camafeu ser maior que para outras entidades de assistência social, como Avapac (R$ 66.500), Apae (R$ 23.424) Instituição Novo Amanhecer (R$ 27 mil), Pousada Bom Samaritano (R$ 50.500), entre outras. Devido ao fato, internautas ficaram indignados e começaram a compartilhar a imagem pedindo explicações ao Poder Público sobre o ocorrido. Em poucos dias, foram quase 120 compartilhamentos.
A reportagem entrou em contato com o prefeito José Antônio Pedretti que informou que todos os anos, R$ 12 mil são destinados à Associação dos Amigos do Camafeu, verba destinada para Cultura, aprovada pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Porém, após o grupo de dança ter sido selecionado para uma competição de dança internacional, a Associação entrou em contato com os poderes públicos solicitando um recurso maior para obter ajuda financeira maior e custear parte das despesas do concurso internacional.
A Prefeitura de Dracena optou por destinar R$ 20 mil ao grupo. O Legislativo também atendeu a solicitação da Associação e contribuiu com mais R$ 35 mil. Com os R$ 12 mil que já são destinados anualmente, o recurso gerou um montante de R$ 67 mil.
De acordo com a presidente da Associação dos Amigos do Camafeu, Silvana Cristina Ribeiro Fruccri, o poder público disponibiliza essa verba municipal a fim de complementar os recursos financeiros necessários para que as bailarinas pudessem se apresentar nos Estados Unidos, uma vez que, a viagem foi orçada no valor de R$ 150 mil.
“As comparações que têm sido feitas com outras instituições são desnecessárias, pois cada uma das organizações tem suas necessidades que são legítimas”, disse Silvana.
A professora e bailarina Marina Gregolin explicou que a Associação foi criada a partir de uma ideia de sua mãe, residente em Dracena na época. “A Escola de Bailado Marina Gregolin é particular, mas possui várias turmas e quando a aluna atinge um determinado nível técnico ela é convidada a participar do Grupo Camafeu, grupo que representa a cidade de Dracena em concursos”.
Porém, Gregolin afirma que para participar de concursos o custo é muito alto. São gastos de viagens como ônibus, hospedagem, diária de motorista, refeição, figurinos e taxa de inscrição. “Foi quando minha mãe percebeu os resultados que o Camaféu estava trazendo para a cidade e fundou uma associação com tudo dentro da lei para receber as verbas municipais”, disse.
Na época de fundação da associação, existiam 16 bailarinas no Camafeu e várias delas não tinham condições de arcar com despesas dos concursos fora da cidade. Foi quando surgiu a ideia de fundar a associação para conseguir recursos. Marina informou que um dos princípios de sua escola “é que ali ninguém é melhor que ninguém e todo mundo tem que trabalhar igual, independente da condição financeira”.
“Porque quem tem dinheiro pode ir e a quem não tem, não pode? Eu não quero que nenhum pai tire dinheiro do bolso para que elas (alunas) tenham que se deslocar para outras cidades. Quero que as bailarinas trabalhem, arrecadem dinheiro para a gente poder ir dançar, e desde então é assim que vamos fazendo”, ressaltou Marina.
Em 10 de outubro de 1993, foi fundada a Associação dos Amigos do Camafeu. As próprias bailarinas buscaram os associados, que colaboram mensalmente até hoje, além das promoções que são realizadas para arrecadar ainda mais fundos.
A professora disse que grande parte das alunas de sua escola é composta por bolsistas, mas é contra divulgar nomes de alunos que dependem dessa ajuda. “Não preciso expor uma aluna para ser uma professora boazinha. Isso vai contra os meus princípios e tudo que vai contra o que eu aplico na minha escola. Conseguimos receber a verba municipal porque estamos dentro da lei”, pronunciou Marina indignada com os comentários dos últimos dias. Atualmente, o Grupo Camafeu é composto por pouco mais de 30% de bolsistas.
No início, a Associação recebia R$ 6 mil por ano, e depois passou a receber R$ 12 mil. Para cada gasto, há uma prestação de conta. “As pessoas pensam que é muito fácil o trabalho da Associação, mas ninguém sabe o tamanho da burocracia e da papelada que é realizada para a abertura de uma associação”, ponderou Gregolin.
Para terminar e por um fim aos rumores na cidade, Marina esclareceu: “A Escola de Bailado Marina Gregolin não tem nada a ver com Associação dos Amigos do Camafeu. O Grupo Camafeu tem uma associação que custeia as despesas para as bailarinas poderem representar a cidade. “Eu como professora não tenho nada a ver com a Associação, eu nem posso ser membro. Sou apenas a professora e bailarina do grupo e contribuo como qualquer outro associado, aliás, todas as despesas do espetáculo da minha escola são por minha conta e elas não colaboram financeiramente. Nós somos uma entidade municipal e recebemos apenas os R$ 12 mil. Outras entidades filantrópicas no município recebem também verbas estaduais e federais. Meu espetáculo tem três dias, e todos os domingos eu convido entidades como Apae, Casa dos Velhos e Casa do Menor como convidados especiais para assistir o espetáculo gratuitamente. Com certeza quem levantou essa polêmica pelo facebook não entende e não conhece o trabalho cultural feito pela escola”, finalizou Gregolin.
A tesoureira da Associação e mãe de uma das bailarinas do grupo, Crisleia Dalarme, ressaltou que o Camafeu há anos é campeão do Mapa Cultural Paulista, mas poucos valorizam isso. “Dracena tem que saber disso, o nome da cidade está sendo levado na arte para o Brasil inteiro, e muitos não possuem esse conhecimento. Agora pela segunda vez, o município será conhecido internacionalmente pela dança brasileira”.
Tatiana Manfré, contadora, associada e também mãe de uma das alunas do grupo, explicou que a associação não é uma entidade filantrópica de assistência social. “As bolsas que a Marina cede é da escola dela, o Camafeu não tem como finalidade dar aula para alguém de graça. Ela é uma organização da sociedade civil de interesse público perante o Ministério da Justiça, a fim de firmar termo de parceria com o poder público e obter repasses de recursos para o fomento destas atividades” enfatizou.
Para ela, o interesse público disso é desenvolver a cultura na região. “Cada entidade tem a sua finalidade específica. A cidade não é desenvolvida somente com a filantropia, mas com a Cultura também. Se colocar todos os que receberam pela filantropia, para a Cultura foi o mínimo”, destacou a contadora.
CONCURSO – O campeonato Your American Gran Prix (YAGP) apresenta os melhores futuros bailarinos de 9 a 19 anos de todas as partes do mundo, considerado o maior campeonato estudantil de ballet do mundo. As semifinais ocorrem no Brasill, França, Itália, México, Paraguai, Japão e em mais 12 cidades dos estados Unidos. Apenas os selecionados nessas etapas chegam a grande final, em Nova Iorque.
O grupo de dança Camafeu integra a Delegação Oficial dos bailarinos brasileiros selecionados na regional do YAGP Brasil em São Paulo. Eles irão representar o Brasil na final do YAGP, em Nova Iorque, de 10 a 16 de abril de 2015, na maior competição de dança do gênero no mundo e concorrem a bolsas de estudo na Europa e nos EUA. É a representação de Dracena e do Brasil no circuito internacional de dança em busca da profissionalização e desenvolvimento da cultura através da arte.