O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) voltou a rebater as críticas da cúpula do PSDB à sua atuação nas investigações do caso Siemens e disse que estão querendo transformar “quem cumpre a lei em réu”.
“Acho lamentável que queiram transformar quem cumpre a lei em réu apenas pelo fato de que existe uma investigação, que obviamente existe desde 2008. A maior parte dos países em que houve esse escândalo já investigou, já puniu pessoas envolvidas, o Brasil ainda caminha lentamente”, disse.
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Sem citar nomes, Cardozo também disse que algumas pessoas parecem não querer que as investigações avancem. Apesar disso, destacou que o Ministério da Justiça e a Polícia Federal seguirão trabalhando no caso.
“Querem criar uma situação contra quem cumpre a lei e acusar para afastar, para tirar o foco de uma investigação séria. E se alguém pensa que vai intimidar o Ministério da Justiça, a Polícia Federal, vamos continuar cumprindo, como eu cumpro, a lei que determina investigação criteriosa, imparcial”.
O ministro ainda negou que sua atuação no caso viesse a criar fatos políticos para antecipar o embate eleitoral de 2014. Segundo ele, no passado existiram autoridades que engavetavam investigações, coisa que não fará. “E esse meu papel e de qualquer ministro da Justiça que não quer ser um engavetador como no passado já houve (…) pedi à Polícia Federal que apurasse, recebi uma denuncia e pedi que avaliasse, nada mais do que isso. Há pessoas que parece que não querem investigar, que querem descontar as coisas”, pontuou.
Sergio Lima-17.jun.13/Folhapress | ||
O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) lamenta que investigação tenha se transformado numa disputa política e eleitoral |
CORRUPÇÃO
As acusações contra políticos tucanos vieram a público após a divulgação de uma suposta denúncia do ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer que foi parar nas mãos da Polícia Federal. Nesse documento, inicialmente atribuído ao ex-diretor, era apontada a “existência de um forte esquema de corrupção no Estado de São Paulo durante os governos [Mário] Covas, [Geraldo] Alckmin e [José] Serra, e que tinha como objetivo principal o abastecimento do caixa 2 do PSDB e do DEM”.
Rheinheimer negou posteriormente a autoria da denúncia. O documento que está sendo analisado pela PF diz que o secretário do governo Alckmin Edson Aparecido (Casa Civil) recebeu propina do lobista Arthur Teixeira, acusado de intermediar o pagamento de comissões de empresas que atuam no mercado de trens. São citados na denúncia como pessoas próximas do lobista mais três secretários de Alckmin: José Aníbal (Energia), Jurandir Fernandes (Transportes Metropolitanos) e Rodrigo Garcia (Desenvolvimento Econômico), do DEM. O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) também era mencionado como pessoa próxima a Arthur.
Embora um delegado da Polícia Federal tenha escrito, em memorando, que recebeu as acusações do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), o ministro da Justiça afirmou depois que obteve o depoimento das mãos do secretário de Serviços da Prefeitura de São Paulo, o também petista Simão Pedro. Para Cardozo, foi um “equívoco” da PF.
O órgão responsável pela defesa da concorrência, que investiga o cartel no mercado de trens denunciado pela Siemens, tem como presidente Vinicius Carvalho, que foi chefe de gabinete de Simão Pedro e que escondeu essa informação do seu currículo. O ministro nega qualquer tentativa de proteger o Cade.
“Não há blindagem nenhuma. Não haveria motivo tanto esforço do ministro para blindar o que não precisa de blindagem. Se o Cade tivesse recebido, teria repassado à polícia”, afirmou Cardozo.
Segundo disse o ministro na terça, Pedro foi acompanhado de um assessor à casa dele em São Paulo numa manhã de domingo. Na ocasião, em meados maio, Cardozo recebeu um conjunto de documentos e repassou pessoalmente ao chefe da Polícia Federal para que a papelada fosse analisada. “Não vou mandar pelos escaninhos do MJ. Não que não confie nos funcionários, mas são muitas mãos. A tramitação oficial foi feita na PF”, justificou.
Editoria de Arte/Folhapress | ||