As plantações de coca no Peru avançam em direção à fronteira com o Amazonas, e a Polícia Federal, no Brasil, mudou sua estratégia. Em vez de derrubar as plantas, o foco agora são os laboratórios de refino de cocaína.

A Operação Trapézio 3, em andamento desde o dia 13 pela Polícia Federal em conjunto com a polícia do país vizinho, já destruiu 24 desses laboratórios próximos ao município de Tabatinga (AM) e apreendeu mais de 70 toneladas de produtos químicos usados na produção da droga.

“Comparando com uma guerra, é melhor destruir as fábricas de munição do que prender soldados. Compensa muito mais”, afirma o delegado da PF Mauro Sposito, que coordena a operação.

Segundo a polícia, destruir os laboratórios, que ficavam a cerca de 1 km da fronteira com o Brasil, significa atrasar o trabalho dos traficantes por três ou quatro meses. A meta da PF é destruir ao menos mais 20 desses locais. Cada laboratório produz, em média, 50 kg de pasta de cocaína por mês.

Em 2011, a PF realizou a primeira operação Trapézio, cuja meta era a erradicação dos pés de coca. “Erradicamos 90 hectares de coca, mas estimamos que ficaram, de pé, 10 mil hectares”, afirma o delegado. “A dificuldade para arrancar as plantas é grande. Além disso, você arranca e eles plantam de novo. Perde-se muito tempo.”

Nessa operação de cooperação entre os dois países, a Polícia Federal atua com logística e inteligência. Os brasileiros, desde o início do ano, investigaram e mapearam os pontos de refino de cocaína e repassaram as informações à polícia peruana. Em solo estrangeiro, os policiais brasileiros somente observam enquanto os peruanos destroem e apreendem o material.

TIPO EXPORTAÇÃO

Segundo estudo divulgado nesta terça-feira pela Organização das Nações Unidas (ONU), nenhuma região do Peru multiplicou tanto sua produção de coca como na fronteira com o Estado do Amazonas.

Em 2011, eram 1.700 hectares de plantação; no ano passado deu um salto de 73% e chegou a 2.900 hectares. Em relação a 2008, o crescimento da área plantada nessa região é de 471%. A Polícia Federal, porém, estima que esses números sejam modestos.

“Nós calculamos que há mais de 10 mil hectares de plantação de coca na fronteira do Peru com o Brasil”, afirma Sposito. “Até 2004 não existia um pé de coca na fronteira. Essa droga não tem outro destino que não seja o Brasil”, disse o delegado.

Outra dificuldade, segundo a PF, é a mudança no método de refino da cocaína. “Eles descobriram outro método que dispensa o período de secagem da folha da coca. Agora levam as folhas ainda verdes para fazer o processo, o que agiliza toda a cadeia”, afirma Sposito.