Geólogos australianos levantaram nesta terça-feira (17) a tentadora, porém controversa, hipótese de que a Antártida seria rica em diamantes.
Em um artigo publicado na revista Nature Communications, uma equipe de cientistas reportou a descoberta de kimberlito, uma rocha ígnea vulcânica que costuma conter diamantes, nas montanhas Príncipe Charles na Antártida oriental.
As amostras, coletadas no Monte Meredith, não revelaram a existência de diamantes e o estudo, que tinha como objetivo examinar a geologia da região e não suas possibilidades mineradoras, não previa quantificar esta pedra preciosa.
No entanto, a pesquisa indicou que a marca do mineral é idêntica a de outras encontradas em locais do mundo onde foram descobertos diamantes.
“As amostras são típicas em textura, mineralogia e geoquímica a kimberlito do Grupo 1 de localidades mais clássicas”, destacou o estudo chefiado por Greg Yaxley, da Universidade Nacional Australiana, em Canberra.
O kimberlito, uma rocha que poucas vezes é encontrada perto da superfície da Terra, formou-se, segundo se acredita, em grandes profundidades da crosta terrestre, onde as condições são adequadas para que se criem os diamantes – átomos de carbono cristalizados em formas reticulares sob alta pressão e temperatura.
O estudo sugeriu que o kimberlito foi empurrada para a superfície há 120 milhões de anos, quando os atuais África, Península Arábica, América do Sul, continente indiano, Austrália e Antártica formavam um supercontinente denominado Gondwana.
Afloramentos de kimberlito cobriam, então, o centro de Gondwana.
Segundo esta teoria, os continentes que o compunham se separaram em seguida, o que explicaria porque diamantes são encontrados em locais tão diversos e distantes, do Brasil até o sul da África e a Índia.
Mineração proibida
Por enquanto especialistas que não participaram do estudo se dividiram na questão de se a descoberta poderia desatar uma febre de diamantes que devastaria o último continente intocado do mundo.
Um tratado de proteção da Antártida, firmado em 1961 e atualizado com um protocolo ambiental em 1991, proíbe expressamente em seu artigo 7 “qualquer atividade relacionada com os recursos minerais”.
Este pacto de 1991 deverá ser revisto em 2048, 50 anos depois de sua ratificação ter entrado em vigor. O acordo já foi ratificado por 35 países.
Robert Larter, geofísico da British Antarctic Survey (BAS), um dos principais centros de estudos ambientais do mundo e que representa os interesses do Reino Unido na Antártica, disse que “o pressuposto padrão” é que o protocolo será mantido.
“Qualquer mudança demandaria um acordo da maioria das partes em uma conferência de revisão, incluindo três quartos dos países que foram Partes Consultivas do Tratado Antártico quando foi adotado o protocolo”, afirmou, em declarações à organização sem fins lucrativos Science Media Centre.
Para Teal Riley, geólogo do BAS, a descoberta do kimberlito “não é nada surpreendente”, visto que a geologia local no leste da Antártica revela crátons (pedaços de continentes estáveis por bilhões de anos), que são indícios da presença desta rocha.
“No entanto, mesmo entre os kimberlitos do Grupo 1, apenas 10% são economicamente viáveis, razão pela qual continua sendo um grande passo extrapolar esta última descoberta com alguma atividade de extração de diamantes na Antártica”, onde a extração seria mais difícil e mais cara.
Porém, Kevin Hughes, do grupo internacional Comitê Científico de Pesquisas Antárticas (SCAR), foi mais cauteloso.
Segundo ele, dentro de mais três décadas, “não sabemos o que pensarão as partes do tratado sobre a mineração. Ou quais tecnologias poderiam existir que tornem economicamente viável a extração de minerais na Antártida”, disse.
“Uma questão adicional é que os países fora do protocolo não são obrigados a cumprir com suas disposições, inclusive a proibição de atividades relacionadas com os recursos minerais”, destacou.
O kimberlito ganhou o nome da cidade de Kimberley, na África do Sul, que surgiu por causa da febre dos diamantes. Em 1871, um cozinheiro encontrou uma enorme pedra em uma fazenda e em um ano, 50.000 garimpeiros foram para lá, cavando obsessivamente e morando em barracas improvisadas.